Eleições

Teto de gastos foi destaque em debate com presidenciáveis em 2018; relembre

Educação, saúde e reforma trabalhista também se destacaram

O SBT realiza neste sábado (24.set) -- às 18h15 --, em pool com os veículos CNNEstadão/EldoradoTerraVeja e Rádio Nova Brasil FM, um debate entre seis candidatos a presidente da República: Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União), Felipe D'Avila (Novo) e Padre Kelmon (PTB). Nessa mesma época, há quatro anos, a emissora transmitiu um debate entre Guilherme Boulos (Psol), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Cabo Daciolo (Patriota), Álvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e Marina Silva (Rede), que concorriam ao Palácio do Planalto naquele momento. Jair Bolsonaro (PSL), que veio a ser eleito, não participou; ele havia sido esfaqueado em 6 de setembro.

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O jornalista Carlos Nascimento, do SBT, fez a mediação do debate. Educação, saúde, reforma trabalhista e teto de gastos estiveram entre os temas abordados pelos políticos. Boulos foi o primeiro a perguntar a um concorrente. "Alckmin, eu sou professor e dei aula durante o seu governo. Faltava giz na sala de aula, faltava papel higiênico no banheiro das escolas, professores desvalorizados. Até escola vocês quis fechar e os estudantes secundaristas não deixaram. O Ideb mostrou agora o resultado desastroso dessa política. Agora, o que eu e o Brasil todo queremos saber sobre essa questão, Alckmin, é cadê o dinheiro da merenda?", falou. Em sua resposta, o candidato do PSDB elogiou a rede de ensino técnico e tecnológico paulista, dizendo ser "a melhor" da América Latina, e negou ter fechado qualquer escola. Posteriormente, disse que foi sua gestão quem descobriu o problema envolvendo a merenda, por meio da Polícia Civil.

Ciro Gomes foi o segundo a perguntar, e direcionou a questão a Haddad: "Qual é sua proposta para o desenvolvimento regional?". O petista iniciou sua resposta afirmando que, dentre os ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, talvez tenha sido aquele que "mais andou pelo país" e o motivo foi ter levado, entre outras coisas, "universidades federais para 126 municípios do país, que não tinham oportunidade educacional". Também na resposta a Ciro, prometeu retomar obras "para o desenvolvimento acelerar", se fosse eleito.'

Daciolo, por sua vez, perguntou a Ciro o que fazer para o país melhorar a saúde -- em especial --, a educação, a infraestrutura e o saneamento. "O Brasil, cabo, precisa de um projeto nacional de desenvolvimento", pontuou o pedetista. Ainda de acordo com ele, as coisas estavam "descambando" no país desde 1980. "O Brasil perdeu o seu parque industrial de uma forma muito extensa e o Brasil anunciou com a Constituição de 88 uma profunda mudança institucional que não está sendo cumprida", completou. Ainda na resposta, defendeu a revogação do teto de gastos, criado no governo Michel Temer, e a criação de um fundo nacional de premiação das unidades de saúde que atingissem metas. Depois, Daciolo indagou a Ciro qual o motivo de o concorrente não ter ido a um hospital público quando necessitou de atendimento e o atacou, dizendo que no Ceará, do qual o pedetista foi governador, não houve qualquer mudança. "O meu estado, Cabo Daciolo, tem a menor mortalidade infantil do Brasil", rebateu o político do PDT.

Alckmin questionou Álvaro Dias sobre qual era sua proposta para a moradia. Ao respondê-lo, citou, como primeira medida para gerar emprego, o rompimento com o que chamou de "aparelhamento do Estado" em curso no país e defendeu a realização de uma reforma tributária "inteligente", que diminuísse o número de impostos. Já o tucano pontuou que a construção civil era "uma das maneiras mais rápidas de gerar emprego" e apresentou objetivo de construir 3 milhões de moradias para famílias de baixa renda no país. Diante da proposta do adversário, o integrante do Podemos propôs entregar a documentação de 5 milhões de imóveis irregulares, num eventual governo.

