Programa hacker ajudou em golpe de R$ 50 mi em Auxílio Emergencial
PF prendeu 4 pessoas (em GO, DF e SP) ligadas a esquema de desvio de valores de mais de 10 mil contas bancárias
Um programa de computador criado por um hacker de Goiânia foi uma das principais "ferramentas" usadas por criminosos para golpes que podem ter desviados mais de R$ 50 milhões do Auxílio Emergencial, pago via Caixa Econômica Federal (CEF), nos últimos três anos. O software realiza buscas em sistemas bancários para identificar beneficiários do auxílio assistencial do governo federal. Mais de 10 mil cartões foram criados com documentos falsificados pela organização criminosa, alvo da Operação Apateones.
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O hacker foi um dos presos na operação autorizada pela 9ª Vara Federal de Campinas, interior de São Paulo. Cerca de 200 policiais federais foram às ruas em 12 estados e no Distrito Federal. Outro detido era do DF. Foram cumpridos ainda 47 mandados de busca e apreensão. Em um deles, em Sorocaba (SP), duas pessoas foram presas em flagrante com diversos documentos falsos.
O delegado chefe da PF em Campinas (SP), Edson Geraldo de Souza, explicou que, com os dados de pessoas que poderiam receber o benefício, os criminosos criavam contas bancárias com documentos falsos e passavam a receber o dinheiro do Auxílio Emergencial, antes do beneficiário real.
Os alvos também criavam aplicativos ou sites falsos para roubar dados dos beneficiários e passar a receber os auxílios do governo federal. Os hackers enviavam mensagens de SMS para as vítimas e depois assumir o recebimento dos valores, que deveriam ser destinados aos beneficiários reais.
"Apuramos que a organização agia em vários estados diferentes. Com um dos investigados, encontramos 140 CNHs falsas. Em outro, mais de 80 cartões, várias máquinas de pagamentos também foram apreendidos", explicou o delegado da PF Diego Campos de Almeida, que preside o inquérito.
Os golpes passaram a ser investigados pela PF em agosto de 2020, quando a CEF comunicou que 91 benefícios do programa tinham sido fraudados. O Auxílio Emergencial foi criado em abril daquele ano, pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para socorro aos trabalhadores prejudicados pela pandemia da Covid-19. Os primeiros casos envolviam desvio de R$ 54,6 mil. O dinheiro teria sido recebido em duas contas bancárias, uma de pessoa física e outra de pessoa jurídica, em Indaiatuba (SP).
Com as apurações, iniciadas em Campinas, a PF descobriu que "milhares de outras contas tinha sido fraudadas". "O rastreamento inicial das transações indicou que parte dos envolvidos nestas fraudes estava situada nos estados de Goiás e Rondônia, sendo este último, estado lugar de residência de familiares da pessoa física residente em Indaiatuba, SP."
Lavagem de dinheiro
Para tornar o dinheiro legalizado, a PF descobriu que os criminosos criavam boletos falsos e realizavam o pagamento, para movimentar os valores. "Quando nós colocamos isso em um conjunto de dados, nós começamos a identificar quais são os boletos, quais são as contas, e quais são os destinatários. Quem tinha direito ao benefício, viu que ele tinha sido sacado e não contestou, isso não entrou no banco de dados", explicou Souza.
Os mandados foram cumpridos em: Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Paraná, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo, Tocantins e no DF. Foi autorizado o bloqueio de bens e valores encontrados em nome dos investigados.
Carros, dispositivos eletrônicos, documentos e cartões foram apreendidos. Ao todo, 37 pessoas são investigadas por crimes de furto mediante fraude, estelionato e organização criminosa. As penas somadas podem ultrapassar 22 anos de prisão.
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