Eleições

"Pobre não tem acesso a armas. A gente só recebe balas", diz Vera Lúcia

Candidata ao Planalto pelo PSTU afirma que é preciso fiscalização na política de armas

Candidata ao Palácio do Planalto pelo Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), Vera Lúcia tem 54 anos e é natural de Inajá, cidade localizada no sertão de Pernambuco. Ainda criança, ela se mudou para Aracaju (SE). Antes de ingressar na política, a pernambucana trabalhou como garçonete e datilógrafa. Na sequência, passou a atuar em uma indústria de calçados, onde foi lançada no movimento sindical.

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Vera Lúcia é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Sergipe. Nos últimos anos, a candidata vem se dedicando à formação de ativistas do movimento sindical.

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Confira a entrevista completa que Vera Lúcia concedeu ao SBT News:

Qual é a importância de um partido que atualmente não tem representação no Congresso Nacional apresentar uma candidatura à presidência da República?
É extremante importante para solucionar problemas que são nossos, comuns da classe trabalhadora. Eu sou, antes de tudo, uma operária, costureira de sapatos, e a minha vice, Raquel [Tremembé], é indígena. Então, para solucionar problemas que são nossos, de mulheres como nós, da classe trabalhadora, nós precisamos tirar dos super ricos desse país. Então, nestas eleições, representar nossa candidatura é uma necessidade. Nós precisamos solucionar problemas que são nossos e muitos graves. Estamos tratando da fome, da miséria, desemprego, violência, da vida que é um drama constante para nós. Isso não vai se resolver apresentando com os outros candidatos, nem com o candidato que já governa o país, que é diretamente responsável pelo que vivemos hoje. Não vamos resolver problemas da classe trabalhadora abraçados com setores da grande burguesia, banqueiros, grandes empresários. Não se faz isso em alianças com a FIESP, aliados na Faria Lima. Você resolve isso junto com a classe trabalhadora organizada. E é exatamente por isso que é imprescindível uma candidatura como a nossa, porque é uma necessidade, precisamos organizar a classe trabalhadora brasileira para que ela, de forma coletiva e organizada, possa tratar de problemas que são nossos, mas, mais do que isso, possa controlar o governo.

O programa apresentado pelo programa, pelo partido e pela senhora à Justiça Eleitoral se concentra em cinco propostas. Em que consistem essas propostas?
A questão da fome se soluciona da seguinte forma: primeiro, de imediato, precisamos deixar de pagar a dividia pública a cinco bancos, pegar o dinheiro, dobrar o salário mínimo e garantir que todo desempregado no país, absolutamente todos, tenham esse salário para viver enquanto entra no mercado de trabalho. Junto com isso, precisamos reduzir drasticamente a jornada de trabalho para abrir novas vagas. ao mesmo tempo ter um plano de obras públicas que responda as necessidades da classe --- de moradia, creche, saneamento básico --- tudo que nós precisamos. E os recursos pra isso precisamos buscar onde estão: nos super ricos deste país. Através da estatização, das 100 maiores empresas do Brasil, essas empresas precisam estar controladas pelos trabalhadores e pela população.

Com a pandemia e a situação econômica do pais, a situação da fome e da insegurança alimentar se tornaram ainda mais urgentes. Programas sociais, como o Auxílio Brasil, a senhora pretende manter? Pretende ampliar?
Garantir o pagamento de um salário mínimo é a primeira medida. A outra é garantir que as pessoas entrem no mercado de trabalho, porque a fome está relacionada ao desemprego e com o rebaixamento salarial. Precisamos estatizar todo o agronegócio, desde as terras à indústria e distribuição de alimentos, colocar sobre controle do trabalhador e da população. Essa produção tem que estar voltada para o atendimento das necessidades de quem que mora no país. Não pode servir aos interesses de mega empresários que recebem em dólar, enquanto a o povo passa fome. Estatizar o agro, estatizar as terras, indústrias, distribuição de alimentos, revogação das reformas trabalhistas, previdências, redução jornada de trabalho...tudo isso é que vai garantir solucionar o problema da fome e desemprego ao mesmo tempo. Com essa estatização entram os bancos, controlados pelos bancários. Vamos ter controles sobre operação bancárias e utilizar recursos para desenvolvimento do Brasil e para solucionar todos os graves problemas que se vivem aqui.

Qual seria a relação com o capital privado?
Nós vamos começar com as cem maiores empresas, vamos estatizar. Com o restante das grandes empresas, vão pagar impostos, inclusive vamos taxar os lucros e os dividendos e também as grandes fortunas, para isentar o micro e pequeno empresário, e garantir que resolvam problemas gravíssimos: habitação, saneamento básico, creche, ampliação das escolas, ferrovias, rodovia.

A geração de emprego seria com investimento estatal?
Seria com investimento dessas empresas, mas também do setor privado, porque vão pagar impostos que hoje são isentos. Os grandes empresários deste país não pagam um "tostão" de impostos, muitas multinacionais não pagam um centavo de imposto. Vamos taxar desde os lucros, os dividendos, inclusive as verbas que são tiradas daqui, reservas enviadas para outros países...nós vamos utilizar [os impostos] principalmente para o desenvolvimento do país.