Haddad, que foi ao segundo turno contra Bolsonaro naquele ano, direcionou sua primeira pergunta a Marina Silva. Após prometer que a geração de empregos seria "obsessão" de um eventual governo  seu desde o primeiro dia, quis saber quais medidas a adversária adotaria, se eleita, para gerar emprego e se era favorável ao teto de gastos e á terceirização prevista na reforma trabalhista. Segundo Marina, a primeira medida seria "recuperar a credibilidade do Brasil", pois, afirmou, o país estava "no fundo do poço, em função da corrupção dos governos do PT, PMDB e PSDB". Ela disse não defender a "terceirização de atividade-meio" nem o teto de gastos "feito pelo Temer".

Outro a falar sobre o teto foi Daciolo. Após defender o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), prometeu revogá-lo, assim como a reforma trabalhista de 2017, se eleito. Boulos, no debate, prometeu fazer um referendo, no primeiro dia de um eventual governo, para revogar a reforma trabalhista, a reforma do Ensino Médio promovida pelo governo Temer e o teto de gastos. O político do Psol disse que defendia "a participação popular antes de tudo porque esse sistema político está podre". "O sistema político brasileiro é o do toma lá, dá cá", acrescentou. Ainda conforme ele, se eleito, levaria questões como a legalização do uso recreativo de drogas a plebiscito, em um eventual governo. "A política de drogas no Brasil, que é uma guerra às drogas, é uma insanidade", pontuou.

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Bolsonaro foi citado em quatro momentos. Respondendo pergunta feita pela repórter Débora Bergamasco, do SBT, sobre se uma eventual gestão sua teria integrantes do PT em cargos de confiança e ministérios, afirmou que preferia governar sem o PT porque naquele momento a sigla representava "uma coisa muito grave para o país" em decorrência de ter e transformado "numa estrutura de poder odienta, que acabou criando o Bolsonaro, essa aberração". De acordo com Ciro, o conflito entre o Partido dos Trabalhadores e Bolsonaro levaria o Brasil "para o fundo do poço". A proposta do pedetista era que metade dos cargos de auxiliares seus fossem ocupados pro mulheres, e todos, por pessoas com excelência técnica e compromissadas "com a decência".

Alckmin se referiu a Bolsonaro como representante do que "há de mais atrasado na política brasileira". Álvaro Dias afirmou que não era "possível" que a nação desejasse ver "esse confronto entre a extrema-esquerda [PT] e a extrema-direita [Bolsonaro], dispensando a experiência administrativa, a competência, a honestidade". Já Boulos criticou o adversário ausente por, segundo o integrante do Psol, achar que as mulheres tinham direito de mais.

Daciolo prometeu, se eleito, fazer com que 50% dos cargos do governo fossem ocupados por mulheres e com o mesmo salário dos homens. Encerrou sua fala sobre o tema falando "glória a Deus", o que levou integrantes da plateia a comemorarem e Boulos a  pontuar: "A gente já estava com saudade de você aqui no debate" - fazendo a plateia a rir. Ainda no evento, o político do Patriota elogiou a democracia, afirmando ser "uma delícia" e "muito boa mesmo"; se posicionou favoravelmente a ao Fies, Prouni, Bolsa Família e às cotas étnico-raciais e de gênero; falou que não realizaria uma reforma da previdência, se eleito; defendeu a implementação do voto impresso no Brasil, "porque há fraude nas urnas eletrônicas"; e acusou Meirelles de ter feito, como presidente do Banco Central, o Brasil ficar "quatro vezes mais" endividado. 

"O senhor e os banqueiros do Brasil ficam roubando a nação e matando o nosso povo, só que isso vai mudar. E eu acredito, para a honra e glória do senhor Jesus, que num futuro bem próximo o senhor e muitos outros vão começar a aceitar o senhor Jesus como libertador e salvador da vida e vão começar a tratar o próximo da maneira que gostaria de ser tratado", falou a Meirelles. "Se você continuar querendo ser candidato nas próximas eleições, vai ter que estudar um pouco mais", rebateu o integrante do MDB. Este disse também que "nunca foi banqueiro"; afirmou que havia enfrentado, como ministro da Fazenda, "o problema dos empréstimos do Tesouro ao BNDES de frente, ao contrário de muita gente que só conversa"; e prometeu conduzir "uma política econômica adequada", se eleito, como primeira medida em prol da Educação Superior do Brasil.

