Sbt 40 anos

A transformação da família brasileira nos 40 anos do SBT

Mulheres passaram a ter menos filhos, mortalidade infantil registrou queda e longevidade aumentou

Os últimos 40 anos trouxeram profundas transformações para as famílias brasileiras. Vivemos por mais tempo, temos menos filhos, uniões ficam para mais tarde, menos gente disputa espaço em casa. Essas mudanças influenciam nos comportamentos e nos hábitos de consumo.

Em 1981, em média, uma mulher brasileira tinha quatro filhos, uma taxa acima da média mundial. Hoje, os números brasileiros ficam levemente acima dos registrados em países de alta renda - e abaixo de dois filhos por mulher, o que os demógrafos chamam de "taxa de reposição".

Mônica Victor, 47 anos, possui dois irmãos, mas fez a escolha de ter apenas uma filha. Produtora do Programa Silvio Santos, no SBT, ela adotou Isabelle, que, em suas palavras, "chegou com todo o amor". Em determinado momento, ela pensou, juntamente com o marido, em ter outras crianças, mas, entre os motivos que levaram o casal a desistir da ideia, está o custo de vida: "Essa mudança se dá também muito pelo estudo que a gente pode proporcionar, porque antigamente as escolas públicas eram boas. Hoje em dia a gente precisa colocar a criança em uma escola particular, pensamos mais no futuro delas".

Um caso similar, que também traduz os dados para o mundo real, é o da supervisora de auditório e inscrições da emissora, Mercia Garção, de 49 anos. Ela possui uma irmã e uma filha -- fruto de seu primeiro casamento, aos 29 anos.

E essa diminuição na quantidade de crianças acontece em paralelo a outro fenômeno importante: se em 1981 as brasileiras perdiam 7% dos bebês até seu primeiro ano de vida, hoje esse fenômeno se tornou mais raro. Pouco mais de um a cada cem bebês morreram antes do seu primeiro aniversário em 2019. É uma queda significativa, numa taxa semelhante à que se via em países ricos nos anos 1980. Mas ainda podemos avançar muito para melhorá-la.

Segundo Simone Wajnman, professora titular do programa de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), "a queda da mortalidade infantil tem a ver tanto com fatores socioeconômicos stricto sensu, como com medidas básicas, como saneamento, por exemplo". "Saneamento urbano. Mas é super importante também a vacinação, que está associada a uma introdução de uma tecnologia que passou a estar disponível para reduzir a mortalidade infantil", completou.

Nesse nível de fecundidade, abaixo da taxa de reposição, a população tende gradualmente a envelhecer, porque renova menos. Isso ocorre porque a saúde das pessoas como um todo melhora, dos recém-nascidos aos mais velhos. Com mais crianças tendo chance de sobreviver, as famílias têm menos filhos. Com melhores condições de vida, os idosos vivem mais. Hoje, o número estimado de brasileiros que passaram dos 70 anos é cinco vezes o que havia em 1980. Já o número de crianças com menos de 15 anos na população era de 45,5 milhões em 1980 e caiu para estimados 44 milhões em 2020.

De acordo com a professora da UFMG, "com a maior longevidade (dos idosos) as pessoas têm mais verticalidade nas famílias. Então é muito comum, crianças pequenas que são ativamente educadas não apenas pelos pais, mas também pelos avós, às vezes pelos bisavós, e, o que é mais frequente, é ter muitos adultos para poucas crianças".

De todo modo, há diferenças importantes de longevidade entre mulheres e homens. O número de brasileiras com mais de 80 anos em 2021 é semelhante ao número de mulheres entre 40 e 44 anos de idade em 1980. Já o dos homens é bem menor. Por vários motivos, especialmente causas violentas na juventude e doenças na idade madura, eles tendem a morrer mais cedo. Nas faixas etárias mais altas, a diferença aumenta: para cada dois brasileiros que passam dos 80 anos, três mulheres chegam lá.

Isso também varia muito entre as regiões. Explore este infográfico interativo e veja como são diferentes as pirâmides etárias do Norte e do Sul do Brasil.

Os arranjos familiares também mudaram com o passar do tempo, em resposta a essas mudanças na família. Como o IBGE ainda não fez o Censo 2020, o país não dispõe do dado mais recente, mas, entre 1991 e 2010, o instituto perguntou como se organizavam as famílias em cada lar brasileiro.

No período, a proporção daquelas formadas por um casal e seus filhos não mudou muito, mantendo-se em cerca de metade dos lares. Já as famílias formadas por um casal sem filhos dispararam. Aquelas (com ou sem filhos, com ou sem cônjuges) que vivem com parentes também aumentaram. Simone Wajnman acrescenta que, no passado, "eram famílias chefiadas por alguém jovem e que traziam os seus idosos dependentes para viverem juntos. Hoje é o contrário. São os idosos, o que a gente chama de idosos, porque a legislação assim determinou, pessoas que são jovens o suficiente para ainda estarem em grande parte das vezes na atividade econômica, e que seus filhos não são capazes de gerar uma renda compatível com aquilo que os pais estão ganhando".

Um indicador importante do aumento no número de famílias que vivem com parentes é que as mulheres deixam para casar mais tarde. Em 1980 havia muitos casamentos de meninas com menos de 20 anos, hoje eles praticamente sumiram do mapa. Nas últimas décadas, também aumentou a proporção de casamentos após os 30 anos, coisa que era rara em 1981.

Com Mônica, a produtora do Programa Silvio Santos, foi assim. Graduada em publicidade e propaganda, quando estava concluindo o curso, em 1999, recebeu a oportunidade de trabalhar como produtora na emissora e não pensou duas vezes antes de aceitar.

