Eleições

Saúde e economia foram destaques em debate com Lula e Alckmin em 2006

A jornalista Ana Paula Padrão, do SBT, fez a mediação

O SBT realiza neste sábado (24.set) -- às 18h15 --, em pool com os veículos CNNEstadão/EldoradoTerraVeja e Rádio Nova Brasil FM, um debate entre seis candidatos a presidente da República: Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União), Felipe D'Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB). Há 16 anos, antes do segundo turno das eleições, a emissora transmitiu um debate entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), que concorriam ao Palácio do Planalto naquele momento. O petista venceu o pleito de 2006.

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A jornalista Ana Paula Padrão fez a mediação do debate. "Nós do SBT consideramos tão importante este momento que decidimos cancelar a edição de hoje do telejornal SBT Brasil, que iria ao ar às 21h10, para ocupar o horário mais nobre desta emissora discutindo o futuro do Brasil. Os telespectadores e o jornalismo do SBT ganham com isto", afirmou a profissional no começo da transmissão. Agricultura, saúde e economia estiveram entre os assuntos abordados pelos políticos. No primeiro bloco, os candidatos falaram de suas propostas de governo a partir de quatro temas sorteados pela mediadora.

O primeiro foi agricultura. "É um dos pilares mais importantes do desenvolvimento do nosso país. O problema da agricultura é que de vez em quando a agricultura tem crises cíclicas, ou seja, às vezes vai dois anos bem, às vezes tem dois que não vai bem", iniciou Lula. Posteriormente, ele defendeu os feitos de sua gestão para a área, dizendo que fizeram "aquilo que um governo tem que fazer, na hora certa com a precisão que precisava ser feito", e citou algumas medidas específicas, como disponibilização de R$ 60 bilhões para a agronegócio e a agricultura familiar em 2006.

"A agricultura brasileira é uma coisa que nós precisamos cada vez mais investir mais, acreditar mais e acreditar que com os investimentos que nós estamos fazendo a agricultura brasileira, sobretudo depois da criação do seguro agrícola, não terá mais os problemas que tem quando tem intempéries", pontuou o petista também. Já Alckmin criticou a atuação do governo Lula na área: "A agricultura brasileira foi levada pela omissão do atual governo e pelo seu não entendimento da importância econômica e social da agricultura, a maior crise dos últimos 40 anos. Crise na produção de grãos, crise na questão dos juros, impostos elevados, infraestrutura e logística muito ruim, defesa sanitária que trouxe de volta a febre aftosa e newcastle". O petista rebateu: "O candidato Alckmin de vez em quando comete injustiças graves". Corrupção foi o segundo tema sorteado. Comentando, o tucano disse que "o governo precisa dar o exemplo para a sociedade" e que, no governo de então, a corrupção foi "endêmica" desde o início; relembrou casos como o escândalo do mensalão.

Na réplica, Lula afirmou que se os casos estavam aparecendo era porque o governo, "como em nenhum outro momento da história do país", estava apurando. De acordo com Alckmin, entretanto, não era verdade que a apuração estava sendo feita pelo Executivo. O terceiro tema abordado foi saúde. Lula destacou aumento de 56% no recurso para a área promovido pelo governo, entre outras medidas da gestão petista, como aumento de 57% no número de equipes responsáveis por saúde da família e implementação do Sistema de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Já de acordo com Alckmin, a saúde no país estava "muito mal". "Ela piorou no atual governo, nós retrocedemos. As Santas Casas estão quebradas, porque a tabela do SUS não é corrigida", acrescentou. Ele prometeu melhorar e corrigir a área, se eleito.

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Depois, Lula admitiu que "obviamente" ainda faltava "muito para melhorar", mas disse que para Alckmin não estava bom porque ele não usava "a saúde pública". O quarto e último tema sorteado foi segurança. "O problema é que por trás das questões de segurança existe o tráfico de droga. O Brasil não fabrica droga. Os governos estaduais prendem quarto escalão, quinto escalão da droga. O que nós temos é uma omissão do Governo Federal, que tem o dever da polícia de fronteira, com a polícia federal, Exército, Marinha, Aeronáutica, de combater o tráfico de droga e não o faz", atacou Alckmin. O tucano acusou a gestão de Lula de se omitir em relação ao contrabando de armas e disse que ela havia reduzido o fundo de segurança e o fundo penitenciário. Prometeu, para um eventual governo, não se omitir, criar o Ministério da Segurança Pública, descontingenciar os recursos dos fundos, chamar os 27 governadores para trabalharem juntos, combater a lavagem de dinheiro e alterar a legislação, a qual chamou de fraquinha com o crime organizado e dura com o pequenininho".

Lula, por sua vez, sugeriu que Alckmin possibilitaria o surgimento de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) em todo o país e destacou números registrados em seu governo, como aumento de 41% do efetivo da Polícia Federal (PF) e desmantelamento de 144 quadrilhas. No segundo e terceiro blocos do debate, os candidatos puderam indagar um ao outro sobre qualquer tema. O petista foi o primeiro a questionar. Após dizer que houve um desastre na educação em São Paulo na gestão de Alckmin, perguntou a ele qual era sua proposta para a área. O tucano defendeu sua gestão na educação no território paulista e prometeu trabalhar no Brasil, se eleito, para "melhorar muito, porque piorou". Conforme o político, 2,5 milhões de crianças estavam fora da escola no país, naquele momento, e havia crescido, no governo Lula, em 250 mil o número de criança em trabalho infantil. Outra promessa feita para um eventual governo foi de priorizar a creche.