Nesse cenário, qual seria o papel da Petrobras, já que hoje vivemos uma crise com a dolarização dos preços? Qual seria o papel da Petrobras no seu governo?
Precisamos reestatizar todas as estatais que foram privatizadas, inclusive a Eletrobrás e Petrobras, e colocá-las sob comando dos trabalhadores. A Petrobras precisa voltar a ser estatal do poço ao posto. Todo o sistema Petrobras controlado e administrado pelos petroleiros, que trabalham na Petrobras, em consonância com a população. Com isso, segundo os petroleiros, seria possível ter gasolina nas bombas a R$1,60. O Diesel pode ser R$1,30 e o gás de cozinha a no máximo R$50. São os petroleiros que fazem isso. Precisamos garantir isso, que não é feito hoje, e acabar com a paridade de preço de importação, porque trabalhamos e recebemos em real, produzimos em real, então precisamos vender e comprar aqui também de acordo com isso. Isso resolve o problema da inflação. Petrobras 100% estatal, controlada por esses trabalhadores, elegendo sua administração, desenvolvendo todo parque industrial que está sendo desmantelado e vendido, como as refinarias. E é óbvio que a gente pode exportar petróleo, mas quando tudo isso aqui já estiver autossuficiente do atendimento geral do país e o desenvolvimento, que hoje está voltando à condição de Polônia, enquanto suas riquezas estão sendo entregues aos grandes capitalistas nacionais, principalmente os internacionais. 

Candidata, no âmbito das reformas estruturais, muitos economistas defendem que são necessárias reformas administrativas, fiscais, tributárias. A senhora faria novas reformas, revisaria reformas que foram feitas?
A primeira coisa que precisamos é revogar as reformas que foram feitas até hoje enganando os trabalhadores, dizendo que era pra resolver o problema do desemprego, para geração de empregos e, em nome disso, fizeram as reformas trabalhista e previdenciárias. Precisamos revogar imediatamente. Precisamos revogar a lei do teto de gastos. O limite aqui é o atendimento das necessidades humanas. A lei de responsabilidade fiscal também se revoga. A prioridade aqui não vai ser o setor financeiro, o capital, os bancos, as multinacionais que vem pra cá, explora e na hora de ir embora deixa rastro de destruição. A prioridade aqui é desenvolver a indústria brasileira e garantir emprego. Redução da jornada de trabalho --- que não pode ser superior a 30h em 5 dias. Se sobrar gente desempregada, reduz mais ainda. Vamos com isso criando condições para o próprio país para sair da condição de colônia que está voltando a ser hoje e, em meio a dimensão econômica e riqueza, isso também seja vivido pelo povo brasileiro. E mais do que isso: nós ainda possamos auxiliar através da exportação de alimentos, daquilo que for necessário, principalmente para nossos irmãos da América Latina. São mudanças estruturais profundas, como estatização, controle feito pelo conjunto dos trabalhadores, revogação dessas leis...tudo isso são medidas de grande profundidade, por isso requerem o conjunto da classe trabalhara organizada e mobilizada para garantir a aplicação desse projeto.

A corrupção, infelizmente, é muito presente na sociedade brasileira. A senhora falou de uma ampla proposta de estatização e, muitas vezes, vemos uma corrupção já enraizada em estatais. Como fazer para coibir a corrupção? A senhora tem proposta para o combate à corrupção?
A forma que nós vamos garantir que as estatais não sejam corrompidas é o controle pelos trabalhadores que nelas trabalham. E quem vai fiscalizar isso é o conjunto da classe trabalhadora e da população organizada. A classe trabalhadora só pode dizer um dia que o governo é seu quando ela tiver o controle sobre esse governo. 

Durante a pandemia nós vimos a importância do SUS. Quais são as propostas para a área de saúde?
Uma primeira medida é a revogação do teto de gastos. A outra é garantir que todos os recursos sejam destinados também para o SUS. Ao mesmo tempo, vamos anexar aos SUS todos os hospitais, grande clínicas, laboratórios, [bem como] investir na indústria de medicamentos e laboratórios que foram fechados, para que o SUS não precise concorrer com a iniciativa privada. Todas as pessoas deste país seja aquele que varre a rua, até aquele que administra uma grande empresa, vai ser tratado no mesmo lugar. 

Para a área de educação, quais são as propostas do partido e da senhora?
Acabar com a terceirização que existe hoje na escola pública. Profissionais que hoje são terceirizados serão incorporados ao quadro de efetivos e, a partir daí, fazer concurso público pegando principalmente aqueles que passaram e não foram chamados. [Além disso] garantir que a educação publica básica, desde a creche até a universidade, seja pública. Precisamos qualificar e dar aos professores condições para trabalhar e, ao mesmo tempo, respeitar os alunos e trabalhadores. Professor não é pra apanhar. E aqui no Brasil professor apanha. E eles batem em professores dos filhos da classe trabalhadora que lutam por melhores condições de trabalho e salário para dar aula aos filhos da classe trabalhadora.

