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Nos EUA, Ministro da Colômbia defende união latina durante a pandemia

Ao SBT News, Fernando Gómez também diz que consórcio Covax tem dificuldade para estabelecer cronograma

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Washington D.C. -- No mesmo dia em que o Centro de Controle de Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) anunciou mudanças na orientação do uso da máscara em ambientes internos para qualquer pessoa, incluindo as imunizadas contra covid-19, por conta do risco da variante Delta, o SBT News conversou com o co-presidente do consórcio Covax e ministro da Saúde da Colômbia, Fernando Ruiz Gómez. A preocupação com as diferentes cepas do novo coronavírus é mundial. Em Washington, na véspera de um encontro com o secretário de Saúde dos Estados Unidos, Ruiz Gómez falou sobre os desafios da imunização contra a covid-19 na América Latina. Ele representa, no consórcio Covax, 36 países de diferentes partes do mundo e disse que um desafio para os sul-americanos é a criação de uma integração multilateral, por exemplo, para a compra conjunta de vacinas. O ministro ainda falou sobre o plano da Colômbia de imunizar os imigrantes venezuelanos, e definiu a participação brasileira no Covax como positiva.

Quais são os critérios para envio de vacinas contra covid-19 aos países? 

Basicamente, eu represento os países que autofinanciam e que não necessariamente são países ricos, são, digamos, de nível, de renda média. E a vacina realmente está chegando com um critério que chamamos algoritmos: fórmulas de distribuição baseadas fundamentalmente no tamanho populacional e nas compras específicas que foram feitas por cada país com base no tipo de contrato feito. É essa a fórmula que está distribuindo a vacina nos diferentes países do mundo.

Há como projetar quanto cada país irá receber até o fim do ano via contrato Covax?

Realmente na Covax temos tido dificuldades para poder estabelecer um cronograma de vacinas muito preciso, na medida que estamos tendo problemas com o cumprimento de algumas entregas de vacinas, particularmente da Índia, também Coreia do Sul. E é um problema que estamos enfrentando não só na Covax, mas no mundo inteiro. 

Qual seria a maior dificuldade?

É saber se a quantidade de fornecimento vai chegar até o fim do ano. Já o Covax, no passado, o seu conselho diretor estabeleceu os cronogramas para os próximos dois meses e fez a promessa de que para o final do mês de dezembro iria ter a disponibilidade das vacinas completa para todos os períodos que foram ditos para os diferentes países. A maior dúvida está em como se vai distribuir ao longo dos próximos meses e o que se espera é que estejam principalmente concentradas no último quadrimestre, nos meses de outubro, novembro e dezembro.

O senhor também é co-presidente da Covax. Por que não há, até hoje, na América Latina uma integração multilateral para o envio de vacinas?

Acredito que é realmente um dos temas críticos na nossa região. É que cada país estava tentando adquirir vacinas por conta própria, com convênios bilaterais, trabalhando com a Covax. Mas não tivemos instâncias de integração e cooperação suficientemente fortes para fazer compras em comum, ou para poder ter um peso da região na aquisição de vacinas.

Isso pode passar?

Isso tem que passar. Isso teremos que visualizar no futuro. É uma das razões pelas quais estou passando um tempo aqui nos Estados Unidos. Com algumas reuniões que vou ter com o secretário de saúde dos Estados Unidos, Xavier Becerra, e com a própria Organização Panamericana de Saúde. Como nos fortalecer, porque não sabemos quanto tempo mais vamos estar com este tema das vacinas. Se há necessidade de seguir vacinando em 2022, em 2023. Então a região tem que ter uma capacidade suficiente para atuar de maneira coordenada e de alguma maneira transcender o problema país por país.

O que pode adiantar sobre a reunião que vai ter com o secretário de Saúde dos Estados Unidos? Como os EUA podem cooperar para o envio de vacinas de uma forma mais integrada aos países da América do Sul?

Sim, os Estados Unidos vão entregar vacinas bilateralmente e também através da Covax. Eu também venho especialmente agradecer ao governo dos Estados Unidos, porque a Colômbia recebeu 6 milhões de vacinas doadas.

A última doação foi há pouco tempo, 3,5 milhões de doses da Moderna...

Sim, três milhões das vacinas da Moderna fazem três dias praticamente. Chegaram à Colômbia e, neste momento, já estão sendo distribuídas. Tem sido um apoio muito importante para o nosso plano de vacinação. Mas teremos temas também que valem para todo continente, como o tema da vacinação de imigrantes venezuelanos que estão transitando por toda América do Sul. De alguma maneira é um problema que temos que confrontar, não como um problema de cada país, mas como um tema de região que temos que proteger. Como se falou em muitos meios, até que estejamos todos protegidos, ninguém vai estar protegido. E é um assunto muito importante para nosso continente.

