Sbt mulher

Com política inadequada de proteção às mulheres, Brasil é 5º mais violento

Juíza criminal Renata Gil fala do tema no Poder em Foco, no SBT

A política de enfrentamento à violência contra a mulher adotada até hoje no país é insuficiente e deixa o Brasil entre os mais violentos do mundo. A afirmação é da juíza criminal Renata Gil, primeira mulher a presidir a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). 

"É insuficiente em todos os sentidos. Se fosse a política adequada, nós já estaríamos avançando e o Brasil não ocuparia o 5º lugar de país mais violento do mundo. Só ficamos atrás de Rússia, Honduras, Guatemala, Venezuela, países que notadamente descumprem direitos humanos", analisou em entrevista ao Poder em Foco, no ar no domingo (21.mar), no SBT

Renata Gil ressaltou que o Brasil assinou inúmeros tratados de direitos humanos e de normas nacionais, mas que está cumprindo esses tratados. Ela não detalhou quais são os pontos burlados, mas disse que a AMB pleiteia a elaboração de uma estratégia nacional para que todas as instituições envolvidas no combate à violência contra a mulher consigam conversar institucionalmente, criar metas e canalizar recursos. 

"Existem inúmeras entidades internacionais, Banco Mundial, BID, que fornecem recursos financeiros para projetos de combate à violência contra a mulher, mas a gente não consegue sequer apresentar essas propostas", reclamou . 
 
Assista ao vídeo


Para Renata Gil, o Judiciário é a estrutura institucional que está mais equipada para o combate a esses crimes, mas os problemas na segurança pública dificultam o enfrentamento. 

"Nós temos em todos os estados brasileiros coordenadorias de violência contra mulher, temos varas especializadas e medidas protetivas são a todo momento concedidas. Mas há um déficit de segurança pública. É necessário canalizar recursos financeiros e humanos para que as polícias consigam fiscalizar as medidas protetivas aplicadas e consigam fazer as rondas com a patrulha Maria da Penha, evitando que esses crimes aconteçam", explicou. 

Segundo a juíza, nos locais em que foram desenvolvidos projetos para monitorar o agressor, o índice de reincidência de violência na família caiu a quase zero. "Então, o que há é a necessidade da presença do Estado nesses ambientes para coibir  essa violência", cobrou. 

Renata Gil destaca que um dos problemas da violência doméstica é a perpetuação da cultura de agressão à mulher. "Acontece no seio da família, então é repetida pelos filhos. Eles crescem achando que é possível a mãe ser xingada, humilhada, sofrer violência econômica, em que o  marido retira todo o salário da mulher ou sua condição de subsistência", lamentou. 

 
Assista ao vídeo


No dia 8 de março, quando é celebrado o Dia Internacional da Mulher, Renata Gil apresentou ao Congresso Nacional um pacote de projetos que a AMB considera urgentes para tornar efetivo o combate à violência doméstica e contra as mulheres. O pacote legislativo "Basta!" inclui mudanças no Código Penal, na Lei dos Crimes Hediondos e na Lei Maria da Penha.

Confira algumas propostas: 
-   Torna crime a violência psicológica contra a mulher e a perseguição (stalking);
-    Torna o feminicídio um tipo penal autônomo (atualmente ele é um qualificador do homicídio);
-    Cria Lei Federal para que estabelecimentos como farmácias e mercados estejam aptos a receber denúncias de agressões. Basta que a vítima exiba o X vermelho na palma da mão para o atendente.
 

10 anos da morte de Patrícia Acioly


    Em 2021 faz dez anos assassinato da juíza criminal Patrícia Acioli, vítima da atuação de milícias no estado do Rio de Janeiro. A presidente da AMB observa que o caso traz aparentes coincidências com a morte da vereadora Marielle Franco e apela por uma atuação mais forte do Estado. 

"No caso da Patrícia Acioli foi comprovado, os milicianos estão presos. No caso da Marielle, há suspeitas, mas ainda não há comprovações. Três anos após a morte ainda não se desvelou a autoria do crime. Nós esperamos que qualquer ação da milícia seja combatida com uma articulação melhor e maior para que não tenhamos crimes como esses contra Marielles, Patrícias e tantas outras mulheres e homens que cumprem o seu dever de ofício". 
 
Assista ao vídeo


Patrícia Acioli foi morta em 2011, com 21 tiros. O assassinato foi cometido por dois homens. O mandante do crime contra foi o tenente-coronel da PM do Rio de Janeiro Cláudio Luiz de Oliveira, condenado a 36 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado e formação de quadrilha. 

