Lula tira 90% de militares de postos estratégicos da Esplanada
Número de integrantes das Forças lotados no GSI e na Defesa aumentou em relação ao governo Bolsonaro
Em menos de três meses, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tirou 90% de militares de postos estratégicos da Esplanada. Levantamento exclusivo do SBT News mostra que 33 integrantes da ativa das Forças Armadas ainda ocupam funções comissionadas nos ministérios "civis". Tal número, entretanto, chegou a 332 em junho de 2020, segundo ano da gestão Jair Bolsonaro.
O Exército foi o comando que mais sofreu "baixas" na Esplanada de Lula. Se na época de Bolsonaro generais e oficiais da corporação - como Braga Netto, Augusto Heleno, Luiz Eduardo Ramos e Eduardo Pazuello -- chegaram a ocupar 269 cadeiras nos ministérios "civis", hoje existem apenas dois militares, um na Casa Civil, outro na Educação.
Os dados foram obtidos com as assessorias das Forças. E mostram que, se os comandos perderam espaço na Esplanada "civil" conseguiram, entretanto, reagrupar militares no Ministério da Defesa e no Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
Atualmente os dois órgãos (Defesa e GSI) têm 2.820 deles cedidos pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica - em junho de 2020 esse número era de 2.024, um aumento de 40%. No caso do Exército, o número de cedidos ao GSI e à Defesa hoje chega a 1.777, contra os 1.271 que estavam nos dois órgãos, em junho de 2020.
Cadeiras
Na Aeronáutica, em 2020, o comando contou 57 militares distribuídos pelos ministérios "civis". Atualmente há três integrantes da Força na Advocacia-Geral da União (AGU) e um na pasta da Ciência e Tecnologia. Na Defesa e no GSI, segundo o mais recente levantamento da Aeronáutica, há 534 ocupando postos nos dois órgãos -- no governo Bolsonaro chegaram a 619 em pelo menos um período.
Na Marinha, durante o mês de junho de 2020, apenas seis militares estavam lotados nos ministérios "civis" na Esplanada. Atualmente há militares ocupando cadeiras nos ministérios das Relações Exteriores (1), AGU (17), Ciência, Tecnologia e Inovação (2) e Minas e Energia (7). Para GSI e na Defesa, a Marinha hoje cede 519 militares - eram 494.
Em 22 de maio de 2020, em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro fez uma provocação em relação à quantidade de militares na Esplanada dos Ministérios.
"Está dando certo. Está mudando muita gente lá. Ah, está enchendo de militar? Vai botar mais militares, sim. Com civis não deu certo. E ponto", disse o então presidente.
Em julho de 2020, o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou um levantamento que mostrou a presença de 2.623 militares em órgãos comissionados federais. O número total enviado pelas assessorias das Forças ao SBT News revela que esse número chega hoje a 2.843.
Promessa
"Os números parecem confirmar os cenários desenhados para o caso de uma vitória petista. Lula cumpre a promessa de desmilitarizar o governo, retirando os milhares de militares em cargos comissionados nas mais diversas pautas como saúde, meio ambiente, educação ou questão indígena. Mas a contrapartida exigida pelo segmento militar parece ser o estabelecimento de fronteiras claras até onde se pode chegar, e refluiram para as áreas que originalmente entendem como exclusivamente deles, a exemplo da política de defesa", afirma Ana Penido, especialistas em temas relacionados à política e pós-doutoranda em Ciência Polícia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para Penido, Lula parece ter disposição para mexer na área de inteligência. "Mas, com exceção da troca do comando do Exército, parece não topar a briga da política de defesa. É um equívoco", diz a pesquisadora do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes), ligado à Universidade Estadual Paulista (Unesp).
"A defesa nacional interessa a todos os cidadãos brasileiros e com eles deve ser construída, não apenas com o segmento fardado. Em tempos de conflito na Ucrânia, lembremos que a guerra é um assunto muito sério pra ser levado a cabo apenas por generais."
