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"Se os ucranianos pararem de lutar, não haverá mais Ucrânia"

Em Londres, ativista ucraniana critica neutralidade do Brasil e defende bombardeios de alvos militares em território russo

Ela é advogada, foi vereadora em Kiev e, antes do início do conflito em fevereiro do ano passado, trabalhava com políticas de transparência governamental para controle da corrupção. Olena Halushka refere-se à guerra na Ucrânia como segunda invasão. A primeira, ela lembra, foi em 2014, quando a Rússia tomou a Criméia e parte dos territórios no leste do seu país, algo que Moscou, à época, alegava que era uma ação do próprio povo da região que queria independência. No ano passado, Vladimir Putin anexou ilegalmente 4 províncias naquela parte da Ucrânia.  

Como muitos em seu país, Olena Halushka fala com desenvoltura sobre armas e equipamentos militares. Ela é uma das fundadoras de um grupo apenas de mulheres chamado Centro Internacional para a Vitória da Ucrânia, com sede em Varsóvia, capital da Polônia, onde vive atualmente. ICVU (International Centre for Ukrainian Victory) é a sigla em inglês.

Enquanto está em Londres, onde tem encontros com autoridades britânicas e representantes da sociedade civil, Olena acompanha mais um capítulo da novela diplomática em torno dos Leopard 2, tanques de guerra fabricados na Alemanha. Os alemães ainda não decidiram se vão doar mais esse tipo de armamento à Ucrânia. Outras nações europeias, como a Polônia, fazem pressão pra que isso aconteça.

Ela e outras mulheres ucranianas viajam o mundo em busca de apoio para a Ucrânia. Elas e a organização que fundaram são mais um elemento de uma complexa teia diplomática usada por Kiev. Em conversa com o SBT News, ela criticou a neutralidade do Brasil e deu uma pista do que pode ser a próxima grande batalha diplomática de seu país. Olena faz parte de um grupo cada vez mais vocal que defende o bombardeio de alvos em território russo. Essa possibilidade sempre foi rechaçada pelos países aliados que estão enviando armamentos para a Ucrânia.

A seguir, um trecho da entrevista concedida à coluna, em Londres.  

Porque vocês vêm ao Reino Unido, que já é um país que está tão alinhado à Ucrânia?

Olena Halushka - Estamos aqui, antes de mais nada, pra expressar nosso agradecimento ao povo britânico pela assistência que nos deram, que é necessária pra nossa vitória, mas também pra pedir mais pra que a vitória venha mais rápido.

O que é esse "mais"?

Olena Halushka - Assistência militar.

Tanques?

Olena Halushka - Estamos muito agradecidos pelos Chalenger, mas esperamos que isso desbloqueie o envio dos tanques "Leopard 2", que são operados por 13 países na Europa, mas também equipamentos pessoais de combate e ainda mísseis de longo alcance pra que a gente possa bombardear os lançadores de mísseis russos.

Em território russo?

Olena Halushka - Sim, é muito importante. Nem todos os sistemas de defesa antiaéreo tem 100% de eficiência e quando a gente tenta derrubar aqueles mísseis que já estão sobre o nosso território, nós teremos, de todo jeito, um certo percentual que vai nos acertar.

Mas vocês ainda não convenceram os países europeus de que o armamento que eles estão dando a vocês podem ser usados pra acertar alvos em território russo...

Olena Halushka - Ainda não, mas continuamos falando com eles e tentando explicar porque é importante lutar contra a fonte e não contra as consequências.

Brasil. Quão importante é a opinião do Brasil nessa invasão, nessa crise. É algo que é importante, mas não tão importante quanto a dos europeus? Como vocês veem a posição do Brasil?

Olena Halushka - Eu acho que é muito importante ter todos os Estados democráticos a bordo apoiando a Ucrânia nesse ato não provocado de agressão da Rússia. E porque é importante? O que estamos vendo hoje é a Rússia destruindo a ordem mundial, levantando uma guerra imperialista de conquista. Se não pararmos isso, vai-se abrir a Caixa de Pandora de ditadores que tenham poder de fogo suficiente, um exército suficiente pra reescrever fronteiras internacionalmente reconhecidas de outros países à força. Então, todos os países democráticos estão interessados em defender essa ordem de soberania e lei internacional.

A neutralidade do Brasil é algo que vocês entendem e aceitam?

Olena Halushka - Nós não entendemos. Não pode haver neutralidade quando há um genocídio em curso e quando um país está tentando assumir o controle de outro só pra implementar suas ambições imperialistas. Não pode haver neutralidade. Ou você fica ao lado das vítimas que estão tentando sobreviver ou a neutralidade que serve apenas ao agressor. 

O que você gostaria de dizer ao povo e ao governo brasileiros?

Olena Halushka - O que eu gostaria de dizer é que os ucranianos estão enfrentando uma guerra e um genocídio em larga escala, que está sendo feito pela Rússia porque eles querem restaurar a União Soviética. Em um dos seus discursos, o presidente russo Vladimir Putin disse que o colapso da União Soviética foi a maior tragédia do século passado. Pra nós, como nação independente, a União Soviética era uma prisão de nações. Então, o colapso da União Soviética foi uma das grandes conquistas do século passado. Nós estamos lutando agora pelo direito de viver no nosso país soberano e independente, que é reconhecido pelas leis internacionais. Só queremos ter vidas decentes, com lei, sem corrupção, com uma economia de mercado. Neste momento, estamos defendendo o nosso direito de existir no campo de batalha. Há milhões de ucranianos refugiados, há milhões de ucranianos, inclusive crianças, sendo deportados para a Rússia. Não há vários tons de cinza aqui. É preto e branco. Nós estamos lutando por nossa sobrevivência. A Rússia está lutando por suas ambições imperialistas. Tem um ditado interessante que diz o seguinte: Se a Rússia parar de lutar, não haverá guerra. Se os ucranianos pararem de lutar, não haverá mais Ucrânia. 

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