Denúncias abalam imagem, mas não devem afetar candidatura de militares
Para especialista, compras superfaturadas de Viagra não vão reduzir a base do bolsonarismo
As Forças Armadas viraram alvo de críticas nos últimos dias após denúncias de deputados federais sobre um suposto superfaturamento de 143% na compra de 35 mil comprimidos de Viagra, além de R$ 3,5 milhões gastos em próteses penianas.
+ Leia as últimas notícias no portal SBT News
Na opinião da especialista Anaís Passos, da Universidade Federal de Santa Catarina, as controvérsias abalam a imagem das Forças Armadas, mas não devem afetar a credibilidade dos militares no país.
"A credibilidade dos militares é um fenômeno complexo, não é um fenômeno de curto prazo. Não é resultado de um ou outro fator. Os militares possuem uma retórica de superioridade moral que possui uma boa recepção na população. Então, esses escândalos afetam a imagem dos militares? Claro que afetam. Mas isso vai fazer com que as FA [Forças Armadas] deixem de ser uma instituição em que as pessoas confiam? Me parece que não. A pergunta mais importante que devemos fazer é: esses eventos de superfaturamento vão mudar o cálculo da elite política? Isto é, de não querer contestar a influência dos militares no sistema politico?", questiona Anaís.
A especialista também cita a presença massiva de integrantes das Forças Armadas no governo e critica a falta de transparência nos gastos de defesa. "O Exército se apoderou de cargos estratégicos no poder Executivo. Não há transparência nos gastos, pouca interferência do poder legislativo na definição dos gastos de defesa, ao contrário do que ocorre em democracias mais consolidadas. Os "Papers Federalistas" ensinam: ambição se combate com ambição. Não há salvadores na política, nem no Exército. Existem pessoas, muitas, infelizmente, interessadas no enriquecimento e nas benesses pessoais".
Após a repercussão polêmica da compra de Viagra, o presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa das Forças Armadas. A imagem dos militares tem forte ligação com a do presidente. Um levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas em 2021 revelou que, para 40,3% dos entrevistados, a presença de membros das Forças Armadas no governo tem influência positiva nas urnas.
Para Anaís, porém, as recentes denúncias não devem mudar o pensamento dos bolsonaristas: "não acho que os eventos vão trazer consequências sobre a candidatura dele ou de militares. Bolsonaro tem uma base de apoio bastante estável, que não utiliza os meios de informação tradicionais pra decidir o seu voto. Existe um problema que é a circulação de informações, a "bolha". O escândalo de superfaturamento não vai afetar a base do bolsonarismo".
"Mesmo antes da eleição de Bolsonaro, existia um alto índice de confiança nas Forças Armadas. Essa reputação é reflexo do imaginário popular sobre os militares como eficientes e com uma moral superior, que foi forjado historicamente, não é um cálculo racional. Embora esses escândalos afetam a imagem dos militares, não me parece que vai abalar essa boa reputação das Forças Armadas", conclui a especialista.
Leia também: