Eleições

Bolsonaro em busca da virada rende-se à campanha tradicional no segundo turno

Os mais de 50 milhões de seguidores não foram suficiente para o candidato na primeira fase da disputa

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O presidente Jair Bolsonaro encerra a campanha de 2022 acreditando que os encontros que ele fez durante as últimas semanas com governadores, prefeitos e vereadores de todas as regiões do país vão garantir mais quatro anos de mandato. O candidato do PL tem 54 milhões de seguidores em redes sociais - se somadas todas as plataformas em que Bolsonaro está conectado - o que não foi suficiente para que ele chegasse a frente do ex-presidente Lula na disputa de primeiro turno.
 
Por isso, assim que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou, em 02 de outubro, que Lula obteve 48% dos votos válidos e Bolsonaro 43% o presidente começou uma peregrinação em busca de apoios fazendo costuras políticas o que até então não tinha sido uma prioridade.
 
A segunda-feira pós-eleição foi de muitas reuniões e acordos. O presidente procurou logo o governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema, que depois de garantir a própria vitória comprometeu-se em trabalhar dia e noite pela reeleição e chegou a dizer que é "ptfóbico". 
 
As críticas ácidas contra o Partido dos Trabalhadores só foram feitas depois que o resultado das urnas no Estado já estava sacramentado porque Zema foi reeleito contando com o apoio de quem votou em Lula para a presidência na dobradinha que ficou conhecida como "Luzema".
 
Empresários mineiros reclamaram da postura do governador do Novo que, segundo eles, foi egoísta ao resistir em dar palanque a Bolsonaro na primeira fase da disputa. No entanto, numa campanha tão curta com menos de 30 dias para reverter o resultado não há espaço para mágoas e já na primeira semana empresários e políticos juntaram-se para distribuir material de campanha com o rosto de Bolsonaro pelas cidades mineiras. 
 
Zema assegurou ao candidato do PL que dos mais de 800 prefeitos do segundo maior colégio eleitoral do país pelo menos 600 estavam dispostos a fazer campanha na rua para virar voto. O presidente fez questão de voltar a Juiz de Fora onde ele começou os compromissos em busca da reeleição em agosto. O município é simbólico porque foi na cidade da Zona da Mata que Bolsonaro levou a facada que mudou a história da eleição de 2018. 

O presidente Jair Bolsonaro em ato de campanha em Minas Gerais | Giazi Cavalcante/Estadão Conteúdo

Em 18 de outubro, doze dias antes do voto em segundo turno, o mandatário voltou à cidade onde ele teve no primeiro turno 38,41% da preferência do eleitorado. Lula conseguiu quarenta e cinco mil votos a mais. Na expectativa de tirar essa diferença, Bolsonaro reuniu a militância no mesmo local onde foi ferido há quatro anos e lá estava Maria de Fátima Emanja. 
 
A aposentada de 65 anos mora em Visconde de Rio Branco - cidade que fica a duas horas de Juiz de Fora. Ela saiu de casa naquela terça-feira ainda pela manhã para garantir que chegaria a tempo de ver o presidente da República. Para ela, Bolsonaro é o único que consegue fazer contraponto ao PT e a Lula.
 
Ela reconhece que viajou mais de cem quilômetros a pedido do prefeito do município, Fábio Antonucci Filho, do Avante. O gestor ajudou a organizar a militância que participou do comício em Juiz de Fora. Maria de Fátima voltou pra casa prometendo até 30 de outubro conseguir um voto a mais por dia para o candidato à reeleição. Para isso, a aposentada citou quais os argumentos que ela considera fundamentais para fazer o eleitor de Lula trocar de candidato. "Nós somos contra a ideologia de gênero. Nós não podemos aceitar que menina pode entrar no banheiro de menino, né" exclama a militante.
 
 A mineira ainda demonstra irritação com os vídeos e declarações feitas por Lula sobre todo mundo voltar a poder comer picanha e tomar "cervejinha" no fim de semana. A aposentada rebate e diz que ela e o marido conseguem comer picanha aos sábados e domingos e sugere que essa é uma possibilidade para todos no país desde que as pessoas estejam dispostas a trabalhar dobrado. 
 
Os eleitores de Bolsonaro travaram um duelo com as estatísticas oficiais e durante a campanha engrossaram o coro para rebater críticas sobre os problemas econômicos, como a alta nos preços.
 
Depois da pressão do presidente, que demitiu dois presidentes da Petrobras entre o início do ano e julho, houve redução no preço dos combustíveis por parte da companhia e isso colaborou com a deflação registrada nos últimos três meses. 
 
No entanto, no acumulado do ano o indicador prévio de inflação acumula alta de 6,85% em 12 meses, de acordo com IBGE. Alta, porém mais baixa que outras economias desenvolvidas. Em setembro, os Estados Unidos registraram uma inflação de 8,3%, no acumulado de 12 meses.
 
Beatriz Leal, apoiadora do presidente, mora no Rio de Janeiro, berço político de Bolsonaro, e minimiza os dados: "Bolsonaro conseguiu dar um rumo ao nosso Brasil. Hoje em dia cada um tem condições para levantar as mangas e trabalhar!"   
 
A militância dá visibilidade e ação nas ruas ao discurso de ministros e assessores do governo. Ciro Nogueira, da Casa Civil, por exemplo, defende que o Brasil está avançando com várias conquistas na área econômica e que se não fosse a gestão de Bolsonaro em meio à guerra da Ucrânia a situação da população mais pobre poderia ser pior do que a registrada.
 
Na campanha, o presidente também rebateu as acusações de que não criou relação com as prefeituras e afirmou que recebeu no segundo turno apoio até de prefeitos ligados aos partidos de esquerda. "Recebi o apoio da maioria dos governadores, prefeitos até de esquerda têm chegado porque eles sabem a importância". 
 
Ao longo dos últimos quatro anos, Bolsonaro foi eficaz em se comunicar com a militância do grupo ideológico e, apesar das crises na gestão da pandemia e econômica, chegou competitivo na eleição graças a força e o conteúdo que o presidente e assessores sempre mantiveram no Instagram, Facebook, twitter e outras plataformas.
 
Mas, diferentemente do que aconteceu em 2018 quando o eleitor moderado deu um voto de confiança ao parlamentar que por 28 anos teve mandato no Congresso Nacional, agora, o mandatário enfrenta a eleição sem ser considerado uma novidade ou um "outsider" como os analistas o classificaram há quatro anos. 
 
A principal dificuldade do candidato é encarar o ônus de ser governo. O presidente conseguiu apoio do Congresso para irrigar a economia com mais de R$ 40 bilhões de reais com o aumento no valor das parcelas do auxílio Brasil, para subsidiar os combustíveis de taxistas e motoristas de aplicativos e manteve a base mobilizada.
 
Por isso a campanha acredita que o presidente conseguirá mudar o resultado e chegar a frente de Lula no segundo turno. Se isso acontecer, será uma virada que nunca aconteceu desde a redemocratização, quando o país voltou a ter eleição para escolher o titular do Palácio do Planalto.
 
E, diante de um segundo mandato, a preocupação de Bolsonaro também não poderá ser só com a bolha, como é designada a audiência bolsonarista nas redes.

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