Eleições

Presidente do Cidadania defende federações: "Perspectiva de futuro"

Roberto Freire falou ao SBT News sobre as negociações do partido com o PSDB para se unirem

Assista ao vídeo

A Executiva Nacional do Cidadania fará, na manhã desta 3ª feira (1º.fev), uma reunião para decidir se indica ou não ao diretório nacional da sigla que as negociações com o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) para formarem uma federação partidária devem avançar. A informação foi revelada nesta 2ª feira (31.jan) pelo presidente do Cidadania, o ex-ministro da Cultura Roberto Freire, em entrevista ao SBT News, na qual ele disse ainda que o motivo de desejar a concretização de federação é uma necessidade da legenda pensar em ser "protagonista" de um processo, em curso, de mudança das bases da sociedade.

+ Leia as últimas notícias no portal SBT News

Esse processo, segundo Freire, é provocado pela internet, que transformou as relações de produção, forma de produzir e relações de famílias, e vem mudando as instituições e os partidos políticos, levando ao surgimento de uma tendência, no Brasil, de estes se unirem para formarem siglas maiores e mais fortes; como exemplos que demonstrariam essa tendência, cita a criação do União Brasil, a partir do Democratas (DEM) e Partido Social Liberal (PSL), e as conversas do Partido dos Trabalhadores (PT) com o Partido Socialista Brasileiro (PSB) para formarem federação.

Dessa forma, afirma o presidente do Cidadania, as federações são "uma experiência interessante". "Quem sabe se isso não pode ser e constituir as novas instituições que serão os instrumentos de representação política nessa hora em que a política mudou de endereço, em que estamos vivendo um novo mundo das redes, da internet, da inteligência artificial, da robotização, que muda tudo, muda inclusive o nosso modo de produzir, as relações de trabalho para o mundo do trabalho? Então, isso é um dado concreto que envolve a concepção do que seja federação. Não é um mero arranjo. Aparenta ser, mas traz embutido muito dessa perspectiva de futuro", completou.

Freire acredita que dificilmente, se o diretório nacional do Cidadania optar pela união com o PSDB, algum filiado não aceitará, "até porque as pessoas sabem que estão num partido exatamente para construir com qual responsabilidade, e não para fazer apenas o que eu acho que é o certo". Atualmente, a sigla tem o senador Alessandro Vieira (SE) como pré-candidato à Presidência, enquanto o governador de São Paulo, João Doria, é o presidenciável do PSDB. Se formada a federação, as duas legendas decidirão quais de seus políticos têm mais chances de vitória no próximo pleito, para apresentarem como candidato, ou seja, determinadas pré-candidatuas podem não dar o próximo passo. Os partidos têm até 1º de março para confirmar ao TSE, com a entrega de todos os documentos necessários, o desejo de formarem federação, para que ela seja oficializada.

Confira a íntegra da entrevista:

Em que patamar estão as negociações com o PSDB para formação de uma federação partidária e o que falta ainda para se concretizar? 

Olhe, essa questão da federação precisa ser tratada com muito cuidado. Não pode ser confundido como se fosse uma coligação com prazo determinado. Não, é muito mais do que isso. Você tem que analisar que vai conviver com um outro partido, ou mais de um partido, conviver na política do cotidiano e no Brasil todo e em todos os municípios. Não é uma questão que se resolve num determinado momento, depois cada um vai para o seu lado. Não, você vai atuar politicamente no Brasil como um único partido. Então você tem que buscar o parceiro que tenha condições de participar efetivamente do encaminhamento possível que você tenha com a sua história, com o seu programa, com o partido, enfim. Porque ele continua existindo. Está apenas associado num instituto legal. Então, temos que buscar convergências, buscar identidades, é necessário você ter nesse período um trabalho conjunto, comum, ter objetivos programáticos que possam você não ser surpreendido. Por exemplo, você se fizer uma federação que tenha incompatibilidades, que fez apenas porque a lei permite, você pode ter uma surpresa num segundo turno, do seu parceiro ir votar com um candidato e você com outro. Você já inicia a federação com a balbúrdia. Então, com base nessa compreensão, o Cidadania está analisando quais as possíveis hipóteses, com todas essas seguranças, para que não seja uma aventura. Nesse sentido, nós estamos buscando saber quem tem maior identidade, qual o maior com o nível de convergência. A nossa história comum recente, como foi com os partidos, que nós poderemos fazer federação e não tenho dúvida e tenho, claramente, a conversência maior e identidade maior é com o PSDB, porque há algum tempo, desde o rompimento que tivemos com o governo de Lula, lá em 2004, a partir daquele momento o nosso trabalho conjunto político foi quase sempre próximo do PSDB e ele de nós. Então isso significa, claro, um caldo de cultura maior para você discutir, se vier a ter federação, com o PSDB. Estou abrindo muito um jogo de debate, porque amanhã, pela manhã, nós estamos realizando uma reunião da Executiva Nacional, que não é que vai resolver, porque quem resolve e decide é o diretório nacional. E não apenas estatutário, mas pela própria lei das federações. São os diretórios nacionais que decidem, mas, de qualquer forma, a Executiva encaminha. Tal como foi encaminhado, como indicativo, pelo PSDB, até por unanimidade, que a federação pudesse ser feita com o Cidadania. Nós vamos saber se a Executiva do Cidadania, qual é o seu indicativo para o diretório nacional.