Marina prometeu criar uma poupança para o jovem chegar ao final do Ensino Médio com cerca de R$ 3,7 mil e, assim, evitar a evasão escolar; apresentou proposta para abrir vagas de creches; e chamou os fundos partidário e eleitoral de "exagerados". Haddad defendeu Lula, falando que estava preso "injustamente"; acusou Ciro de lhe demonizar; elogiou os governos do PT, falando terem sido o que mais geraram "oportunidades" no país; e declarou que, se eleito, inverteria lógica em curso de que "o pobre paga mais muito imposto e o rico praticamente não paga" e promoveria uma "reforma bancária". Álvaro Dias apresentou proposta para abertura de vagas de creches também. Boulos defendeu a desmilitarização das polícias e falou que havia um "genocídio dos jovens negros nas periferias". Ciro propôs levar escola em tempo integral para toda a juventude do Fundamental II ao Ensino Médio e prometeu implementar estágio remunerado para estudantes deste.

Importância do debate

Para o doutor em ciência política e professor de políticas públicas e ciência política da Universidade Federal do ABC (UFABC) Diego Corrêa, a principal importância de um debate com candidatos a presidente da República está relacionada com informação.

"Informar os eleitores e, portanto, vai afetar mais os eleitores que estão menos informados sobre os candidatos. Os candidatos, quando eles debatem na televisão, eles não vão falar nada diferente do que eles já vêm falando durante a campanha. Muita gente não vem acompanhando, muita gente prefere assistir o debate do que se informar de outra forma. Então é mais nesse sentido. Candidatos menos conhecidos se tornam mais conhecidos. Então, para aqueles candidatos que têm uma porcentagem menor de votos, participar de um debate é algo muito positivo. Os eleitores que não os conhecem passarão a conhecê-los e a considerá-los como opção nessa eleição, o que pode também alavancar a candidatura para o futuro", complementou.

De acordo com ele, no caso dos presidenciáveis menos conhecidos, participar do debate é menos uma estratégia para o pleito do respectivo ano, e mais para sua carreira no longo prazo. "Agora, para os candidatos mais conhecidos, poucas pessoas não estão informadas sobre eles, então um debate, por exemplo, que envolve o Lula e o Bolsonaro, que são os dois com maiores chances de vencer as eleições, nos eleitores vai apenas reforçar convicções", pontuou.

Dessa forma, não participar de um debate -- como Bolsonaro fez em 2018 --, se você está muito à frente nas pesquisas de intenção de voto, falou Corrêa, "pode ser uma boa estratégia". Em suas palavras, "se você está muito bem na campanha, você não precisa. Justamente porque o debate tem uma capacidade marginal de influenciar o resultado. Ele afeta mais os poucos indecisos que restam quando o dia da eleição está chegando mais perto".

Se o candidato sente risco de perder o pleito e, assim, todo voto pode ajudá-lo, "vale a pena participar de debates, porque assim que eles se tornam mais conhecidos e as suas pautas também", segundo o professor. Ele reforça ainda que a eleição para presidente em 2018 foram muito atípicas, por ter rompido uma tendência de polarização entre o PT e o PSDB. "Foi a primeira fez que o PSDB se enfraqueceu e esse outsider [Bolsonaro], esse sujeito que não era no início um candidato viável, de repente ele começou a aparecer muito na televisão, principalmente por causa do atentado, as pessoas passaram a conhecer mais ele e passaram a se identficar com ele".

Segundo o doutor em história e professor de história econômica no Insper Vinicius Müller, os candidatos a presidente abordarem temas ligados à economia em debates, como foi feito no do SBT em 2018, é "muito importante" para o desempenho dos presidenciáveis na corrida ao Planalto. "A gente costuma falar que, no final das contas, as eleições são decididas pelos temas econômicos", pontuou. O motivo é o tamanho do impacto da economia na vida das pessoas.

Entretanto, explica, não falando de economia no debate há quatro anos, "acabou sendo um facilitador da campanha do Bolsonaro, que conseguiu garantir aí a sua posição a partir de pautas menos áridas, que eram mais facilmente entendidas e que vinculavam a campanha do Bolsonaro muito mais a temas morais do que temas econômicos". Conforme Müller, a campanha presidencial de 2018 "foi muito marcada por temas morais".

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