Lula, novamente, relembrou feitos de seu governo. Desta vez, a construção de quatro universidades federais e a transformação de seis faculdades em universidades, entre outros. Segundo a perguntar, Alckmin quis ouvir de Lula em qual posição o Brasil estava em termos de desenvolvimento num ranking, publicado pela revista inglesa The Economist, com 27 países emergentes. "O candidato Alckmin é daqueles brasileiros que deu no New York Times, para ele vale, se não deu, não vale", atacou o petista. A fala fez integrantes da plateia, composta por convidados dos dois presidenciáveis, rirem. De acordo com o petista, nunca antes na história republicana do Brasil o país havia criado as condições para que pudesse "definitivamente ter um desenvolvimento sustentável num ciclo de longo prazo", o que seu governo fez. Alckmin, porém, criticou o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no anterior, de 2,3%, dizendo que era pequeno.

Ana Paula Padrão precisou interromper o debate em dois momentos. No primeiro, para pedir que os candidatos respeitassem o tempo de fala, após Alckmin e Lula desrespeitarem. "Eu vou pedir aos dois candidatos que se atenham ao tempo para que haja justiça no debate. É apenas esse o motivo. Vamos cumprir as regras", pontuou. Já no segundo momento, pediu para a plateia não se manifestar enquanto os presidenciáveis estivessem falando. "Por uma questão de respeito ao telespectador e aos candidatos que estão se manifestando", completou.

Ainda no debate, Lula exaltou o programa Luz para Todos; disse desejar que os bancos ganhassem dinheiro emprestando mais barato e que isso estava acontecendo; disse que a média salarial havia crescido no país em seu governo; e atacou Alckmin afirmando que fazia parte "de um tipo de gente que acha que investir em comida para o povo não é investir na saúde". Já Alckmin defendeu privatizações -- não tem nenhum problema, privatizar se for correto deve ser feito" --; prometeu cortar gastos do governo, diminuir impostos e reduzir o número de ministérios, se eleito; chamou Lula de "ótimo para mudar de nomes os programas"; pontuou que a taxa de juros real do Brasil era a maior do mundo, levando, assim, a uma quebra da indústria e da agricultura brasileiras; e afirmou que a qualidade do SUS estava piorando.

Importância do debate

Para o doutor em ciência política e professor de políticas públicas e ciência política da Universidade Federal do ABC (UFABC) Diego Corrêa, a principal importância de um debate com candidatos a presidente da República está relacionada com informação.

"Informar os eleitores e, portanto, vai afetar mais os eleitores que estão menos informados sobre os candidatos. Os candidatos, quando eles debatem na televisão, eles não vão falar nada diferente do que eles já vêm falando durante a campanha. Muita gente não vem acompanhando, muita gente prefere assistir o debate do que se informar de outra forma. Então é mais nesse sentido. Candidatos menos conhecidos se tornam mais conhecidos. Então, para aqueles candidatos que têm uma porcentagem menor de votos, participar de um debate é algo muito positivo. Os eleitores que não os conhecem passarão a conhecê-los e a considerá-los como opção nessa eleição, o que pode também alavancar a candidatura para o futuro", complementou.

De acordo com ele, no caso dos presidenciáveis menos conhecidos, participar do debate é menos uma estratégia para o pleito do respectivo ano, e mais para sua carreira no longo prazo. "Agora, para os candidatos mais conhecidos, poucas pessoas não estão informadas sobre eles, então um debate, por exemplo, que envolve o Lula e o Bolsonaro, que são os dois com maiores chances de vencer as eleições, nos eleitores vai apenas reforçar convicções", pontuou.

Ainda conforme o professor, "as pessoas tendem a definir o voto muito com base no desempenho anterior" dos políticos. Por isso em 2006, explica, "o Lula é claro que ele vai tentar convencer o eleitorado de que ele fez um bom governo e vai trazer muitos elementos para justificar isso". "Desempenho anterior é mais forte para definição do voto do que promessas, e os candidatos sabem disso. Então o Lula dizer que ele fez um bom governo e trazer informações a respeito para respaldar o que ele está dizendo e o Alckmin contradizer isso, dizer que foi um mal governo e trazer elementos que justifiquem essa opinião é a melhor estratégia, não só no debate, mas durante toda a campanha".

Quem votou no petista há 16 anos estava convencido de que seu primeiro governo foi positivo "e, ao assistir o debate, essa convicção foi reforçada", fala Corrêa. "A mesma coisa o Alckmin. Ele tentando se eleger em 2006, ele vai tentar, mais do que fazer promessa, atacar o desempenho do governo Lula, e as pessoas que votaram no Alckmin reforçaram as suas convicções ao assistir o que o tucano vinha dizendo".

Segundo o doutor em história e professor de história econômica no Insper Vinicius Müller, os candidatos a presidente abordarem temas ligados à economia em debates, como Lula e Alckmin fizeram no do SBT em 2006, é "muito importante" para o desempenho dos presidenciáveis na corrida ao Planalto. "A gente costuma falar que, no final das contas, as eleições são decididas pelos temas econômicos", pontuou. O motivo é o tamanho do impacto da economia na vida das pessoas.

Ele acrescenta que "era razoável que o Lula tinha bons resultados econômicos e naquele momento usasse as questões econômicas para debater com o então candidato Alckmin". Isso porque a gestão do petista criou uma estabilidade na economia brasileira, ao manter um modelo econômico que vinha sendo construído pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e houve "um crescimento muito grande da economia internacional". "Aquele era um bom momento da nossa participação na economia internacional, principalmente puxada essa nossa participação pelo avanço do agronegócio, da exportação agrícola. A China estava entrando de maneira muito agressiva no mercado internacional, comprando muita coisa, o que nos ajudou bastante".

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