Existe uma expectativa de quando vai ser tomada uma decisão definitiva?

Eu acho que amanhã a gente vai discutir isso e, como nós temos pouco tempo, para decidir e estruturar e constituir a federação, se essa for a decisão, isso tem que ser o mais breve possível. Até porque o prazo nosso, a não ser que o Supremo mude, mas o Supremo pode mudar até distituindo a hipótese de federação, pode decidir que não terá a federação, mas que de qualquer forma temos que ir até este momento continuar todas as tratativas, mas o prazo fixado, que é o que nós temos que até o momento cuidarmos, é a partir de 1º de março, tem que estar entregue todos os documentos, em cartoriais e estatutos, programas, manifestos, a federação entregue no Tribunal Superior Eleitoral. 

Quais benefícios a formação de uma federação traria para o Cidadania? 

O que está acontecendo no Brasil é tudo fruto de crise que é geral no mundo. Nós estamos mudando as bases da nossa sociedade, da nossa civilização até. Essa internet e isso que nós estamos aqui trabalhando, isso mudou o nosso mundo, mudou as nossas relações, muda a nossa consciência e muda evidentemente todas as nossas instituições. Quem é que podia imaginar, por exemplo, que o Congresso Nacional ou um Supremo Tribunal Federal tivesse julgando, e mudando, e legislando através de uma internet, online, você em qualquer lugar desse mundo podendo se conectar e funcionando como um Congresso através de uma tela. Isso é um outro mundo, e isso mudou todas as nossas relações de produção, modo de produzir, nossas relações de família, todas as instituições, e isso também atinge a própria democracia representativa, os partidos políticos que também sofrem influência disso. Teve até o ex-governador do Rio Grande do Sul Antônio Brito, que me disse algo muito interessante: "A política mudou de endereço". Mudou tudo de endereço. Então você hoje tem outros endereços, que é concreto. Você hoje se comunica muito mais por WhatsApp, por e-mail, pela internet, pelas redes, do que pelo correio tradicional, pelas formas de comunicação históricas que você até hoje vinha trazendo, então isso é um outro mundo. Pois bem, e isso daí está exigindo mudanças e elas ainda estão ocorrendo. Muitas vezes, há uma reação grande à mudança. Mas nós precisamos começar a entender. E essa questão de partido está sofrendo grandes transformações, e é do mundo. Aqui nós já estamos percebendo a tentativa de se constituir partidos maiores, com mais tendência a ser um movimento do que ser algo mais homogêneo. Nesse sentido, você já teve, por exemplo, o DEM, aqui no Brasil, o DEM se alinhando com o PSL. No mundo, você tem visto movimentos que surgem agora no Chile, que não têm nada a ver com os partidos tradicionais. Então tudo isso está em transformação. E, no Brasil, a tendência para constituir partidos maiores, inclusive seguindo uma legislação que tenta criar isso, que é a cláusula do desempenho, de diminuir o número de partidos com representação nos parlamentos brasileiros. Pois bem, esse processo está imposto. Por que o PT, PSB, estão discutindo uma federação, se ambos são partidos já grandes, mas estão querendo se unir? E isso tem algum sentido. Eles não estão fazendo uma coligação, porque para fazer coligação na majoritária poderia fazer, sem nenhum problema, não precisaria ter federação. E por que buscam? É porque isso é uma certa tendência. Então não adianta fugir disso. Nós somos um pequeno partido, mas temos uma capilaridade nacional, nós temos partido em todos os estados brasileiros, tivemos uma boa performance. Nós superamos a cláusula de desempenho em 2018, é bom saber isso, quer dizer, nós não estamos na "bacia das almas". Agora, é necessário começar a pensar para ser protagonista desse processo que estamos vivendo, você precisa ter maior consistência, maior amplitude, maior força. Então tem também esse sentido e, não tenha dúvida, federação é embrião de novos partidos. Vou te dar um exemplo, que é aqui no vizinho Uruguai. Você tem um grande partido uruguaio que inclusive governou até bem recentemente, por mais de dez anos, que é a Frente Ampla. É uma federação, que tem mais de 50 anos. Lá estão presentes os partidos socialistas, os Tupamaros, o Partido Socialista, Democrata Cristão, outros movimentos. Pois bem, há 50 anos isso vive. Então, isto é uma experiência interessante. Quem sabe se isso não pode ser e constituir as novas instituições que serão os instrumentos de representação política nessa hora em que a política mudou de endereço, em que estamos vivendo um novo mundo das redes, da internet, da inteligência artificial, da robotização, que muda tudo, muda inclusive o nosso modo de produzir, as relações de trabalho para o mundo do trabalho? Então, isso é um dado concreto que envolve a concepção do que seja federação. Não é um mero arranjo. Aparenta ser, mas traz embutido muito dessa perspectiva de futuro. 

