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'Não permitam que tirem nossos direitos' diz jornalista afegã

Impedida pelo Talibã de entrar no edifício da TV onde trabalha como apresentadora, Shabnam Khan Dawran disse ao SBTNews que perdeu a esperança de um futuro melhor

Nova York - São nove horas que separam esta parte dos Estados Unidos da capital afegã, Cabul. Fato que faz do fim da noite e começo da madrugada o melhor horário para o contato com as pessoas que estão naquela parte do mundo. Nesta última quinta-feira, 19 de agosto, uma mensagem deixada em uma rede social por esta jornalista recebeu resposta. Do outro lado estava uma colega de trabalho. Uma profissional da mídia, apresentadora de TV. Ela se chama Shabnam Dawran e teve um vídeo publicado na internet no qual afirma que foi impedida de entrar na sede da emissora em que trabalha por homens do Talebã. Com a identificação da empresa RTA, TV estatal afegã ainda no corpo, ela diz: "Após a troca pelo regime (Talibã) eu não perdi minha coragem e compareci ao trabalho. Infelizmente eu fui impedida apesar de estar portando minha credencial. Trabalhadores homens foram permitidos entrar mas eu fui ameaçada. Eles me disseram: 'o regime mudou, vá para casa'. Estas são ameaças sérias contra nós. Se a comunidade internacional puder ouvir minha voz, todas as organizações relevantes puderem nos ajudar. Nossas vidas estão sob séria ameaça".

Perguntei à Shabnam se poderíamos fazer uma entrevista por vídeo. "Não posso". Foi a segunda jornalista a dar esta resposta. Um dia antes, Sakina Amiri, repórter afegã que foi fotografada em uma imagem que viralizou na internet respondeu que não estava em uma situação segura para dar entrevista em áudio ou vídeo. A afirmação foi feita depois que a foto dela à frente de talibãs com roupas coloridas foi noticiada pelo mundo. "Estava ali para entrevistar um alto nome do regime e aproveitei antes de sua chegada para conversar com o grupo que estava ali. Primeiro disseram que não aprovavam o jeito que eu estava vestida, que eu deveria me cobrir por completo incluindo o rosto" disse Sakina à BBC. Foi depois deste relato para o site britânico que a jornalista afirmou não estar mais em uma condição segura.

De Shabnam, as respostas vieram rapidamente por mensagens de texto. A apresentadora de TV disse que a segurança no Afeganistão é terrível para todos, especialmente mulheres jornalistas. "Não éramos seguras quando era uma república, imagine agora no regime". Ela também mandou uma mensagem para o mundo: "Por favor, por favor, não permitam ataques terroristas e que o Talibã ameace nossos direitos básico, especialmente os das mulheres afegãs. Por favor, salvem minha vida". Shabnam disse ainda que perdeu a esperança por um futuro melhor. Quando perguntei se ela quer continuar no Afeganistão, a jornalista respondeu que deixar o trabalho de vez e sair do país seria um arrependimento. 

Nesta sexta-feira, 20, a Federação Internacional de jornalistas disse, em um comunicado, que o medo e relação à tomada do Talibã é agudo. "As mulheres da mídia têm o direito de trabalhar e sua segurança deve ser garantida" afirma o texto. 

Seis dias da queda de Cabul. Tão rápida quanto a tomada da cidade e do país pelo Talibã é a velocidade da mudança de discurso do regime que afirmava no começo da semana que os direitos das mulheres seriam respeitados. 

Jornalista afegã Sakina Amiri entrevista integrantes do Talibã em Cabul. Foto: Zaki Daryabi/Etilaatroz
A jornalista afegã Sakina Amiri entrevista integrantes do Talibã em Cabul. Foto: Zaki Daryabi/Etilaatroz
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