Ao menos 26 inserções na rádio e na TV foram removidas desde o 1º turno
Dos pedidos atendidos pelo TSE, 20 são da campanha de Lula; seis são de Bolsonaro
Desde o primeiro turno das eleições de 2022, realizado no dia 2 de outubro, ao menos 26 inserções na rádio ou na TV dos candidatos à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) foram retiradas do ar pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Destas, 20 foram removidas a pedido da Coligação Brasil da Esperança, do candidato petista. Outras 6 foram resultado de solicitações feitas pela Coligação Pelo Bem do Brasil, do candidato à reeleição.
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Com o acirramento da corrida presidencial, os candidatos têm subido cada vez mais o tom de suas propagandas e focado mais em acusações e menos em propostas. O resultado da troca de ataques é uma campanha que afasta o eleitor do debate nacional e reforça o clima tensionado pela maior polarização da história do país.
Em uma das peças removidas, Jair Bolsonaro afirma que Lula não é inocente, atribuindo-lhe as expressões 'corrupto' e 'ladrão'. Já em uma propaganda do PT, também retirada a pedido do TSE, foi usado o termo 'milicianos' para se referir à família do atual presidente. Para os ministros relatores das decisões, a veiculação de ofensas pessoais "desbordam da crítica política".
"A democracia sofre muito com esse empobrecimento do debate público, porque perdemos propostas para o projeto do país e gastamos mais tempo com debates lindeiros, discutindo coisas pessoais", afirma o cientista político Fábio Vidal, da Universidade de Brasília (UnB). "Todos nós perdemos com isso, porque perdemos a chance de ter uma clareza do que o candidato fará para o país caso seja eleito", acrescenta.
Direitos de resposta
O TSE Formou maioria neste sábado (22.out) para manter os direitos de resposta de Lula contra as propagandas da campanha de Bolsonaro que o associam a criminosos e afirmam que o petista venceu o primeiro turno com ampla vantagem nos presídios brasileiros. De acordo com a Corte, na TV, a campanha de Bolsonaro veiculou fatos comprovadamente inverídicos contra o ex-presidente.
Agora, as 116 respostas concedidas para Lula deverão ser exibidas pela campanha de Bolsonaro durante as inserções a que o candidato do PL tem direito na televisão, em tempo igual aos das ofensas.
"Durante uma campanha, o que move a disputa eleitoral é chegar na frente. E para conseguir esse pleito, é preciso estar o tempo todo usando artifícios para se colocar cada vez mais próximo da vitória. Então é natural que os discursos e ações tendam a reagir ao outro candidato. Se alguém emite um efeito, o outro vai tentar responder e, assim, a arena vai se tornando cada vez mais conflituosa. É isso o que nós estamos assistindo hoje", explica Vidal.
No vídeo de Bolsonaro que motivou o pedido de direitos de resposta por parte da campanha de Lula, há um trecho de cerca de 30 segundos em que são mostrados dados de votações em unidades prisionais. O programa diz que Lula seria "escolhido pelos criminosos" do Brasil uma vez que teria 98% dos votos no presídio de Tremembé em São Paulo, além de 90% dos votos de presos da Paraíba. Para a maioria dos ministros do TSE, o conteúdo veiculado "se trata de desinformação".
Confronto direto
Para o cientista político Tiago Valenciano, da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), o cenário está relativamente pior do que em pleitos anteriores. Em outras disputas presidenciais do segundo turno, ele lembra, os candidatos já faziam ataques, mas estes, muitas vezes, eram feitos em inserções veladas ao longo da programação.
"Neste ano, praticamente todo o programa eleitoral de cada candidato está destinado aos ataques pessoais", diz. "O tom foi elevado do primeiro para o segundo turno: mais confronto direto, mais ameaças, a narrativa foi readequada de acordo com o espectador imaginado por cada um dos candidatos. Inclusive, os debates e as entrevistas contribuíram para isso. Resultado: um segundo turno com os nomes de cada um dos oponentes dito diretamente, sem ressalvas", pontua Valenciano.