O Cidadania chegou a anunciar algum pré-candidato a governador? Formando uma federação, esse pré-candidato teria apoio do PSDB?

Olha, terá que ter se for o indicado. Por exemplo, na Paraíba nós temos o governador e tem toda a chance de se reeleger. Se formos fazer, temos que conversar que a partir do governador que você deve construir a federação no estado da Paraíba. A mesma coisa se vai fazer em São Paulo em torno da decisão que o PSDB, que está no governo, propõe para São Paulo. Ninguém vai lá inventar a rota nesse processo político. Em outros locais, como no Distrito Federal, o Cidadania tem uma grande candidata, Leila de Barros, a Leila do Vôlei. O PSDB também tem. Nós, mesmo sem federação, estaríamos discutindo qual dos dois deveria ser candidato e não os dois, porque estamos na mesma base de oposição ao governo, então tínhamos que nos aproximar até para termos mais eficiência no processo eleitoral. Isso vai ser facilitado, porque você vai ter que resolver em um único partido, que terá que ser apenas um candidato. Vão ter discussões, teremos que criar protocolos para saber como isso vai ser decidido, não será imposição de nenhum, mas será uma discussão que vai ser feita num único partido e não em dois partidos que são de oposição ao governo do Distrito Federal. Então, dando essa noção, claro, o partido tem outros candidatos. Esses são dois locais, e tem no Piauí, mas no Piauí não me parece que tenha nenhum grande problema qualquer da federação que seja formulável. O nosso candidato é algo que é de novo, de renovação, e está com muita força, e o Piauí está enfrentando problemas com muitas dificuldades, porque lá tem uma aliança completamente estranha, mas que sempre funcionou, é o PT com os velhos coronéis oligarcas e sempre tiveram juntos, e agora estão, por conta do negócio Bolsonaro, criou dificuldades lá no Piauí, e esse candidato, o Washington Bonfim, do Cidadania, pode vir a ser um forte candidato, inclusive se houver essa federação com o PSDB, melhor ainda. Então tem vários lugares. São pequenos problemas, alguns um pouco mais difíceis que vão exigir muito maior cuidado.

Essa negociação para formação de uma federação com o PSDB poderia de alguma forma levar a um racha dentro do próprio Cidadania? Está havendo um cuidado para que isso não ocorra? Por exemplo, o senador Alessandro Vieira aceitaria abrir mão da pré-candidatura à Presidência? 

