Sbt 40 anos

A transformação da educação brasileira nos 40 anos do SBT

Número de crianças e adolescentes que chegam à escola e se mantêm nela é cada vez maior

Um dos aspectos em que o Brasil mais mudou nas últimas quatro décadas foi a educação -e ela é determinante em tudo. Onde a população se escolariza mais, melhoraram os empregos, os salários e as condições de saúde.

Em 1981, quando o SBT foi ao ar pela primeira vez, o Brasil era um país onde uma a cada quatro pessoas não sabia ler e menos de uma em 20 havia passado por uma universidade. Hoje, há mais pessoas que pelo menos começaram um curso universitário do que analfabetos.

E num cenário em que a quantidade de alunos de cursos de graduação cresce, o clássico Show do Milhão, que conta com universitários para ajudar os candidatos a levar o prêmio máximo de R$ 1 milhão, encontra espaço para mais uma fase -a terceira, desde 1999. Aline Gouveia Granja explica que as inscrições dos estudantes interessados já começaram. Produtora do programa, ela trabalha na emissora há 14 anos e acompanha agora o processo de seleção.

"O setor de casting, que está ajudando a gente com o primeiro contato, está vendo as pessoas que se inscreveram, entrando em contato com eles, vendo se realmente estão no perfil, se estão fazendo faculdade mesmo, se estão se graduando, se eles têm interesse", pontua. Os universitários que passam dessa etapa são então encaminhados para Aline. Eles se apresentam a ela por meio de um vídeo e, depois, precisam responder a um questionário de conhecimentos gerais, com perguntas em diferentes níveis de dificuldade, aplicado pela produtora. "Mais para conhecer a linha de raciocínio, a desenvoltura em frente à câmera."

Por enquanto, estão sendo selecionadas pessoas principalmente de São Paulo e arredores. Entre os motivos, diz Aline, está a pandemia, visto que todos precisam fazer testes para covid na emissora e, no caso de resultados positivos, podem retornar para casa sem grandes dificuldades. Ainda de acordo com ela, alunos de cursos de engenharia da computação e outros ligados à tecnologia são os que mais têm se inscrito.

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No começo dos anos 1980, era comum conhecer alguém que não sabia ler e escrever. Essas pessoas sofriam com problemas de toda natureza, inclusive a angústia de não saber se vai pegar o ônibus errado e com isso perder um dinheiro que é pouco mas faz falta. Isso vem se tornando cada vez mais raro.

"É bastante significativo o que a população brasileira, o povo brasileiro, que merece todo elogio, o povo brasileiro, conseguiu em termos de elevação de escolaridade, se você pega da metade do século passado para cá. Porque na metade do século passado para cá, mais da metade da população era analfabeta", diz Sonia Kruppa, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

As profundas desigualdades regionais do Brasil, porém, influenciam onde isso ainda acontece com maior frequência. Mesmo assim, a região com os piores índices atuais está melhor do que a região com os melhores índices em 1981. Isso ainda se concentra mais em alguns estratos da população do que em outros.

"Se você pegar a população analfabeta, em qualquer época do Brasil, você vai ver que a incidência maior é sobre mulheres e sobre negros, durante muito tempo. Depois as mulheres começam a passar a escolaridade dos homens. Mas, sobre os pretos, a desigualdade na educação, ela é muito forte. Se você pegar as pessoas analfabetas agora, você vai ver as mais velhas em especial, que os negros são maioria."

Entre os universitários interessados em participar da nova versão do Show do Milhão, segundo Aline, há mais homens do que mulheres até o momento, mas o número de alunas não é pequeno. No geral, avalia, o perfil dos inscritos está bem variado. "Tem um pessoal tanto mais jovem quanto um pessoal mais velho universitário, pessoas que estão entrando na faculdade com 28 anos, 30 anos, como tem um pessoal que tem 19 anos e está também cursando. Tem muita gente que já está em uma segunda graduação, com 23, 24."

No momento de aplicar o questionário de conhecimentos gerais, algumas surpresas: por enquanto, mesmo candidatos que erram perguntas classificadas como de nível fácil pela produção, acertam outras consideradas difíceis. "É bem relativo (o que é simples e complexo) mesmo. Por exemplo, personagem do Harry Potter, tem gente que não sabe, mas também não é todo mundo que leu realmente, acho que é fácil para quem leu. E essa estava, vai, como uma pergunta fácil. E aí vai perguntar um órgão específico do corpo, a pessoa responde na hora", explica Aline.

Porém, em outro programa tradicional do SBT, o Roda a Roda Jequiti, cujos participantes e o público apresentam perfis ainda mais diversificados, a preocupação da equipe de produção em escolher palavras para o painel que não sejam nem tão complexas nem tão fáceis precisa ser constante. Isso é o que fala Marcos Chaves Balbuena, produtor e redator do Roda a Roda que trabalha no SBT há 15 anos. Segundo ele, "o ideal é que sejam palavras mais populares". "Não adianta você colocar 'inconstitucional'. Às vezes as pessoas podem até acertar, mas vai demorar um tempo maior. Então palavras que são mais difíceis ficam um pouco mais complexas para o programa, porque fica naquilo, as pessoas demoram para acertar, o tempo vai demorando. É um programa que hoje tem só 25 minutos de arte", acrescenta.

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Como exemplos de palavras evitadas, cita "dobradura", que "as pessoas não acertavam de jeito nenhum". Além dessa, "querosene", "jabuticaba" e aquelas iniciadas com as letras "h" e "q"; em relação a esse último caso, a dificuldade por parte do público foi observada principalmente no momento do programa em que, em vez de vários vocábulos, o participante deve acertar apenas um, mas com tamanho maior.

