"Cultura do machão tem que ficar para trás", diz senador Rodrigo Cunha
Projeto do senador originou lei que otimiza delegacias da mulher, que terão atendimento 24 horas
O senador Rodrigo Cunha (União-AL), autor do projeto que deu origem à lei que obriga as delegacias especiais de atendimento à mulher a funcionarem 24 horas, todos os dias da semana, e que foi sancionada nesta 3ª feira (4.abr) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse ao SBT News que a medida é um avanço para rechaçar a violência doméstica. "Uma mulher que era agredida em uma sexta-feira à noite só poderia fazer uma denúncia na segunda-feira, e isso já é um grande desestímulo", explica.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
No Brasil, somente 7% dos 5.568 municípios contam com uma delegacia especializada no atendimento à mulher, número aquém da necessidade de enfrentamento à violência e aos crescentes casos de feminicídio no país. Além disso, os horários de funcionamento das unidades inviabilizam, muitas vezes, as denúncias feitas pelas vítimas.
"A cultura de achar que o machão pode fazer o que quiser com a mulher, que ela é um objeto e que ela é sua, mesmo que ela esteja casada, tem que ficar para trás", afirma Cunha.
Para ele, as práticas de violência devem ser rechaçadas e banalizadas pelo Estado e pela população.
Uma das obrigações presentes na lei é que as vítimas deverão ser atendidas por pessoas capacitadas - em sua preferência mulheres - quando não houver disponibilidade de uma delegacia especial.
Em Alagoas, domicílio eleitoral do senador do União Brasil, há apenas duas delegacias à disposição da população feminina. Segundo Cunha, a escassez de unidades no Estado foi um dos motivos para a elaboração do projeto.
"Tem cidade que, quando acontece uma agressão, a pessoa demora três horas e tem que pegar um transporte para a levar de uma hora para outra, e quem vai dirigindo é um policial que ela nunca viu na vida. Nesse caminho, muitas vezes ele pergunta o que aconteceu e ela tem que falar coisas íntimas dela", explica o autor da lei.
Tragédia familiar
O senador disse que trabalhava nessa proposição havia 7 anos, e que carrega um forte compromisso pessoal com o tema. Rodrigo vivenciou a tragédia da agressão contra a mulher na própria família. A sua mãe, a deputada federal Ceci Cunha, foi morta em 16 de dezembro de 1998, por um suplente ao seu cargo no Congresso Nacional.
"Minha mãe foi assassinada justamente por ser mulher, por ser mais frágil. Claro que eu trago isso dentro de mim, esse projeto não surgiu de um dia para o outro", conta o parlamentar.
Porém, a violência contra as mulheres não se resume ao fatídico caso de 1998, que chocou o país por conta da crueldade contra Ceci. Na entrevista ao programa Poder Expresso, Rodrigo relembrou casos que estamparam os noticiários nos últimos anos, reafirmando a necessidade de trazer mais amparo às mulheres brasileiras.
"Imagine, no momento mais sublime de uma vida feminina, que é no momento do parto, você confiar e chegar uma anestesista, aplicar uma anestesia e estuprar uma mulher. Aonde nós chegamos? Ou então escrever o seu nome na testa de uma ex-mulher que não te quis de volta. Isso tem que ter consequência"
O objetivo do senador é que o Brasil construa um modelo que leve a justiça para as vítimas de violência em todas as partes do Brasil, impedindo os agressores de usarem formas de escapar das consequências dos seus crimes.
"Não existem desculpas de que chegou bêbado em casa, que estava com a cabeça cheia, ou que a mulher deu causa, não é isso", diz.
*Estagiário sob supervisão de Roseann Kennedy
Assista à entrevista:
Veja também:
