"Fim do teto de gastos é uma necessidade", diz Sofia Manzano
Candidata ao Planalto pelo PCB, doutora em ciências econômicas diz que austeridade prejudica sociedade
O SBT News inicia, neste sábado (20.ago), uma série de entrevistas com postulantes aos cargos de chefe do Executivo, entre eles os representantes dos partidos que, atualmente, não têm representação parlamentar no Congresso Nacional: PSTU, Democracia Cristã, PCB e Unidade Popular. A convidada da vez é a Sofia Manzano, candidata pelo PCB.
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Graduada em Ciências Econômicas pela PUC e Doutora em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP), Sofia é natural da capital paulista e professora universitária. Ela deu início à militância política pelo partido em 1989. A partir de 2013, passou a integrar o movimento sindical de professores e, em 2014, disputou a vice-presidência pelo PCB.
Confira abaixo a íntegra da entrevista:
Qual a importância de um partido que não tem representação apresentar candidatura?
É importante, porque o PCB, apesar de não ter, ainda, representantes no Congresso, tem um programa para o país e um programa político para a gente sair da crise, melhorar as condições de vida e reorganizar a classe trabalhadora. Então, nós avaliamos que, nesse momento em que o país passa por uma grande tragédia, que não é só a crise econômica mas também saindo da pandemia, o PCB deveria sim apresentar uma candidatura à Presidência. Eu encabeço essa candidatura, mas também para elegermos deputadas e deputados ao Congresso Nacional.
No que o programa de governo do PCB se concentra?
O principal do nosso programa político é trazer para a população brasileira, especialmente para a classe trabalhadora, que o governante supremo do nosso país, e no caso estou aqui me candidatando a esse cargo, deve levar em consideração sempre, em todas as medidas que forem tomadas, os interesses da classe trabalhadora em primeiro lugar. Nós somos absolutamente críticos e contrários ao que foi implementado no Brasil pelo governo de (Jair) Bolsonaro e também pelo governo de Michel Temer, mas também temos críticas à diversas práticas políticas e, principalmente, à política macroeconômica que foi implementada desde o governo Fernando Henrique, passando também pelos governos petistas.
Quais são as principais políticas no campo econômico?
No campo econômico, a principal mudança que nós vamos promover é acabar com essa postura, que nós chamamos, desse austericídio fiscal, quer dizer, estrangular a possibilidade do Estado de investir naquilo que ele deve investir, que é fundamentalmente nas políticas públicas e sociais. O fim do teto de gastos é uma necessidade, inclusive para qualquer um que queira governar esse país a partir de 2023. Nós vamos revogar a lei de responsabilidade fiscal e vamos instituir a lei de responsabilidade social, que é a lei que vai obrigar os municípios, os estados e o governo federal a utilizar os impostos que nós pagamos no serviço público e não na transferência para empresas privadas ou para a iniciativa privada.
Mais de 30 milhões de brasileiros vivem em alguma condição de insegurança alimentar. Quais são as propostas para reverter essa situação?
No nosso programa, nós temos um programa de reforma agrária popular, para que a agricultura familiar, subsidiada pelo estado, com compras governamentais, possa produzir comida de verdade. De forma emergencial, é necessário que seja mantido o Auxílio Brasil ou um programa emergencial de transferência de renda, inclusive com valores superiores ao que hoje são praticados. Mas a gente tem que exterminar o problema da fome na raiz, para que todos os trabalhadores e trabalhadoras nunca mais sejam submetidos e fiquem dependendo de aprovação do Congresso Nacional ou de um presidente ou uma presidenta conceder esse auxílio que vai lhe matar a fome. Por isso a gente tem inclusive, um programa de geração de emprego e renda para mudar de forma estrutural a situação da classe trabalhadora. O nosso programa de emprego prevê, em primeiro lugar, a revogação da reforma trabalhista, porque a reforma trabalhista precarizou de tal forma o mercado de trabalho que hoje nós temos um desemprego muito elevado, uma população que consegue algum tipo de trabalho com uma remuneração com salário muito baixo. A principal bandeira de luta e programa político que nós temos é a redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais sem redução salarial. O nosso programa também prevê a expansão dos concursos públicos para que todos os profissionais da saúde, da educação, dos órgãos de fiscalização, como ICMBio, Ibama, a Emater - que é um órgão importante para agricultura familiar - sejam reequipados com profissionais concursados, com salários decentes, com plano de carreira, e o estado brasileiro tem dinheiro para fazer isso. O nosso programa prevê a reestatização completa da Petrobrás, a utilização dos lucros da Petrobrás para investimento em refino, extração e distribuição de petróleo e dos derivados e o fim da política de paridade de importação que foi implementada nos últimos seis anos e que tem como único objetivo enriquecer os acionistas privados da empresa. Nós temos um programa de estatização de setores estratégicos das indústrias de base na economia brasileira e não só isso, da estatização dos setores que são importantes para a própria população, como o setor de saúde e de educação. A gente também prevê que a classe trabalhadora tem o controle sobre o processo e as decisões do que vai ser produzido, como vai ser produzido e com transparência no processo de gestão e direcionamento dessas empresas.
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