Guerra Na Ucrânia

Prolongamento da guerra diminui chances de ucranianos voltarem para casa

Fuga da invasão russa já resultou em mais de 8 milhões de refugiados do país somente na Europa

Perda, vulnerabilidade e medo: esses são alguns dos principais sentimentos vivenciados pelos 8 milhões de refugiados que tentam fugir da invasão russa na Ucrânia. Com bombardeios mirando constantemente áreas civis e infraestruturas energéticas, a fuga do território ucraniano está se tornando cada vez mais intensa, enquanto o prolongamento do conflito, que completa um ano nesta 6ª feira (24.fev), diminui as chances dos cidadãos de retornarem ao país.

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Assim como previsto pela Organização das Nações Unidas (ONU) em março do ano passado, o número de refugiados ucranianos equivale à maior movimentação na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Países fronteiriços continuam sendo a principal escolha dos cidadãos, com a Rússia e a Polônia liderando o ranking de nações com mais ucranianos recebidos. No geral, até o momento, 2,8 milhões de refugiados foram abrigados em Moscou e 1,5 milhões, em Varsóvia.

"Mais de 70% dos refugiados no mundo vivem em países vizinhos. Essa é a lógica da migração: ir para os países mais próximos. A grande maioria dos refugiados ucranianos está na Polônia e na própria Rússia. Isso faz com que o grupo esteja em países com que a cultura seja mais similar e que o idioma não seja um problema, o que facilita o processo de adaptação", explica Marcelo Haydu, mestre em Ciências Sociais e diretor executivo do Instituto de Reintegração do Refugiado - Brasil (Adus).

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Presença de refugiados ucranianos em países europeus | Reprodução/ONU

Ele acrescenta que, à medida que o conflito se arrasta, a infraestrutura da Ucrânia vai se deteriorando ainda mais, fazendo com que a chance das pessoas se deslocarem e não voltarem aumente. Isso porque, além do futuro incerto, pode levar anos para que o país consiga se reestruturar completamente, uma vez que os bombardeios russos já destruíram milhares de casas, escolas, hospitais e centros comerciais. Com isso, é provável que as necessidades humanitárias no território permaneçam altas.

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O cenário nos países alheios, no entanto, também não é fácil. Apesar de contar com programas de proteção temporária, a maioria dos refugiados enfrenta barreiras em meio à inclusão socioeconômica. A falta de vagas em creches e escolas, por exemplo, impede que mães tenham acesso ao trabalho e se tornem autossuficientes. No caso de outros continentes, a migração acontece apenas quando há colônias nacionais. É o caso de Curitiba, no Brasil, que abriga uma grande comunidade ucraniana. 

"As crianças enfrentam traumas incalculáveis ao fugir de casa. Enquanto a guerra continua, garantir sua educação ininterrupta é de suma importância para aliviar esse trauma e garantir o desenvolvimento contínuo, o que será importante quando os refugiados puderem voltar para casa. A maioria espera retornar à Ucrânia um dia, mas a guerra e a insegurança, bem como a falta de acesso a serviços básicos, inibem muitos de fazê-lo", avalia Louise Donovan, porta-voz da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

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A vontade de retornar ao país também faz com que milhares de ucranianos atravessem a fronteira mais de uma vez. Segundo Louise, muitos cidadãos optam por voltar por um curto período ao local para visitar familiares, verificar propriedades ou resgatar bens materiais. O cenário é considerado arriscado por Haydu, que explica que a ação, além de ser perigosa, pode colocar em risco solicitações de refúgio. 

"Não faz sentido uma pessoa que saiu pedindo refúgio voltar para aquele país. Se voltar sem uma justificativa plausível, coloca-se em risco a condição de refugiado da pessoa naquele país, porque coloca-se em dúvida se de fato a pessoa está em risco. No caso do Brasil, para sair do país precisa pedir autorização para o Conare [Comitê Nacional para os Refugiados], justificando o motivo do deslocamento. Caso saia sem autorização, a pessoa perde a condição de refugiado", explica.

Aumento da preocupação com tráfico humano

Com o aumento da movimentação nas fronteiras, autoridades internacionais demonstraram uma grande preocupação em relação ao tráfico humano. Isso porque, em meio às fugas, muitos criminosos se passam como voluntários para enganar a população refugiada, que é composta, em grande parte, por mulheres, crianças e idosos. Como são mais vulneráveis, os grupos são levados, sobretudo, para trabalhos forçados, como colheitas e construções, além de serem explorados sexualmente. 

Em 2020, por exemplo, antes da escalada dos conflitos no Afeganistão e na Ucrânia, cerca de 12% do total de vítimas eram procedentes de países afetados por guerras, sobretudo na África e no Oriente Médio. A Ucrânia, contudo, já era palco do tráfico humano, com cidadãos sendo resgatados em 40 países do continente europeu.

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Ilias Chatzis, chefe do Escritório da ONU para Tráfico Humano e Contrabando de Migrantes, explica que como a exploração sexual é a forma mais conhecida de tráfico de pessoas, as mulheres são o grupo mais afetado. "No caso da Ucrânia, os homens estão ficando para trás para lutar. Então, aqueles que estão saindo são mulheres e crianças. Já temos muitas denúncias, muitas histórias, muitas situações de violência sexual, de casos que podem ser considerado tráfico de pessoas ou crimes de guerra", diz.

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Em maio do ano passado, a ONU já havia assinado um acordo de cooperação com a Ucrânia para conter as ocorrências de tráfico humano, bem como de violência sexual. A iniciativa inclui apoio médico e assistência psicológica e legal para as vítimas. Na época, as autoridades afirmaram não ser necessário esperar por estatísticas para poder agir, uma vez que o conflito militar dificulta o registro dos números exatos dos casos.

"Sabemos que há muitas investigações em andamento e algumas delas são investigações sérias. Apesar do tráfico de pessoas levar um tempo para acontecer, há várias apurações em andamento em alguns tribunais, principalmente nos estados membros da União Europeia. Também vimos crimes relacionados ao tráfico como agressão sexual, abuso sexual, exploração em casa, mas não é certo que essas ocorrências estão chegando ao nível do tráfico humano", comenta Chatzis.

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