Um racha, não. Eu estou num partido e eu posso ter uma posição e tenho. Agora, se o partido decidir outra, eu sou do partido. Eu não sou aquele que se não for o que eu penso, eu saio. Então, eu não tenho compromisso com ninguém. Eu acho que ter num partido e conviver num partido significa ter e compartilhar responsabilidades. Se, porventura, eu for derrotado no que eu imagino, eu estou num partido exatamente para isso, e não para partido do eu sozinho, do pensamento único, e o meu pensamento. Isso é, evidentemente, uma estupidez, isso não existe, e não existe no nosso. Eu já fui muitas vezes derrotado, mas fui vitorioso, porque o partido assumiu uma posição e eu não tenho vergonha nenhuma das posições assumidas pelo meu partido, isso desde o PCB. O velho Partido Comunista Brasileiro, que eu tenho muita honra de ter militado. Fui candidato a presidente, fui presidente pelo PCB,  vim para o PPS, fizemos a mudança sucedendo e, agora, construindo o Cidadania numa perspectiva de amplitude maior, entendendo esse novo tempo, sabendo que partido classista ou daquela ideia da luta de classe, com uma sociedade capitalista, começava a abastecer superada por essa nova sociedade e, portanto, precisava de uma nova institucionalidade e representação política, e estamos em busca disso. Pois bem, essa compreensão é a compreensão de que quem vai decidir é o diretório nacional e se eu faço parte desse partido o que ele decidir, nós vamos seguir. Aquele que, porventura, achar que isto vai contra os seus princípios, evidente que nós não podemos fazer nada, mas acho muito difícil que se ocorra, até porque as pessoas sabem que estão num partido exatamente para construir com qual responsabilidade, e não para fazer apenas o que eu acho que é o certo. Ninguém é dono da verdade no Cidadania. 

Publicidade

Assuntos relacionados

portalnews
sbtnews
eleicoes
política
Congresso
Cidadania
PSDB
partidos
federação partidária
união
transformação
sociedade
Executiva Nacional
decisão
história
guilherme-resck

Últimas notícias

Datena vai se filiar ao Partido Socialista Brasileiro nesta terça-feira (19.dez)
Brasil - 18/12/2023
Datena vai se filiar ao Partido Socialista Brasileiro nesta terça-feira (19.dez)
Filiação vem em meio a especulações sobre possível indicação do jornalista para ser candidato a vice-prefeito de São Paulo em chapa com Tabata Amaral
Conferência Eleitoral do PT tem discursos, carta pela "desbolsonarização do governo" e bandeira da Palestina
Eleições - 09/12/2023
Conferência Eleitoral do PT tem discursos, carta pela "desbolsonarização do governo" e bandeira da Palestina
Evento começou nesta 6ª feira (8.dez) em Brasília; Lula prometeu ser "um bom cabo eleitoral" nas eleições de 2024
Destino de Bolsonaro "terá de ser também a cadeia", ataca Gleisi
Brasil - 09/12/2023
Destino de Bolsonaro "terá de ser também a cadeia", ataca Gleisi
Presidente nacional do PT discursou em Conferência Eleitoral da sigla
"Vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando essas eleições no município", diz presidente
Brasil - 09/12/2023
"Vai ser outra vez Lula e Bolsonaro disputando essas eleições no município", diz presidente
Em discurso na Conferência Eleitoral PT 2024, petista falou que a militância "não pode ficar com medo"
Moraes dá 48 horas para Meta enviar vídeo publicado por Bolsonaro após o 8 de janeiro
Justiça - 06/12/2023
Moraes dá 48 horas para Meta enviar vídeo publicado por Bolsonaro após o 8 de janeiro
Ex-presidente fez publicação questionando regularidade das eleições após os atos golpistas
Com 7 pré-candidatos em capitais confirmados, PT prepara "grande largada" para as eleições
Eleições - 02/12/2023
Com 7 pré-candidatos em capitais confirmados, PT prepara "grande largada" para as eleições
Sigla fará Conferência Eleitoral com presença de Lula em dezembro
TSE inicia teste de segurança das urnas eletrônicas para as eleições municipais
Brasil - 27/11/2023
TSE inicia teste de segurança das urnas eletrônicas para as eleições municipais
Durante cinco dias, técnicos e especialistas poderão acessar os componentes internos e externos do equipamento
Novo anuncia economista Marina Helena como pré-candidata a prefeita de São Paulo
Eleições - 30/10/2023
Novo anuncia economista Marina Helena como pré-candidata a prefeita de São Paulo
Ela foi diretora de desestatização do Ministério da Economia a convite do então ministro Paulo Guedes
Qual a distância entre a eleição argentina e a brasileira
Eleições - 28/10/2023
Qual a distância entre a eleição argentina e a brasileira
Confira quatro diferenças e quatro semelhanças do processo eleitoral e dos candidatos do Brasil e da Argentina
Argentina registra quatro ameaças de bomba em aeroporto de Buenos Aires
Mundo - 21/10/2023
Argentina registra quatro ameaças de bomba em aeroporto de Buenos Aires
País realiza eleições presidenciais no próximo domingo