O senhor comentou sobre os migrantes da Venezuela. Mas do ponto de vista da Colômbia, qual é a intenção de vacinar migrantes, por exemplo. Recentemente, o país abriu as fronteiras para pessoas que saem do Brasil... Há uma intenção do governo de vacinar outras pessoas que estejam em solo colombiano?

A Colômbia, por iniciativa do presidente [Iván] Duque, criou um "TPS", um status migratório temporário para os venezuelanos. Temos uma estimativa de cerca de 2 milhões de imigrantes venezuelanos na Colômbia, dos quais 800 mil estão de forma legal e cerca de 1,2 milhão não tem está em condição legal na Colômbia. Eles serão regularizados, mas, por enquanto, nosso plano de vacinação só nos permite vacinar os imigrantes regularizados. Para os que não têm o estado regular, teremos que fazer um plano de vacinação e coordenar em todo continente para ver como vamos vaciná-los, como vamos chegar a eles. A Colômbia é o primeiro lugar pelo qual eles passam. Então é fundamental aplicar vacinas e fazer com que eles cheguem a outros países, como Equador, Brasil, Argentina, Chile, já com uma proteção que permita aos países ter uma tranquilidade de que as pessoas vão estar protegidas.

Como o Ministério da Saúde da Colômbia vê as variantes? Aqui nos Estados Unidos, recentemente, o CDC fez recomendações à população e mudou a recomendação sobre uso de máscara...

A variante está chegando na Colômbia um pouco mais tarde do que em outros países da América Latina. Em outros países foi identificado há semanas. Para nós, os estudos genômicos foram liberados há apenas quatro dias. Mas, evidentemente que estamos mantendo o uso de máscaras e mantendo as recomendações farmacológicas pelo menos até o fim do ano. [As variantes] são um fator que vai estar crescendo permanentemente. 

Há uma preocupação na Colômbia com a variante brasileira?

Há uma preocupação com as diferentes cepas. Vão estar surgindo em todo momento. Temos uma variante que estava no norte da América do Sul, na zona da América Central, que se denomina como B.1.6.2, e essa cepa se tornou predominante na Colômbia. Mas isso é um tema diário. Por isso o importante é a vacinação. Avançar na vacinação e ter a capacidade de identificar cepas que estão chegando para poder atuar claramente com todo o processo. Mas eu creio que a vacinação e a manutenção das medidas são o ponto chave. Nós não podemos ficar colocando e retirando recomendações. Temos que dar o recado de que é necessário se proteger.

No consórcio Covax, como está a integração do Brasil com outros países da América Latina, no ponto de vista da Colômbia?

Temos trabalhado em região por região. Temos grupos de trabalho, fazemos cursos com os países asiáticos, africanos, latino-americanos. A Colômbia designou um grupo especial de pessoas com status diplomáticos, mas também técnicos para apoiar a todos os países frente à Covax. A verdade é que o Brasil tem sido um país muito ativo que tem participado de todas reuniões de forma positiva e com colaboração, de forma de que todos os países estão muito agradecidos com a participação do governo brasileiro.

Como co-presidente da Covax e pela experiência como ministro, o plano de uma dose a mais da vacina é algo que se fala na Colômbia?

A evidência científica ainda não é conclusiva. Mas é um assunto sobre o qual os governos terão de tomar decisões rapidamente. A via científica com certeza deve chegar a uma conclusão neste semestre, se é necessário ter uma dose extra ou não. Claramente temos que tomar decisões com antecipação. E a Colômbia já está tomando a decisão de, provavelmente, pelo menos estar negociando com as empresas farmacêuticas a aquisição de uma dose extra para aplicar ao longo de 2022.

O senhor comentou que veio agradecer ao governo dos Estados Unidos. Quantas outras nações podem ajudar países como os da América Latina?

Os países europeus, por exemplo, vieram fazendo anúncios muito importantes de doações de vacinas. O Canadá também. Porém, no último encontro do conselho diretivo da Covax também apresentamos a necessidade de que os anúncios se transformem em realidade. Que realmente tenhamos as vacinas nesses países e que possamos rapidamente completar os planos de vacinação.

Fernando Ruiz Gómez, Ministro da Saúde da Colômbia em entrevista ao SBT | Reprodução/SBT

Perfil:

Fernando Ruiz Gómez: Médico colombiano e doutor em saúde pública pelo Instituto Nacional de Saúde Pública do México. Tomou posse em março de 2020 como ministro da Saúde da Colômbia e é co-presidente do consórcio Covax.

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