Justiça

Dependência da corrupção

Não nos enganemos. O Brasil não é corrupto. O Estado não é corrupto. Empresas não são corruptas

*Integridade e Desenvolvimento é uma coluna do Centro de Estudos em Integridade e Desenvolvimento (CEID), do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC). Os artigos têm publicação semanal.

Assista ao vídeo

O atual quadro brasileiro evidencia uma triste relação de dependência da corrupção por uma parcela do empresariado, por parcela de agentes públicos e por parcela da classe política.

+ Conheça os colunistas do SBT News
+ Leia as últimas notícias de Justiça
+ Todas as notícias no portal SBT News

Não nos enganemos. O Brasil não é corrupto. O Estado não é corrupto. Empresas não são corruptas. Instituições não são corruptas. Partidos políticos não são corruptos. Setores econômicos não são corruptos. 

Nunca é demais lembrar que são pessoas físicas que decidem praticar determinados atos de corrupção satisfazendo seus interesses egoísticos. Logo, são pessoas que ocupam cargos ou funções em empresas, nos governos, entre outros, que decidem deturpar as funções legítimas destes entes e os contaminam. Utilizam cargos, empresas, instituições e o próprio Estado como instrumentos para a prática dos seus atos de corrupção.

Assim, uma das primeiras medidas saudáveis a ser adotada é intensificar a observação das pessoas que ocupam cargos decisórios, aumentando a transparência das decisões e dos processos decisórios. Assim, o foco está nas pessoas e decisões e não na generalização do Estado, empresas ou instituições.

A generalização de tais atos por pessoas ligadas a determinados grupos, setores econômicos, empresas, entre outros, gera uma série de consequências indesejadas, entre as quais se destacam a naturalização e a tolerância da corrupção. Cria-se ambiente e percepção de que determinados negócios dependem da prática de atos de corrupção. 

Não é raro ouvir relatos sobre cálculos de investimento ou negócios que consideram "taxas ou custos de viabilização", "fee" em razão de "auxílios" ou "facilitações", entre outros termos utilizados para se referir a valores destinados a pagamento de atos de desvio. Inclusive, não é incomum que seja taxado de ingênuo ou amador quem não considera tais fatores em planejamentos. Afinal, quem realiza tais críticas costuma afirmar que "é assim que se faz negócio no Brasil". 

Esse ambiente obriga questionar: O quanto o ambiente de negócios e o relacionamento público-privado é realmente dependente de práticas corruptas? O quanto o tom dos atos dos ocupantes dos altos cargos públicos e privados contribui para a construção dessa cultura?

Agravam o contexto dos questionamentos as repetidas tentativas de naturalização de práticas de atos de corrupção através da condenação seletiva de pessoas e não de condutas, do menosprezo e ridicularização àqueles que buscam agir e difundir integridade nos negócios e na política ou da reprovação de ações de investigação de atos de corrupção.

Esse movimento alimenta a cultura de impunidade, que voltou a ganhar força com o fim da Operação Lava Jato durante o governo Bolsonaro, absolvições e prescrições em casos de corrupção e se intensifica com a recente decisão de anulação das provas da delação da Odebrecht.
Também não se pode desconsiderar a mensagem e disseminação de cultura que os casos dos presentes envolvendo ocupantes do cargo máximo do Executivo Federal transmitem a todos.

Um Presidente da República agindo como representante do Brasil recebe presentes como chefe de Estado. Não é presente pessoal. Caso se entenda que tais presentes são pessoais, uma contradição ainda pior se apresenta.

Como se poderia reprovar apenas os atos praticados pelo Presidente Lula ou apenas os atos praticados pelo ex-Presidente Bolsonaro? Nesse caso é evidente a ausência de compromisso com a integridade. Se trataria da defesa irracional e irrestrita de um partido ou de um político.

Agrava esse cenário a afirmação do Presidente Lula de que "a sociedade não tem que saber como vota um Ministro do Supremo Tribunal Federal", defendendo a divulgação apenas do placar de votos ao final do julgamento sem a indicação dos nomes dos Ministros que votaram.

Sigilo de decisões não é compatível com a democracia, com a integridade ou com qualquer comportamento republicano esperado. E mais: não colabora para o fortalecimento da tão necessária cultura de integridade.

