Eleições

QG de campanha de Bolsonaro foca em "Datapovo"

Estratégia é buscar referência de manifestações populares e deixar o Brasil "real" para o 2º turno

O presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve em Curitiba para o primeiro compromisso de campanha no estado, que foi palco da operação Lava-Jato, no fim do mês de agosto. Naquele momento, o período para pedir voto tinha começado oficialmente havia 15 dias. Um trio elétrico foi colocado no calçadão do centro da capital paranaense no local conhecido como "Boca Maldita". Como ocorreu na maioria das agendas de campanha, antes dos comícios, sempre havia uma motociata para que o mandatário pudesse chegar triunfante no local onde estava marcada a concentração da militância.

Naquela tarde fria (os termômetros marcavam 10 graus), no entanto, o candidato do PL chegou ao calçadão e ficou incomodado com as grades colocadas no entorno do trio elétrico, que afastaram o público e deixaram espaços vazios. O incômodo de Bolsonaro tinha um motivo: as imagens que rodariam as redes sociais bolsonaristas poderiam dar ideia de que havia pouca gente no ato. Por isso, assim que o candidato chegou, agentes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), que passaram horas colocando as grades para poder controlar quem chegava perto do trio, tiveram que retirar todo o esquema montado para garantir a segurança do presidente e deixar o acesso livre para que a militância pudesse ficar mais perto do candidato.

Com a retirada, Bolsonaro havia garantido boas imagens junto aos apoiadores mesmo sem lotar a área montada para o comício. O cuidado da equipe de Bolsonaro era sempre o mesmo: um ângulo que favorecesse o candidato do PL e que desse ideia de "multidão". Em poucos minutos, mesmo antes do fim dos atos, as imagens já estavam sendo propagadas nas redes oficiais do candidato à reeleição e de seus aliados. Para Bolsonaro, essa foi a forma encontrada para demonstrar que seguia forte na terra de Sérgio Moro, o ex-juiz e ex-ministro do governo, que acabou rifado pelo presidente em 2020.

Após a saída de Moro, Bolsonaro enfrentou cobranças e crise porque o ex-juiz era tido pela base ideológica do presidente como um símbolo do combate à corrupção. No discurso durante a passagem por Curitiba, o mandatário subiu o tom contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou que naquela semana a Petrobras reduziria novamente a gasolina e citou a pauta de costumes contra o aborto e a legalização das drogas. Enquanto o mandatário discursava pela primeira vez na região Sul do país, seu Luis Antônio Ribeiro, de 67 anos, que votou em Bolsonaro há quatro anos, reclamava na porta de um bar do valor do salário mínimo por causa da falta de um aumento real. São quase 4 anos sem reajuste real.

Do alto do trio, o presidente também desafiou o candidato do PT a tentar aglutinar público para um ato parecido com o dele, na cidade onde Lula ficou preso por 580 dias. Duas semanas depois, o ex-presidente fez comício no mesmo local de Bolsonaro sem precisar se preocupar com as grades que deixavam espaços vazios.

Do Sul ao Nordeste

As imagens e o número de pessoas que Bolsonaro conseguiu mobilizar nas agendas durante os mais de 40 dias de viagens pelo país foi uma espécie de obsessão durante todo o primeiro turno. Por isso aliados avaliavam que seria importante levar o candidato à reeleição a terra natal do principal adversário: Guaranhuns, no interior de Pernambuco, onde Lula nasceu.

Coube ao ex-ministro do Turismo, Gilson Machado (PL), que está concorrendo ao Senado, organizar caranavas de município do Agreste para apoiarem o ato de Bolsonaro no município com 140 mil habitantes e onde Bolsonaro teve uma das mais duras derrotas em 2018, quando o atual chefe do Executivo recebeu 27,8% dos votos, contra R$ 72,2% do petista Fernando Haddad, no segundo turno.

Em Guaranhuns, no interior de Pernambuco, mesmo não sendo maioria, os bolsonaristas aguerridos garantiram ao presidente mais uma imagem que ele pôde propagar nas redes socias. Em poucas horas, a militância começou a mandar em grupos os vídeos com a região central da cidade lotada de apoiadores vestindo verde e amarelo.

As imagens das ruas na cidade natal de Lula se propagaram facilmente, mas o candidato à reeleição seguia com um problema naquele 17 de setembro, a menos de 15 dias do primeiro turno do pleito, o pagamento turbinado do Auxílio Brasil com parcelas de R$ 600 não teve o efeito esperado, de acordo com as pesquisas eleitorais. Bolsonaro seguia com dificuldade para conseguir o voto das pessoas que ganham entre 1 e 2 salários mínimos.

Reta final da campanha

De Pernambuco, Bolsonaro embarcou direto para agenda internacional e ficou cinco dias fora do Brasil em um roteiro que incluiu a Europa e os Estados Unidos. O tempo que o presidente esteve fora foi suficiente para assessores e ministros começarem a reconhecer que o governo demorou para agir em relação aos mais pobres. Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido que Bolsonaro se filiou em novembro de 2021, acreditava que o Auxílio Brasil seria a maior bandeira da campanha e reverteria o apoio do eleitor mais pobre. Faltando menos de duas semanas para o dia do voto, assessores e o QG de campanha encontraram o culpado para a dificuldade da melhora do desempenho do mandatário nas pesquisas: o ministro da Economia, Paulo Guedes.

O fato é que sem conseguir reagir nas pesquisas, a reta final da campanha à reeleição foi marcada pela volta do "Bolsonaro-raiz" de 2018. O coro para desqualificar as pesquisas aumentou nos últimos quinze dias antes do pleito, quando o presidente passou a dizer em entrevistas que se ele não sair vitorioso em 2 de outubro será por causa de uma manobra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A tática de desqualificar o processo eleitoral e colocar em dúvida a segurança das urnas não é uma novidade, mas é mais uma estratégia de Bolsonaro para manter a base ideológica mobilizada e chegar ao segundo turno para então tentar buscar o eleitor moderado que, por enquanto, ainda segue reticente sobre dar um segundo mandato ao candidato do PL.

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