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EUA pedem que países considerem os custos de trabalhar com a Rússia

Ao SBT, porta-voz americano comentou a proposta do presidente Lula de reativar o diálogo com Moscou

Washington DC - No dia 24 de fevereiro, a invasão russa da Ucrânia completa um ano. Na última 2ª feira (20.fev), o presidente americano Joe Biden fez uma visita surpresa a Kiev e, ao lado de Volodymyr Zelenskyy, levou ao mundo a imagem da derrota russa no propósito -- até hoje frustrado -- de conquistar o país vizinho. Um dia depois, Vladimir Putin discursou no parlamento russo em Moscou, subiu o tom das acusações contra o ocidente e anunciou a suspensão do último acordo nuclear firmado com os Estados Unidos -- ato que as Nações Unidas veem com preocupação. Na Polônia, Biden afirmou que a guerra acaba se a Rússia parar de atacar a Ucrânia, mas que se Kiev não se defender isso significará o fim da Ucrânia.

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Em visita a Washington para a reunião bilateral com Joe Biden, no dia 10 de fevereiro, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu um esforço conjunto de países neutros para a promoção do diálogo entre Rússia e Ucrânia. Em entrevista ao SBT, o porta-voz do Departamento de Estado Christopher Johnson afirmou que não poderia falar sobre um acordo hipotético, mas que os Estados Unidos estariam abertos a apoiar um diálogo desde que os princípios da integridade territorial e soberania da Ucrânia fossem respeitados e se Kiev participasse dessa decisão. Questionado sobre o fato do Brasil ter se posicionado distintas vezes diplomaticamente na ONU de maneira a condenar a invasão, mas ao mesmo tempo, ponderar as sanções contra empresas russas, Johnson afirmou que os Estados Unidos entendem quando outros países tomam posturas diplomáticas diferentes em relação a este conflito, mas que o respeito à soberania da Ucrânia deve prevalecer assim como o direito à paz daquele povo. "Vamos continuar dialogando com o Brasil, com todos os aliados na região para ver quais são os pontos que podemos trabalhar em comum e onde podemos identificar outras linhas de esforço para terminar com este conflito", disse. 

Johnson ainda destacou que Estados Unidos e Brasil trabalham em conjunto na área de mudança climática e de insegurança alimentar, "que é parcialmente resultado do que estamos vendo na Ucrânia", disse. 

Assista e leia a entrevista completa em português:

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Que mensagem os Estados Unidos passam para o mundo e para Moscou às vésperas da invasão russa completar um ano?

CJ: A nossa mensagem é: estamos com a Ucrânia. Ficamos apoiando a Ucrânia. Evidentemente a visita é uma das várias amostras que temos deste apoio do nosso governo e do nosso povo dos Estados Unidos. Estamos ajudando na área humanitária, na área de segurança, também com o orçamento do governo ucraniano para assegurar que pode continuar a fornecer serviços críticos durante o inverno, assegurar que eles estão recebendo a assistência que eles precisam. A nossa mensagem é que ficaremos com a Ucrânia pelo tempo que for necessário. 

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva numa visita aqui a Washington e à Casa Branca, em uma reunião que teve com Joe Biden, falou sobre a necessidade do diálogo, segundo o seu ponto de vista. O presidente brasileiro chegou a sugerir inclusive nesta visita aqui a Washington a criação de um grupo de países neutros para estimular o diálogo entre Kiev e Moscou - entre Putin, inclusive, e Volodymyr Zelenskyy. Como os Estados Unidos reagem a esta proposta ou a esta sugestão brasileira de agir com neutralidade para incentivar o diálogo?

CJ: Para os Estados Unidos é importante que qualquer solução para terminar com esta guerra seja uma que respeite a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Além disso, esta resposta deve ser feita com a Ucrânia. Não podemos solucionar esta guerra sem a participação deles. Não posso falar de um acordo hipotético, mas estaríamos abertos a apoiar um diálogo que respeite estes dois princípios. 