Do mesmo modo, insistentes disputas e pedidos de restituição de notórios presentes dados em função de cargo de Presidente da República -- pedidos realizados pelo presidente Lula e pelo ex-presidente Bolsonaro -- também não são condutas compatíveis com o regime democrático, com a integridade ou comportamento republicano esperado de alto cargo.

É necessário refletir sobre o compromisso individual com a integridade e buscar colaborar para o processo de independência da corrupção no Brasil. Não precisamos lembrar que, do lado empresarial, em termos práticos, corrupção significa retrocesso no ambiente de negócios, menos investimentos, maiores custos e graves impactos econômicos.

Do lado da sociedade, significa menos segurança, liberdade, saúde, educação, e todas as demais prestações devidas pelo Estado. Se a história ou as lendas podem nos ensinar algo que seja para ajustarmos nosso grito em cada decisão individual para "integridade ou morte".

A dependência da corrupção não levará ao desenvolvimento da sociedade e do Brasil.

*Integridade e Desenvolvimento é uma coluna do Centro de Estudos em Integridade e Desenvolvimento (CEID), do Instituto Não Aceito Corrupção (INAC). Os artigos têm publicação semanal.

Publicidade

Assuntos relacionados

sbt
sbtnews
portalnews
noticias
colunistas
colunista
opiniao
corrupcao
politica
governo
ceid
inac
justica
luiz-eduardo-almeida
colunista-luiz-eduardo-almeida
coluna-luiz-eduardo-almeida
integridade-desenvolvimento

Últimas notícias

Lula participa de jantar na casa de Barroso com ministros do STF
Governo - 20/12/2023
Lula participa de jantar na casa de Barroso com ministros do STF
Recém aprovado pelo Senado para ocupar uma vaga no STF, o ministro Flávio Dino também esteve no jantar
Decisões individuais são um "imperativo" da realidade do Supremo, diz Barroso
Justiça - 19/12/2023
Decisões individuais são um "imperativo" da realidade do Supremo, diz Barroso
Em 2023, 84.650 das decisões da Corte foram individuais
Juíza absolve homem acusado de agredir irmã de Cristiano Zanin e cachorros
Justiça - 19/12/2023
Juíza absolve homem acusado de agredir irmã de Cristiano Zanin e cachorros
Em decisão, magistrada diz que réu agiu em legítima defesa diante de ataques dos animais e não é possível constatar ofensa à advogada
Dois PMs viram réus por morte na Operação Escudo, na Baixada Santista
Justiça - 19/12/2023
Dois PMs viram réus por morte na Operação Escudo, na Baixada Santista
É a primeira denúncia relacionada à operação, que deixou 28 mortos em um mês
Moraes manda soltar 46 acusados de participar dos atos golpistas
Justiça - 19/12/2023
Moraes manda soltar 46 acusados de participar dos atos golpistas
Ministro do STF também validou 38 acordos de não persecução penal
Lula aciona Supremo contra leis que facilitam acesso a armas de fogo
Justiça - 18/12/2023
Lula aciona Supremo contra leis que facilitam acesso a armas de fogo
Ações questionam nove normas estaduais e uma municipal
Justiça determina remoção de publicações que associam vacinas contra a covid-19 à Aids
Justiça - 18/12/2023
Justiça determina remoção de publicações que associam vacinas contra a covid-19 à Aids
Juízo reconheceu que a permanência das publicações em rede social favorece a propagação de informações falsas sobre a política de vacinação
Tribunal de Contas da União vai fiscalizar presentes recebidos por Lula em 2023
Justiça - 18/12/2023
Tribunal de Contas da União vai fiscalizar presentes recebidos por Lula em 2023
Ministros da Corte de Contas atenderam pedido feito por comissão da Câmara dos Deputados
Supremo forma maioria para rejeitar denúncia contra Ciro Nogueira
Justiça - 18/12/2023
Supremo forma maioria para rejeitar denúncia contra Ciro Nogueira
De acordo com a PGR, político teria recebido R$ 7,1 milhões em caixa dois para campanhas eleitorais em 2010 e 2014
Deputada Lucinha é afastada no RJ por suspeita de ligação com milícia
Justiça - 18/12/2023
Deputada Lucinha é afastada no RJ por suspeita de ligação com milícia
Deputada estadual do PSD é alvo de operação da Polícia Federal e Ministério Público; ela teve o gabinete revistado nesta 2ª feira (18.dez)