Atrasado, Planalto entra no jogo para tentar recondução de Pacheco
Disputa acirrada pelo comando do Congresso coloca governo de Lula em risco; entenda
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) corre contra o tempo para tentar garantir a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no comando do Senado Federal. Atrasado nas negociações, o governo assistiu ao crescimento da candidatura de Rogério Marinho (PL-RN), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e, agora, precisará entrar em campo para impedir a eleição do senador de oposição.
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"Parece que o governo dormiu um pouco no ponto, tratou a eleição do Rodrigo Pacheco um como dada, achou que que não haveria dificuldades em reeleger o presidente do Senado. Porém, o que nós vimos nas últimas semanas foi uma campanha intensa de deputados e senadores da direita bolsonarista tentando mudar a cabeça de alguns dos senadores para votar em outro candidato", ressalta Caio Barbosa, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP).
Em entrevista ao programa Agenda do Poder, do SBT News, ele explica que muito dessa motivação está ligada ao que alguns congressistas chamam de "reequilíbrio dos Poderes". Insatisfeitos com a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), parte dos senadores acredita que o Judiciário tem interferido exageradamente na atuação parlamentar.
"Mesmo alguns senadores que não são bolsonaristas também estão um pouco incomodados com essa atuação do Supremo e acreditam que talvez colocar alguém mais de oposição à frente do Senado vai servir ao interesse deles", disse.
No sábado (28.jan), o Partido Liberal (PL), o Progressistas (PP) e o Republicanos formalizaram apoio ao nome do senador eleito Rogério Marinho (PL-RN) para presidência do Senado Federal. Para ser eleito presidente do Senado, são necessários ao menos 41 votos favoráveis. A possível eleição de Marinho poderia ser um entrave para a governabilidade do presidente Lula.
Segundo Barbosa, o governo deverá entrar no jogo de forma efetiva se quiser Pacheco à frente do Senado. "Nesse momento, muito provavelmente você deve ter o governo ligando diretamente para cada senador, explicando, negociando posições, seja em mesa diretora ou comissões, posições que são importantes ali. Além de negociar pautas de temas de interesse, tentar tranquilizar sobre algumas questões", pontua.
Para o cientista político, após os atos golpistas de 8 janeiro, houve um período de união entre os Poderes para a recuperação da estabilidade institucional, mas, agora, o cenário pode mudar. "Agora começa o campeonato, começa o jogo para valer", diz.
Assista à entrevista na íntegra:
Comando do Senado
Pelas regras, se houver a concordância de pelo menos 1/3 dos senadores, ou seja, 27, no mesmo dia serão escolhidos os demais membros da Mesa. Sem o acordo, a eleição pode ocorrer no dia seguinte, 5ª feira (2.fev).
A votação, que é secreta, deve ter a presença da maioria absoluta dos parlamentares, ou seja, 41 senadores, mesmo número necessário para a escolha do presidente. De acordo com o Regimento Interno da Casa, a Mesa do Senado tem a atribuição de convocar e conduzir as sessões plenárias, cuidar de eleições internas, votações secretas, correspondências e identificação de senadores.