A diplomacia brasileira em diferentes oportunidades na ONU, na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança condenou a invasão russa e, ao mesmo tempo, questionou ou ponderou as sanções contra instituições russas por serem, segundo a diplomacia, unilaterais. Como resolver esta questão diplomaticamente entre Estados Unidos e Brasil já que existe uma diferença na maneira em que os dois países enxergam as sanções?

CJ: Também teria que destacar que muitas destas sanções não são unilaterais. Temos vários associados que estão ajudando a implementá-las. O G7, vários aliados na Europa que estão buscando aumentar os custos para a Rússia para assegurar que esta guerra termine o mais rápido possível. Na Assembleia Geral da ONU temos visto que vários países votaram condenando a agressão da Rússia. Para nós, é importante usarmos todas as ferramentas para assegurar que o Putin saiba que esta guerra tem que terminar e que tem que respeitar os direitos internacionais da Ucrânia.

Ainda sobre o Brasil, no campo diplomático e também político, o que os Estados Unidos esperam do Brasil em relação à posição política e diplomática com a Rússia neste conflito?

CJ: O mais importante é respeitar os direitos de todos os países no mundo, respeitar os princípios da carta da ONU. Então entendemos quando outros países tomam outras posturas diplomáticas em relação a este conflito. O que vamos continuar chamando é para que todos respeitem estes princípios para chegar a esta solução, para que o povo ucraniano possa aproveitar da paz no futuro o mais rápido possível. Vamos continuar dialogando com o Brasil, com todos os aliados na região para ver quais são os pontos que podemos trabalhar em comum e onde podemos identificar outras linhas de esforço para terminar com este conflito. 

Depois da visita do presidente Lula aqui a Washington é possível destacar de forma ampla ou talvez um pouco mais específica se houve algum avanço no diálogo entre os dois países em relação ao conflito Ucrânia-Rússia?

CJ: No momento não tenho informações para compartilhar sobre este assunto, mas é importante falar sobre as várias outras áreas que estamos trabalhando em conjunto. Na área de mudança climática, de insegurança alimentar que é parcialmente resultado do que estamos vendo na Ucrânia. O Brasil vai continuar sendo um grande aliado para os Estados Unidos e estamos felizes em contar com esta parceria. 

O presidente Joe Biden segue na Polônia, ele tem uma reunião com o grupo de aliados da OTAN de sete países. Qual a posição americana em mostrar apoio aos aliados da OTAN?

CJ: Além da OTAN, contamos com 50 países que já ajudaram nos esforços militares. Estamos coordenando vários elementos para assegurar que a Ucrânia possa se defender. Estamos felizes em contar com esta parceria. Vamos continuar identificando quais são os outros recursos que a Ucrânia precisa para continuar a se defender contra a invasão russa e esta reunião vai ser um desses mecanismos para continuar com os nossos aliados o apoiando. 

Os Estados Unidos devem anunciar novas sanções no marco de um ano da invasão e com a presença do presidente Joe Biden na região. Alguma mensagem ou orientação a países latinos como o Brasil sobre como proceder com negócios com empresas russas?

CJ: A nossa intenção com estas sanções é aumentar os custos para o governo russo. Nunca é a nossa intenção prejudicar outros países, outros membros da comunidade internacional quando implementamos essas sanções. O que orientamos aos que pensam em ajudar a Rússia em qualquer âmbito e que pensem no sofrimento humano que vemos na Ucrânia. Lamentavelmente, estamos vendo crimes de guerra. Uma detecção que vimos no fim de semana, estamos vendo estupros, tortura. Várias violações dos direitos internacionais. Então chamemos a todos que considerassem quais são os custos de trabalhar com a Rússia neste momento.

Perfil

Christopher Johnson é diplomata, porta-voz em português do Departamento de Estado americano e vice-diretor de Mídia das Américas em Miami, Flórida. Serviu anteriormente nas missões diplomáticas dos Estados Unidos no Haiti, Paraguai e Brasil. Mestre em Políticas Públicas pela Princeton University e Bacharel em Relações Internacionais e Estudos Latinoamericanos pela New York University. 
 

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