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Quinteros: "campanha do medo" levou ao rechaço da Constituição chilena

Presidente da Convenção Constitucional analisa texto e tentar apontar causas que levaram à rejeição

As notícias falsas usadas para criar uma "campanha do medo" foram uma das razões para que a proposta de nova Constituição chilena fosse rejeitada. Essa é a avaliação da ex-constituinte María Elisa Quinteros, que presidiu a Convenção Constitucional, formada para escrever a nova Carta Magna do país.

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Após a onda de protestos que tomou o Chile em 2019, a população votou pela convocação de uma constituinte para a redação de um novo texto. O que estava em vigor até então fora escrito em 1980, durante a ditadura de Augusto Pinochet -- uma das mais violentas da América Latina.

A nova Constituição, então, nasceu, sob a perspectiva do século 21: definia o Chile como plurinacional -- em resposta à demanda dos povos originários -- e paritário -- com 50% de mulheres ocupando cargos públicos. Também contemplava direitos sociais, entre eles, o direito à greve, que hoje não é universal no país.

Contudo, o texto, que virou modelo para as esquerdas latinas, acabou rejeitado, com o voto contrário de mais de 62% dos 13 milhões de eleitores que foram obrigados a irem às urnas -- o que não acontece em outras eleições.

Quinteros, 40 anos, odontóloga de formação, mestre em Saúde pública, professora universitária, oriunda de movimentos sociais e que se autodeclara independente no espectro político -- eleita presidente da Constituinte exatamente pela capacidade de diálogo com esquerda e direita --, nega que o texto seja utópico. Em entrevista ao SBT News -- feita um dia depois do rechaço à nova Constituição --, ela faz uma avaliação do texto rejeitado pelos chilenos e tenta elencar as razões que o levaram a não ser aprovado. Confira:

Como a senhora avalia a Constituição que foi rejeitada?
Avalio como um bom projeto de sociedade, que incorpora as demandas sentidas pelos cidadãos em diferentes esferas: direitos sociais, natureza, paridade, trabalho doméstico e de cuidados, reconhecimento de grupos historicamente excluídos, etc.

Na sua opinião, o que levou ao rechaço?
Ainda é cedo para fazer esse tipo de análise, devemos esperar que as pessoas da área possam dar sua opinião com mais fundamentos. No entanto, a priori, eu diria que é multifatorial, uma vez que não se pode atribuir uma única causa. Entre os fatores, destacaria: voto obrigatório com a participação de pessoas não interessadas em aspectos políticos; desafeto político e voto destituído; estereótipos conservadores e sua amplificação; aspectos da psicologia de massa onde os aspectos negativos são difíceis de contrariar com os positivos; campanha do medo; assimetria nas contribuições em campanha eleitoral; erros na convenção e nas sua caracterização; falta de inclusão de setores populares; concentração dos meios de comunicação, entre outros. Como dizia, é difícil fazer uma análise mais aprofundada a um dia da votação.

A ex-constituinte em campanha pela aprovação do texto | Reprodução/Redes sociais

Pode-se dizer que o texto era muito utópico?
De forma alguma. É um texto que responde às necessidades das sociedades modernas.

A senhora foi eleita presidente da Convenção Constitucional pela capacidade de dialogar com grupos oponentes. Como imagina que será a partir de agora? O que a senhora espera de uma nova Constituição?
Espero que a classe política saiba dar respostas às necessidades dos chilenos, assumindo as demandas históricas em matéria de direitos.

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