Quando criança, participava de caravanas da escola para o SBT e, na adolescência, passou a organizá-las, a convite do Roque, um dos assistentes mais famosos do Silvio. "Eu trazia faculdade para o programa do Jô e do Serginho [Groisman], do Silvio Santos, de todos os outros programas", relembra.

Iniciando a vida profissional, foi fazer ainda uma pós-graduação para se especializar na função que começava a exercer. Posteriormente, ela conheceu o marido no próprio SBT: "A gente vinha junto no (ônibus) fretado". De acordo com ela, "como diz o Silvio, aqui é uma fábrica de sonho e fantasia".

E com a preocupação maior das mulheres em estudar e trabalhar, ao longo dos anos, a plateia do Programa Silvio Santos também se transformou. Segundo Mônica, antes era mais dona de casa. "Era a senhora dona de casa ou as meninas bem novinhas. Agora não, é um público maior. Tem o detalhe que às vezes a pessoa trabalha e não consegue. Vem na folga. Ele atinge todos os públicos." Dessa forma, explica, começou a ir "mais a neta com a vó, porque a mãe está trabalhando". Ela fala ainda que as participantes, atualmente, apresentam outra visão e são mais comunicativas.

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As mudanças nos consumidores em potencial influenciaram também na grade de programação do SBT. Mercia, a supervisora de auditório e inscrições, ressalta que a emissora possui alguns programas "como o do Danilo Gentili". Ainda em suas palavras, "um público mais moderno acabou vindo, frequentando, gostando e se mostrando disponível em outros programas". Entre os mais atrativos aos jovens, estão também o da Eliana e o Casos de Família. Nesse último, diz ela, "muitas pessoas gostam de vir, estudante de psicologia também pra ver essas problemáticas do dia a dia, a participação da Cristina (Rocha) que é sempre muito pontual, muito forte, a Dra. Nair, que dá opiniões que são muito consistentes".

De acordo com Mercia, "o jovem ama o Silvio Santos, porque ele é atemporal. Ele é moderno o tempo inteiro. O jovem também quer assistir. As escolas vêm com muita frequência".

O tamanho absoluto das famílias, no Brasil, também diminuiu. Entre 1981, quando surgiu o SBT, mais de um terço dos lares brasileiros tinham cinco pessoas ou mais -- e muitas vezes um número bem superior. Famílias como a de "Éramos Seis", novela apresentada pela emissora em 1994, eram bastante comuns. Em 2018, dado mais recente calculado pelo IBGE, quanto maior a família, mais rara ela fica. Isso também variou pelas regiões brasileiras.

Tradição

Em meio a tantas transformações nas famílias brasileiras, nos últimos 40 anos, existem hábitos que ganharam novos traços mas que não se perderam por completo. Um deles é a vontade de assistir presencialmente aos programas de auditório, que, em um momento ou outro, contagiam o lar com a dose de alegria necessária para seguir em frente diante das adversidades diárias. Isso é o que fala Mercia. Quando pequena, na década de 1980, os domingos em sua casa eram marcados pelo Programa Silvio Santos, e logo cultivou o sonho de conhecê-lo de perto.

Por meio de uma excursão organizada pelo colégio público onde estudava, foi ao SBT acompanhar, na plateia, o "Vamos Nessa", apresentado na época por Dudu França. "Eu sentava no auditório, era pequenininha, ficava assistindo encantada", relembra. Em outras oportunidades, participou de uma caravana à emissora e chegou a ganhar um par de tênis Montreal no Domingo no Parque. "Eu ficava: 'Nossa, mãe, ganhei um tênis! Que legal'. E marcou minha vida", fala. Porém, a realização do sonho de estar perto do Silvio veio em 1997, quando começou a trabalhar como responsável pela organização das plateias no CDT da Anhanguera.

A partir daquele ano, pôde então acompanhar a forma como os brasileiros mudaram sem deixarem para trás a emoção de participar dos programas: "Nossos auditórios sempre foram uma tradição. As mães passavam o amor para as filhas frequentarem a nossa caravana. Tem funcionárias que trabalhavam aqui que frequentavam a caravana do SBT. Vinham porque a mãe gostava muito do programa, elas assistiam também. O Roque, com seu olhar clínico, via a possibilidade de ter uma boa profissional e trazer para trabalhar com a gente".

Mercia observa que, com o passar dos anos, os públicos que participam das plateias se tornaram mais diversificados, acompanhando a tendência de cada vez mais pessoas se aceitarem como realmente são, e o SBT, inclusive, atua para que seja assim, contando com um Comitê de Diversidade. "Eu converso muito com eles a esse respeito. Queremos estar alinhados, receber todos de braços abertos e da forma como a pessoa se enxerga e respeitá-la", completou.

A busca por interessados em compor as plateias, nos bairros, são feitas pelas chamadas caravanistas. Além disso, é realizado contato telefônico ou por mensagem para agendar o dia da participação. No início, porém, explica a supervisora de auditório e inscrições, era o próprio Roque quem passava com "uma Kombi e um megafone chamando as pessoas para participarem".

"Lá no Teatro (Silvio Santos) às vezes formava aquela fila gigantesca e ele saía convidando mais pessoas que estavam passando pelo caminho", acrescenta. Independentemente das alterações, estar perto dos espectadores continua sendo uma das partes preferidas do trabalho para Mercia. Outra é estar perto de sua equipe. Comentários e histórias que ouve de visitantes indicam que tanto ela como as colegas estão no caminho certo.

"Isso aqui se torna uma diversão para pessoas que muitas vezes não tem condições de assistir um show, não tem condição de ver o seu ídolo, e eu vou com uma caravana próxima à casa dela, ela é totalmente bem recebida, ela realiza um sonho e a gente tira ela de casa.

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