A magistrada da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo era ameaçada de morte em razão da atividade profissional, por causa das penas aplicadas sobretudo a traficantes e policiais. 

O clima de tensão entre os juízes criminais continua. Renata Gil revela que já sofreu várias ameaças, teve escolta policial e, vez por outra, precisa fazer várias alterações na rotina por questão de segurança. "Mas eu costumo dizer o seguinte: quem não sente segurança na sua atuação precisa mudar de área, porque ninguém pode viver com esse sentimento de insegurança, de achar que a qualquer momento pode ser vitimado. Eu não me sinto absolutamente segura como nenhum cidadão brasileiro, eu imagino no nosso país, porque a violência, ela assola todos os estados brasileiros, mas eu me sinto cumpridora do meu dever", concluiu. 

Leia também
+
Supostos diálogos de Moro causaram perplexidade na magistratura 
 

Perfil


Renata Gil nasceu no Rio de Janeiro e é juíza criminal na comarca do Estado há 22 anos. Ela é 1ª mulher a presidir a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), maior associação de juízes do país (tem 14 mil associados, incluindo juízes estaduais, federais, do trabalho, militares, ministros do STF e do STJ). Também é a 1ª mulher a assumir a presidência da Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público, que reúne entidades de juízes e do MP. 
 

Poder em Foco

 
     O Poder em Foco vai ao ar na madrugada deste domingo (21) para segunda, 0h45, no SBT. Além da apresentadora, Roseann Kennedy, também participa do programa a repórter do SBT Brasil, Kala Lucena. Neste mês, quando é celebrado o Dia Internacional da Mulher, a cada semana uma mulher de destaque no ambiente do poder será entrevistada. 


Confira as últimas entrevistas:
+ Com atraso na vacinação, Brasil é risco para o mundo
+ "Pix foi grande acerto do Banco Central", diz fundadora do Nubank


 
Publicidade

Assuntos relacionados

portalnews
sbt-mulher
protecao
mulheres
violencia
poder em foco
sbt

Últimas notícias

Mulheres encontram série de barreiras na política, diz Tabata Amaral
Sbt mulher - 14/03/2021
Mulheres encontram série de barreiras na política, diz Tabata Amaral
Deputada foi uma das entrevistadas pela Semana da Mulher no SBT
Brasil precisa de lockdown nacional para evitar colapso
Sbt mulher - 14/03/2021
Brasil precisa de lockdown nacional para evitar colapso
Para a epidemologista Denise Garrett, fechamento é a única alternativa agora
Os desafios da maternidade desde o parto
Sbt mulher - 13/03/2021
Os desafios da maternidade desde o parto
Como se preparar para o parto, amamentação e os desafios da maternidade
Luana Genót: "Nossa cor da pele ainda chega antes da competência"
Política - 12/03/2021
Luana Genót: "Nossa cor da pele ainda chega antes da competência"
Idealizadora do Instituto Identidades do Brasil concedeu entrevista ao SBT News
A mulher na linha de frente contra a covid
Sbt mulher - 12/03/2021
A mulher na linha de frente contra a covid
Elas tomam a iniciativa para ajudar os necessitados e estão na linha de frente na saúde e na ciência
Mulheres assumem profissões vistas como masculinas
Sbt mulher - 11/03/2021
Mulheres assumem profissões vistas como masculinas
Primeira mulher chefe da GCM de São Paulo, personagem do SBT Mulher, vira Secretária de Segurança Urbana
A luta da mulher negra e suas conquistas
Sbt mulher - 10/03/2021
A luta da mulher negra e suas conquistas
O machismo no samba e o racismo, a ex-consulesa que ajuda incluir negros em posição de poder e a arte destacando o preconceito
Desigualdade de gênero na política é "vergonhosa", diz Simone Tebet
Congresso - 09/03/2021
Desigualdade de gênero na política é "vergonhosa", diz Simone Tebet
Senadora foi uma das entrevistadas na série do SBT News pelo Dia da Mulher
Histórias de superação ajudam mulheres a vencer desafios
Sbt mulher - 09/03/2021
Histórias de superação ajudam mulheres a vencer desafios
O esporte e a inclusão social; da faxina ao diploma e vítimas de violência que deram a volta por cima
Empreendedorismo feminino: Pará ocupa o 1º lugar da região Norte
Sbt-mulher - 09/03/2021
Empreendedorismo feminino: Pará ocupa o 1º lugar da região Norte
Apesar disso, a saída de mais de 74 mil mulheres do mercado de trabalho teve um grande impacto familiar