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Brasil no G7: retorno do país à cúpula vira trunfo de Lula

Essa é a 7ª participação do país e do presidente no debate das nações mais industrializadas do mundo, após um hiato de 14 anos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desembarcou na madrugada de 6ª feira (19.mai) em Hiroshima, no Japão, para participar da cúpula do G7, grupo que reúne sete das nações mais industrializadas do mundo (Japão, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Reino Unido).

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É praxe o grupo convidar chefes de Estado de outras nações para os encontros anuais. Esse ano, o Japão, que ocupa a presidência rotativa, chamou a Austrália, Ilhas Comores, Ilhas Cook, Indonésia, Índia, Vietnã e Coreia do Sul, assim como o Brasil -- algo que não acontecia há 14 anos.

Esta será a sétima participação do Brasil na cúpula, de Lula também. Na condição de presidente: ele esteve presente nas seis edições do encontro realizadas entre 2003 e 2009.

Para o cientista político e consultor de Relações Governamentais na BMJ, Lucas Fernandes, é simbólico que o retorno do Brasil também marque a volta do petista ao poder.

"É um sinal de prestígio do Brasil. O país volta a ser enfim convidado para estar no debate das principais economias, o que é muito estratégico para os interesses nacionais e, do lado do Lula, de um ponto de vista personalista, deve ser muito explorado também, porque todas as vezes em que o Brasil foi convidado a estar no G7, o Lula era presidente.", avalia. 

Além dos painéis oficiais da cúpula, Lula cumpre uma extensa lista de encontros bilaterais; oito no total. Entre os compromissos estão reuniões com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi; o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz; o presidente da França, Emmanuel Macron; o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida; o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese; o presidente da Indonésia, Joko Widodo; e o primeiro-ministro do Vietnã, Pham Minh Chinh.

Reuniões bilaterais

O primeiro encontro foi com o primeiro-ministro da Austrália. Na reunião, realizada na 6ª feira (19.mai), Lula afirmou que uma das prioridades do governo brasileiro é reforçar a proteção do meio ambiente e da biodiversidade, mencionando os investimentos australianos na produção de hidrogênio verde no estado do Ceará. Segundo o presidente, os investimentos complementam a matriz energética brasileira

Preservação e sustentabilidade devem ser os temas principais de todas as reuniões bilaterais de Lula na cúpula. Isso porque, segundo Ferreira, o Brasil entende que as grandes potências industriais têm a responsabilidade de auxiliar financeiramente os países em desenvolvimento que tem uma grande reserva florestal e de biomas.

"A gente deve ver esse tema sendo um dos focos de debate do Brasil: falar sobre a questão da Amazônia e a necessidade de preservação, principalmente no G7. Essa é a pauta que o Brasil tem usado para se posicionar internacionalmente, e isso faz sentido tanto quando a gente olha para as nossas fortalezas, a nível internacional, e também como estratégia do Lula de fazer um contraponto ao Bolsonaro", pontua o cientista político. 

FMI e ONU

Representantes de organismos internacionais como, entre outros, a União Europeia, Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Organização das Nações Unidas (ONU), também participam da cúpula. Desses, Lula tem encontros programados com a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva e com António Guterres, secretário-geral da ONU.

Na reunião com a diretora-geral do FMI, Lula fará coro a uma preocupação apresentada por Fernando Haddad, durante o G7 Financeiro, que antecipou a cúpula deste fim de semana. 

Em encontro com a secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, o ministro da Fazenda tratou a crise econômica da Argentina e a necessidade de que o FMI flexibilize as metas fiscais do empréstimo de US$ 44,5 bilhões contraído pelo país em 2018.

"Esse assunto deve ser um dos prioritários na reunião do Lula com o FMI, isso porque o Brasil não está 100% seguro de implementar uma linha de crédito para a Argentina. A economia do país está complicada e tem ano eleitoral, e a outra alternativa que tinha sido colocada na mesa, que seria a Argentina entrar nos BRICS para receber recursos do BNDS, também não agrada o governo", explica Fernandes.

Enfrentando uma inflação de quase 110% ao ano e uma seca histórica, a Casa Rosada será incapaz de honrar o acordo. O Governo Federal defende que haja mais flexibilidade por parte do Fundo para renegociar as condições do empréstimo com nosso vizinho. Tal posicionamento faz parte da proposta de Lula de retomar o protagonismo regional do Brasil.

"O Lula está retomando a estratégia de política externa que ele teve nos primeiros mandatos, de estreitamento das relações Sul-Sul. Então, ele deve fazer coro a essa questão, principalmente, a responsabilidade regional que o Brasil tem na América Latina, mas também na sua relação com países africanos e países asiáticos em desenvolvimento", afirma o especialista. 

Com o secretário-geral da ONU, Lula irá focar em questões caras ao governo como o combate à fome, a preservação do meio ambiente e a construção da paz. 

Guerra na Ucrânia

A guerra na Ucrânia é certamente o tema mais espinhoso da cúpula. Enquanto o G7 está bastante alinhado em condenar à invasão e aplicar sanções contra a Rússia, além de demonstrar apoio à Ucrânia, alguns dos países convidados, como Brasil, Índia e Indonésia, por exemplo, relutam em abandonar uma posição de neutralidade em relação ao conflito e aplicar sanções à Rússia, optando por discussões sobre um acordo de paz. 

A participação inesperada de Zelensky na reunião deve reforçar ainda mais a posição do Ocidente sobre a guerra. É esperado que, ao fim da cúpula, um documento seja divulgado com o posicionamento do G7 sobre as questões discutidas e um outro com a posição do grupo e das nações convidadas. 

O consultor da BMJ acredita que devemos esperar, em ambos documentos, uma condenação explícita à invasão do território ucraniano pela Rússia. Ainda assim, o Brasil não irá se comprometer em aplicar sanções.

"Quando falamos dos países do G7 esse posicionamento já está dado né? Devemos ter a manutenção dessa postura mais rigorosa contra a Rússia. Mas, quando a gente fala dos países que foram convidados, alguns deles também apresentam um posicionamento mais neutro, parecido com o do Brasil. Devemos esperar, sim, nesse documento uma condenação explícita à invasão do território ucraniano pela Rússia. Agora, o Brasil não deve se comprometer com nenhum outro tipo de sanção que seja anunciada", analisa.

China

A crescente influência econômica e política da China no Indo-Pacífico e na América Latina também deve ser tema da cúpula, assim como o conflito comercial entre o país e os EUA. Além disso, o aumento do arsenal nuclear de Pequim e a tensão cada vez maior com Taiwan são, segundo o G7, uma "preocupação para a estabilidade global". 

Contudo, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, e tais críticas devem ser rebatidas por Lula com a necessidade de mais investimento na região por parte do próprio Estados Unidos e Ocidente. 

"O conflito comercial entre China e Estados Unidos também deve ser um ponto de ponderação para o G7, e, nesse sentido, o Lula deve cobrar mais investimentos, principalmente dos Estados Unidos, que fazem uma crítica grande a presença chinesa, aos investimentos chineses na região, considerando isso como uma ameaça à soberania dos países latino-americanos, mas não fazem muita contrapartida, né? Não designam ali montantes tão volumosos de investimento quanto a China faz", exemplifica Ferreira.

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