Eleições

Lula só entendeu a eleição atual a poucos dias do 2º turno

Ele assumiu custos ao resistir mergulhar no digital e na pauta religiosa, mas acertou ao insistir em economia

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Desde 1989, Luiz Inácio Lula da Silva disputou, pessoalmente, cinco eleições ?esta é a sexta. Lula estava desde 2006 sem percorrer o país como candidato. Em 2010 participou ativamente da disputa de sua sucessora, Dilma Rousseff, mas mesmo assim, lá se vão 12 anos. E de lá para cá, o processo eleitoral passou por uma revolução que Lula só conseguiu compreender a poucos dias do final do segundo turno.
 
Digital, um mundo desconhecido
 
O ex-presidente, de 77 anos, admitiu em uma entrevista recente: "Eu sou analógico". Contou em um evento de campanha que sequer tem celular. "Uso o dos outros". A falta de atualização do petista e de parte de sua equipe com poder de decisão teve impacto negativo no desempenho da candidatura: demora para responder aos ataques virtuais dos adversários, que se dão em forma de narrativas verdadeiras, de fakenews ou de memes pejorativos; e comprometimento da capilaridade de seu próprio conteúdo, uma vez que teve dificuldades em viralizar suas mensagens.
 
Mas nada disso foi surpresa.  Logo após a vitória do presidente Jair Bolsonaro, em 2018, e consequentemente da derrota do então candidato à Presidência, Fernando Haddad, o PT, aturdido com o que viu nas urnas, refletiu se deveria ou não profissionalizar as redes, incluindo procurar ajuda em países estrangeiros de especialistas em estratégias de comunicação pelas redes a fim de criar uma estrutura robusta para este pleito e também para o futuro do partido. Houve muita discussão e a decisão foi a de não aderir a esta prática.

Acostumado às campanhas tradicionais, o petista levou atos de rua para internet | Yuri Murakami/Estadão Conteúdo

Outra opção deliberada foi a de manter, também nas redes sociais, o ex-presidente inserido em uma atmosfera de estadista, de "melhor presidente do Brasil", e não de um candidato. Segundo uma fonte da campanha, Lula tem uma biografia a zelar e isso é mais importante do que a própria vitória. Em meados do primeiro turno, especialmente com a adesão do deputado federal André Janones (Avante - MG), houve essa discussão. O parlamentar, que é o principal craque da campanha em decifrar algoritmos e mentes dos "tios de zap", lutava por uma estética mais "feinha". Duas semanas depois do susto com o resultado do primeiro turno (48% a 43%), durante uma reunião com militantes que atuam nas redes sociais, Janones pontuou como deveria ser feito o trabalho. Entre os destaques, falou sobre aderir ou não à linguagem visual do universo digital.

"Estética ou entrega? Quando você tem uma estética aprimorada a rede não entrega. Tudo que é tosco, que tem essa comunicação mais ?feinha? a rede entrega bem. É isso que a gente tem que discutir: o que a gente quer? A estética bonita ou a entrega?"

A opção foi a de manter tudo bonito, poético e cinematográfico. Mas Janones obteve vitória parcial em seu pleito: assumiu a missão de postar conteúdos alarmistas, tremidos, sem foco. Sob medida para se espalharem.
 
Somente a 12 dias da disputa do segundo turno Lula mergulhou no mundo dos podcasts, raia em que o presidente Jair Bolsonaro corria praticamente sozinho. Parte dos estrategistas do petista defendiam que ele concedesse entrevista ao Flow Podcast, um dos canais mais relevantes da atualidade, com quase cinco milhões de inscritos e capaz de impactar público de "fora da bolha" da esquerda. Mas outra parcela dos assistentes discordava veementemente. Havia a preocupação de que Lula tivesse menos audiência que o adversário, até então recordista de espectadores simultâneos, com 550 mil. Lula só confirmou presença na noite da véspera. A entrevista ocorreu no dia 18 de outubro e dobrou a marca do adversário. Gostou tanto que no dia seguinte deu a ordem à sua equipe: queria participar de mais podcasts até 30 de outubro. 
 
Política e religião abraçadas nas urnas

Lula repetiu dezenas de vezes não achar correto misturar política com religião. "Brigou" com as pesquisas de intenção de votos e resistiu em nome do que acreditava ser o certo.

Mas os resultados das urnas falaram mais alto e Lula entendeu que ao longo desses anos em que esteve afastado, o conjunto de elementos que influenciam no processo decisório do eleitor passam sim pela religião e pela pauta de costumes. Os temas chegaram com força total em 2018 e permanecem ainda mais vibrantes em 2022. Ele acabou convencido a escrever uma carta aos evangélicos, comprometendo-se a não fechar igrejas, a não se meter em pauta sobre aborto, a proteger a família e manter os jovens longe das drogas, a defender que os valores das famílias são soberanos e devem ser respeitados nas escolas.
 
Lula assinou a tal carta, mas recusou-se a lê-la publicamente. Delegou a tarefa a seu ex-ministro Gilberto Carvalho e ficou sentado, ouvindo a leitura diante de uma plateia de cerca de 200 pastores. Embora fosse visível o desconforto do ex-presidente, cristãos com Lula comemoraram o gesto.
 
A boa e velha economia de sempre 
Desde o começo da campanha, Lula apostou todas as fichas na discussão sobre economia. Mas não do jeito que o mercado e os empresários queriam. Exigiam que ele fosse revelada, por exemplo, qual âncora fiscal poderá substituir o teto gastos, além de nomes de uma eventual equipe econômica. Perante um candidato silente, disseram que Lula estava querendo um "cheque em branco". O petista passou a campanha toda argumentando que seus dois mandatos na Presidência da República (entre 2003 e 2010) já falavam por si. Nem mesmo em uma carta direcionada a este público houve detalhamento de planos. Foi apenas um condensado no papel das promessas feitas ao longo dos meses.
 
Mas em todos os dias de campanha Lula  prometeu melhorar a condição de vida da população, que sofre com a inflação, o desemprego e a fome. Pautas sobre as quais O candidato fala desde quando disputou a Presidência em 1989 e que continuam absolutamente atuais.

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