Política

Depois de eleger PT como adversário, Ciro luta para chegar em 3ª lugar

Ao longo da campanha, ex-governador protagonizou embates com Lula; crescimento de Tebet ameaça posição

Ciro Gomes chega ao primeiro turno da eleição depois de uma campanha em que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores (PT) como adversários prioritários. Homem público de larga trajetória - e que, ao se candidatar à Presidência pela quarta vez -, assiste naufragar as pretensões em meio a uma disputa que não aceita meio termo. Logo ele que, na sua própria definição, seria o mais cotado para ser o representante efetivo da 3ª via, mas que mal conseguiu chegar aos dois dígitos computados nas pesquisas de opinião. Ele que não se coligou com nenhum outro partido na missão de formar a chapa à presidência (a candidata a vice, Ana Paula Matos, é do PDT) na algo ilusória constituição de uma chapa "puro sangue", adjetivo com boa dose de marketing que não responde totalmente à indagação sobre sua capacidade de articulação e, principalmente, sobre sua disposição em dividir espaço. De uma forma ou de outra, tornou-se o Ciro que se isolou. 

Mais do mesmo

Pressionado pelo ambiente pró-voto útil estimulado por petistas, decidiu reagir em defesa da própria candidatura às vésperas de 156 milhões de brasileiros digitarem seus votos na urna eletrônica.

" O voto útil que eles pedem é para tornar o nosso amor inútil", Ciro Gomes 

Ciro conclamou a sociedade e a mídia para um pronunciamento de "grande impacto para a nação". Ocupou o espaço para criticar os adversários mais bem colocados nas pesquisas e para reafirmar que segue candidato. Choveram críticas pelo comportamento criador de expectativa para " entregar nada",  como escreveram eleitores nas redes sociais. Ao reafirmar que seguia candidato, envolto num clima eleitoral que tem na definição em primeiro turno a referência obrigatória para a campanha de Lula -- que trabalha para liquidar a parada já no domingo (02.out) -- e para a de Bolsonaro -- que só respira se encontrar uma saída que barre a vitória imediata do petista --, Ciro chancelou projeto político mais do que nunca individual: não apoiar Lula agora e trabalhar para firmar-se como o candidato de esquerda que não represente o passado, o conceito ao qual Ciro há tanto se apega: a ideia do Lulopetismo. 

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Manifesto

Ao empenhar-se em comunicar tal informação "de impacto", Ciro manifesta indiretamente que entendeu haver necessidade de se reafirmar candidato. Na visão dos observadores mais atentos, só se comunica alguma coisa com o intuito de informar, de fazer notícia, quando o público alvo não enxerga essa coisa. Em outras palavras: ao julgar necessário se reafirmar candidato, Ciro emite sinais de que reconhece que ao menos parte de seus correligionários não o vêem mais como tal. Por mais que o pedetista pontifique e reafirme sua posição. No manifesto, na pressão por se fazer ouvir e no teor das críticas ao voto útil e aos adversários, aquele era um Ciro já desidratado, que ao se pronunciar naqueles termos e naquela oportunidade convocada forçosamente, nada mais fez do que passar um recibo. O de que percebera a propensão de muitos de seus partidários e eleitores, em migrar para produzir o impulso que faltava para o lançamento de Lula ao Planalto sem escalas num segundo turno, avaliado por muitos como perigoso.

Agregador de votos

Na prática, a candidatura de Ciro mantém a mesma pontuação que já tinha nas últimas semanas. O agregador de pesquisas do SBT News, feito em parceria com o estúdio de inteligência de dados Lagom Data, posiciona Ciro com 6% de preferência do eleitor no arranjo das diversas pesquisas. Pouco para quem se considera o único capaz de vencer Lula numa disputa de segundo turno. Ainda assim, nas bases da candidatura do PDT, a manutenção da posição de Ciro Gomes chegou a ser comemorada -- por ele não ter perdido pontuação.

Da dificuldade de crescer nas pesquisas apresentada por Ciro, aos poucos se faz evidente uma outra consequência. Com Ciro praticamente estagnado, quem surge no retrovisor é a candidata do MDB, Simone Tebet. Os dois já estão tecnicamente empatados, a depender do recorte a ser observado em cada pesquisa. 