Palavras com variações regionais também são descartadas pelos produtores. "Então, por exemplo, "mexerica". Mexerica é aqui (em São Paulo). Mas você vai para o Rio de Janeiro, é tangerina. Você vai para o sul, é bergamota", pontua Marcos. Ele relembra ainda que pessoas simples representam grande parte dos participantes do Roda a Roda: "Muitas vezes é a primeira vez que está saindo da própria cidade, então a primeira vez que está pegando o avião, que está fazendo tudo isso".

Desde 1981, a quantidade de matrículas na educação básica subiu enquanto a população jovem cresceu e depois caiu conforme essa população se tornou mais rara. Proporcionalmente, uma fatia cada vez maior de crianças e adolescentes chega à escola e se mantém nela.

"A escolaridade obrigatória no Brasil até 1971 era o primário. E obviamente se era quatro anos de escolaridade obrigatoriedade, era isso e não bem, que o estado dispunha de recursos porque os militares cortaram a vinculação de recursos", diz a professora Kruppa. "Então você vai ter uma pressão muito grande em todos os níveis. Pressão por todos os níveis de escolaridade. Não só no ensino superior. É um processo de urbanização e é um processo que leva e que demanda maior escolaridade."

Esse crescimento se deu em grande parte devido ao aumento das verbas constitucionais para a educação, por meio do Fundeb (Fundo para o Desenvolvimento da Educação Básica). "Uma política que deu certo no Brasil, que não pode ser mexida é o Fundeb. E o novo Fundeb, que é um fundo para o desenvolvimento da educação básica, mas mais importante ainda. O Fundeb diz que é básico para todo brasileiro ter a educação garantida, de zero a 17 anos. Que é o percurso da Educação Básica", diz Kruppa.

A evolução do ensino superior, que não tem limite de idade para entrar, conta uma história interessante. Durante toda a década de 1980, o crescimento de vagas foi quase nulo. Nos anos 1990, especialmente com a explosão das universidades particulares, o número de matrículas cresce rapidamente.

Em 1999, quando o Show do Milhão colocou a expressão "vamos chamar os universitários" na boca do povo, o Brasil tinha menos de 2,5 milhões de estudantes matriculados no ensino superior. 

Hoje, existem 6 milhões de matrículas a mais -e quase 2,5 milhões dessas novas vagas estão no ensino à distância, uma modalidade que estava apenas em planejamento em 1999. Esses cursos têm problemas, especialmente de qualidade, mas tiveram um importante papel de aumentar o acesso. "Se a gente quer ciência e tecnologia, e que esse país dê um salto, nós precisamos de jovens, meninos e meninas, muitíssimo bem formados. E não é isto que a gente está vendo com a formação do ensino privado", afirma Kruppa.

Na nova fase do Show Milhão, segundo a produtora Aline, devido à pandemia, muitos dos universitários inscritos ainda não conseguiram aprender presencialmente: "Nunca chegaram a pisar na faculdade, está sendo só meio que ensino à distância, mas que estudaram bastante, fizeram cursinho, tem um conhecimento amplo também". Ainda de acordo com ela, "tem muita gente que está já no último ano, mas faz tempo que não vai para a faculdade".

A equipe de produção tem procurado alunos de diversos cursos, para que formem um grupo de ajudantes capaz de falar sobre os mais variados assuntos. "Porque o legal mesmo é eles conseguirem ajudar o participante a responder as perguntas", pontua Aline. O Roda a Roda, por sua vez, aproveita da repetição de letras para auxiliar os competidores; segundo o produtor Marcos, "quando tem a pista, no jogo de letras você já pode colocar uma palavra um pouco mais difícil, junto com duas mais fáceis, contanto que as letras das mais fáceis vão abrindo nas difíceis". Até porque, fala o profissional, aos outros obstáculos para acertar os vocábulos, soma-se o nervosismo da pessoa de estar em frente às câmeras, aparecendo para o Brasil inteiro e diante não só de um plateia, mas também de um apresentador que ela admira.

Ainda há mais desigualdades a sanar na educação. As políticas de cotas, implementadas desde o começo do século 21, fizeram com que mais estudantes negros e de outras minorias tivessem acesso à universidade. 

"Eu dou aula na USP, eu vou te dizer, eu nunca tive tantos alunos pretos como eu tenho agora. E eu acho isso muito importante", diz Kruppa, que acredita que apenas abrir vagas é só um primeiro passo. É preciso, segundo ela, que a universidade dê assistência aos estudantes mais vulneráveis para que eles possam se dedicar tanto ao estudo quanto seus colegas que não passam pelas mesmas dificuldades.

Na torcida

No Roda a Roda Jequiti, a torcida para que os participantes acertem as palavras no painel e levem prêmios para casa conta com o próprio produtor e redator Marcos Balbuena. Já houve casos, porém, em que ninguém descobriu todas as letras e a gravação precisou ser interrompida para a substituição da pista.

Refletindo sobre as histórias envolvendo o programa e os competidores, destaca uma sobre uma consultora da Jequiti que se tornou empreendedora. "Ela ganhou em um quadro antigo que chamava Palavra Misteriosa, que você abria cada semana uma letra dessa palavra e, a cada semana, ia aumentando em R$ 100 mil (o prêmio). Se eu não me engano ela ganhou R$ 400 mil com essa palavra misteriosa e, com esses R$ 400 mil, ela abriu a primeira loja dela, que é aqui em Osasco (SP) inclusive, de produtos de beleza", fala.

"Aí ela não vendida apenas Jequiti, vendia todas as outras marcas, mas aí ela começou a vender muito e começou a mandar muitos cupons para cá e a ser sorteada diversas vezes, então ela já deve ter participado do Roda a Roda oito ou nove vezes, e dessa primeira já vai para a sexta loja", conclui.

Veja reportagem do SBT Brasil:

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