Uma siderúrgica é o último foco de resistência em Mariupol
Centenas de civis estariam na Azovstal, defendida pelo regimento conhecido por suas visões nazistas
O avanço das tropas russas na região conhecida como Donbass, no leste da Ucrânia, depende necessariamente do que se passa dentro de um complexo de 11 quilômetros quadrados, onde fica uma das maiores siderúrgicas da Europa. A Azovstal é o último foco de resistência em Mariupol, cidade que está entre dois territórios já dominados pelos russos: a Criméia, anexada em 2014 e as áreas de Donbass que, na mesma época, foram tomadas por separatistas apoiados por Moscou.
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Nesta terça-feira (19.abr), o porta-voz do ministério da Defesa da Ucrânia afirmou que a Rússia agora concentra seus esforços o leste do país. "Os inimigos russos estão tentando continuar a ofensiva na zona operacional do leste pra quem tenham total controle dos territórios de Donetsk e Luhanks", disse Oleksandr Shtupun.
Na noite de ontem (18.abr), o presidente ucraniano Volodomir Zelensky confirmou o início do que chamou de "Batalha por Donbass", região da qual fazem parte as chamadas Repúblicas de Donetsk e Luhansk, cuja independência foi reconhecida pela Rússia um dia antes da invasão.
Para consolidar o avanço no leste ucraniano, os russos precisam conquistar Mariupol. E pra conquistar Mariupol, precisam ter controle da Azovstal. Segundo o governo ucraniano, mais de mil civis estão no complexo siderúrgico que, em tempos de paz, chegou a produzir 4 milhões de toneladas de aço por ano. A maior parte da produção era escoada pelo porto da cidade, no mar de Azov.
O complexo que os russos tentam tomar é formado por dezenas de prédios, ferrovias internas, altos-fornos e um grande sistema subterrâneo, onde estão os civis que fugiam dos bombardeios russos. Segundo a prefeitura de Mariupol, há muitas crianças no grupo. O segundo ultimato dado pelo governo da Rússia pra que a resistência ucraniana entregasse as armas não deu resultados. O prazo venceu ao meio-dia de hoje (19.abr) no horário local, às 6 da manhã no horário de Brasília.
Não há certeza sobre quantos soldados ucranianos ainda defendem o complexo, mas é fato que eles estão cercados por todos os lados e são alvo não apenas da artilharia que vem de áreas vizinhas já dominadas pelos russos, mas também de ataques aéreos. Entre os ucranianos que formam a linha de defesa, está o batalhão aparece no centro dos argumentos russos pra justificar a guerra na Ucrânia.
Nazistas
O regimento Azov é uma milícia formada por cerca de mil ultranacionalistas de extrema direita, acusados de promover idéias nazistas e de supremacia branca e de atacar minorias, como ciganos, imigrantes e o público LGBTQIA+. O grupo ganhou ainda mais notoriedade em 2014, quando lutou contra os separatistas apoiados pelos russos no leste da Ucrânia. O ex-presidente ucraniano Petro Poroshenko os elogiou publicamente. "São nossos melhores guerreiros".
O atual governo da Ucrânia é acusado de fazer vista grossa com a presença deste regimento nas forças de defesa. Ainda que os guerrilheiros do Azov sejam uma minoria ínfima entre os ucranianos que lutam contra a Rússia, o Kremlin sabe que essa é uma oportunidade de ganhar posições na batalha pela opinião pública. Desde o início da invasão, o presidenter Vladimir Putin diz que um dos principais objetivos do que chama de "operação especial" é "desnazificar" a Ucrânia.
Por isso mesmo, a conquista de Mariupol e da siderúrgica Azovstal, considerada por alguns o berço do Azov, é estratégica não apenas por questões territoriais. Também pode dar ao Kremlin a imagem que será usada pra justificar a invasão do país vizinho e morte de milhares de civis. Pra Moscou, tudo poderá resumido como uma "vitória sobre os nazistas".