Tanto um quanto outro

Ciro Gomes não deixa, no entanto, de desferir sua crítica também ao candidato Jair Bolsonaro (PL). A diferença é que, ao mencionar Bolsonaro, ele quase sempre o faz citando Lula ao mesmo tempo. São afirmações que o posicionam como cria do que chama de "cultura do ódio de Lula e do PT". O efeito é, em boa medida, fornecer argumentos para a campanha de Bolsonaro. E até certo ponto poupá-lo de avaliações e comentários mais virulentos. Olhado por esse ângulo, o eleitor parece "estranhar" que um antigo aliado do próprio Lula, aponte o dedo de forma tão incisiva para o ex-presidente. Se para alguém que é visto como ente da esquerda conquistar credibilidade - e votos - neste campo está difícil, aproximar-se do eleitor de direita é tarefa ainda mais desgastante. O fato é que Ciro, a poucos dias da eleição, não revela competitividade capaz de reposicioná-lo nas pesquisas e nem nos corações dos eleitores. 

Força e voz

A intensidade das declarações, a fala forte e, por vezes até ríspida, não surpreendem quando partem de Ciro Gomes. Traço característico do candidato, a ênfase em seus pontos de vista permeou toda sua carreira e vida pública até aqui (veja biografia abaixo). O que tem chamado a atenção recentemente, é o teor algo "magoado", um amargor que parece pautar suas ações e pronunciamentos. E aí, mais uma vez, a origem e o foco dos protestos tendem a expor o PT e Lula.  Não são poucos os que com facilidade apontam este ressentimento de Ciro como tendo origem na campanha de 2018, quando Lula e seu partido seguiram com o nome de Fernando Haddad à Presidência -- a partir do momento em que Lula não poderia ser ele próprio o candidato do partido. Ciro queria o apoio dos petistas naquele instante, por se considerar mais forte para a disputa do que Haddad. Sem a aliança há quatro anos, o "troco" de Ciro parece agora inevitável.

Até porque ficou muito conhecida a afirmação, que Ciro atribui a Lula e ao PT, de que ele se ausentou do país, indo para Paris, e não teria ajudado na disputa de segundo turno em 2018. A resposta a essa afirmação é emblemática do momento. Ciro não economiza na virulência.

"Essa é a mentira que o Lula quer que vcs acreditem. Eu estava no país no dia da votação no segundo turno. O que eu não fiz, e não faço, é campanha ao lado de bandido", Ciro Gomes, em sabatina ao Estado de S.Paulo, em 22.set

Ao que tudo indica, a relação entre o ex-governador do Ceará, ex-ministro - inclusive nos governos Lula - e o antigo aliado e o Partido dos Trabalhadores não vai se equilibrar agora. Talvez não se reequilibre nunca. O que não significa que seu partido, o PDT, vá seguir pela mesma toada. O partido já se movimenta para oferecer, ainda que extra oficialmente, apoio individualizado de seus integrantes e eleitores, historicamente afeitos ao campo da esquerda. Mais ações que independem da vontade de Ciro, e que tendem a isolá-lo mais ainda.

Mas as consequências para a candidatura Ciro, para Lula, e para o país, é que ficam para ser aferidas depois do aqui e agora da eleição mais importante -- e mais acirrada -- da história da redemocratização do Brasil.  

Biografia

Ciro Ferreira Gomes tem 64 anos e nasceu em Pindamonhangaba (SP). Começou a vida política em 1982, como deputado estadual pelo PDS do Ceará, estado onde estabeleceu sua carreira política. Dois anos depois foi para o PMDB legenda pela qual se reelegeu em 1986. 

Em 1988 foi eleito prefeito de Fortaleza. Em 1990 se filiou ao PSDB, pelo qual se elegeu governador do Ceará. Em 1994, foi ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco, quando participou da formulação do Plano Real. Foi candidato à presidência em 1998 pelo PPS e tentou novamente em 2002 pela coligação Frente Trabalhista (PPS, PDT e PTB).

Entre 2003 e 2006 ocupou o cargo de ministro da Integração Nacional no governo Lula. Deixou o PPS, entrou no PSB, e se elegeu deputado federal. Em 2013 tornou-se secretário de saúde do Ceará. Saiu do PSB e foi para o PROS, permanecendo até 2015, e depois filiou-se ao PDT. Candidatou-se à presidência pela terceira vez em 2018. Disputa agora em 2022 a quarta eleição para a presidência da República. Sua candidata a vice é Ana Paula Andrade Matos Moreira, também do PDT, que é administradora de empresas e hoje é vice-prefeita de Salvador. 

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