Boris Johnson busca soluções para maior crise de seu governo, no Reino Unido
Por trás da crise estão corpos empilhados e reforma de apartamento; confira
Pressionado pelo que se consolida como a maior crise de seu governo, o primeiro-ministro Boris Johnson se reúne hoje com seus principais ministros. O premiê tenta tirar o foco das acusações que recebeu nos últimos dias com um plano voltado para a campanha de vacinação e a recuperação econômica do país.
A principal acusação é que ele teria dito que preferiria ver "corpos empilhados aos milhares" do que decretar um novo lockdown. A declaração atribuída ao primeiro-ministro teria sido feita no fim do ano passado, pouco antes da decisão por um segundo confinamento nacional.
O premiê nega. Quando questionado se é o autor da frase, ele disse "não, mas eu acho que o importante aqui é que as pessoas querem que o governo continue progredindo e tenha certeza que os lockdowns tragam resultado". Ministros do governo também saíram em defesa do primeiro-ministro e negam que a frase tenha sido dita.
Além do tablóide Daily Mail, que publicou a história primeiro, o jornal The Guardian e as redes de TV BBC e ITV confirmaram com fontes distintas que o primeiro-ministro fez a afirmação. Boris Johnson foi muito criticado por ter hesitado em decretar um segundo e, depois, um terceiro lockdown quando os cientistas que assessoram seu governo já tinham sinalizado, semanas antes, que o confinamento era a única maneira de conter o que se consolidou como uma devastadora segunda onda no país.
A maior parte das 127 mil mortes por Covid-19 aconteceu a partir de outubro. Em 20 de janeiro, houve 1.823 óbitos registrados. Em números absolutos, nenhum país europeu perdeu tantos cidadãos para a Covid-19 quanto o Reino Unido.
Reforma do apartamento
O primeiro-ministro também deve explicações sobre a reforma do apartamento funcional onde mora, no número 11 em Downing Street. A sede do governo fica ao lado, no número 10.
O imóvel foi reformado pelo primeiro-ministro e por sua namorada, Carrie Symonds. Ainda não se sabe quanto custou a reforma e quem pagou por ela.
Pressionado, o governo britânico alegou que os custos foram bancados pelo próprio primeiro-ministro. O que não está claro é se Boris Johnson recebeu uma doação ou um empréstimo de empresários ligados ao Partido Conservador.
O líder do Partido Trabalhista defendeu uma "investigação completa e transparente". Keir Starmer afirma que as alegações comprometem a confiança no governo.
A crise ganhou outro peso depois das declarações do ex-assessor de Boris Johnson. Dominic Cummings deixou o governo no ano passado, depois de um desentendimento com a namorada do primeiro-ministro, com quem travou uma disputa nos bastidores.
O ex-assessor disse que tem provas do que diz e que se dispõe a testemunhar para os comitês que investigam o assunto. Dominic Cummings foi o cérebro por trás das campanhas do Brexit e da eleição que deu ao Partido Conservador uma vitória histórica e uma maioria confortável no parlamento britânico. Agora, pode ser o homem que vai ajudar a destronar o grupo que ajudou a colocar no poder.