A senhora tem como companheira de chapa uma indígena, a Raquel Tremembé. Quais são as propostas para a inclusão de minorias?
Como é que se repara a questão indígena? Primeiro, com a estatização do agronegócio e devolução das terras indígenas. E dar para todo o povo indígena, como para toda classe trabalhadora brasileira, principalmente, negras e mulheres --- que são as mais pobres --- as condições que hoje todo o sistema capitalista nos rouba --- que é o emprego, o direito à moradia, saneamento básico, creche para os nossos filhos, escola, saúde. Tudo isso que nos é negado. O nosso programa é voltado exatamente para o atendimento das necessidades da maioria do povo que é invisibilizado. Nós [mulheres negras e indígenas] somos invisibilizadas. Inclusive pelo fato de sermos candidata de um partido pequeno, que é socialista, que é revolucionário, que não tem representação no Congresso Nacional, somos invisibilizadas nas eleições e em todos os momentos. Nós queremos ser vistas não apenas nos momentos de nossas tragédias. Nós somos protagonistas e responsáveis por toda riqueza produzida neste país, então nós temos o direito de usufruir dela e temos o dever de nos organizar para buscá-la. 

Falando um pouco de pauta de comportamento. A religião está inserida nesta campanha como nunca esteve, de uma forma até bastante polarizada e com apoio a um certo candidato. Qual é a proposta e como o governo da senhora vai trabalhar a questão da religião?
Primeiro que você tem que respeitar a fé de todas as pessoas. Nós não vamos tratar da fé das pessoas. Nós queremos resolver o problema do desemprego de todas as pessoas que sejam religiosas ou não. Nós queremos tratar dessas coisas que não comuns e a fé é de cada um. Respeito aqueles que tem religião, qualquer que seja ela, não só os cristãos, sejam eles os católicos ou evangélicos, mas também os de candomblé, da umbanda, todas as expressões religiosas, inclusive quem não tem religião.

Em relação ao acesso a armas, a senhora pretende manter?
A questão das armas é uma coisa muito interessante. Nós temos o direito de nos autodefender. Nós somos, hoje, assassinados aos montes, seja nas periferias, inclusive nos locais de trabalho e nas aldeias indígenas. Então, nós somos o tempo inteiro cassados como bichos e assassinados. Aqui o Estado é organizado e armado, até o crime no Brasil é organizado e armado. Nós precisamos nos organizar para nos autodefender, nossa autodefesa depende da nossa ação coletiva organizada, tanto nos bairros, nos locais de trabalho e de moradia, para preservar nossas organizações, os sindicatos, os movimentos, os partidos, garantir que eles existam, o direito de manifestação, o direito de organização, o direito que você possa expressar o seu pensamento, que, hoje, é negado. As pessoas têm o direito de dizer se querem uma arma ou não. Essa também não é uma tarefa de Estado. Porque, se o Estado é armado, a sociedade civil também tem o direito de ser. Mas a ação tem que ser sempre muito organizada e coletiva para se autodefender.

Como o modelo que foi implementado por este governo atual?
Não, é o oposto. Ele arma ruralista, ele arma o agronegócio para matar quilombolas e matar indígenas. Ele festeja a morte dos ativistas que fazem a defesa da natureza e da defesa dos povos indígenas. Nós queremos exatamente o inverso, nos proteger desse tipo de gente. 

O acesso as armas continuaria então?
O acesso continuaria com fiscalização maior. Mas o acesso hoje não é para gente. Porque quem é pobre, quem não tem nem comida, não tem direito a arma, não tem acesso a ela. A gente só recebe as balas, só recebe as balas nas periferias e nas aldeias, e nós temos o direito de salvar as nossas vidas, para salvar inclusive a natureza.

Qual será o papel do governo da senhora em relação ao meio ambiente?
Quando falamos de estatizar e de ter uma planificação de toda a produção em consonância com a natureza, isso já é parte desse trabalho. A outra é que, com o conhecimento de quem vive diretamente lá, sejam os indígenas, os quilombolas, mas toda a população tradicional que vive nesses ambientes possam nos ensinar. Além do mais, nós vamos taxar e punir severamente as grandes empresas poluidoras do ar, dos rios e da terra que não cumprirem os critérios de proteção ao meio ambiente. Vamos fazer isso em consonância com quem mais conhece, que são os indígenas, os quilombolas e os povos das florestas.

Vai haver um fortalecimento dos meios de fiscalização ambientais?
Quem vai fiscalizar não só são os órgãos ambientais. Os órgãos ambientais vão funcionar numa relação direta com aqueles que trabalham diretamente, os trabalhadores das indústrias. Não é só a questão da Amazônia, são também as questões dos rios, a questão do ar. Não é uma questão distante, é também nas grandes cidades. Será uma relação permanente entre toda a população diretamente envolvida, e toda população que vai fiscalizar juntamente com os órgãos.

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