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Entidades repudiam agressões a jornalistas por seguranças de Bolsonaro

Profissionais que acompanhavam o presidente em Roma foram agredidos e tiveram equipamentos confiscados

Instituições que representam jornalistas divulgaram notas em que repudiam as agressões cometidas por seguranças do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra profissionais da imprensa no domingo (31.out), em Roma.

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Em carta aberta ao presidente (leia a íntegra no fim desta reportagem), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) diz que Bolsonaro "mais uma vez envergonha o Brasil", cita o isolamento do chefe do Executivo na cúpula do G20 e o chama de "troglodita": "Com seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas".

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) adota tom semelhante e afirma que "a postura do presidente brasileiro caracteriza uma institucionalização da violência contra jornalistas, que significa um atentado à liberdade de imprensa e, portanto, à democracia". "Ao agredir jornalistas e ao permitir que seus auxiliares também o façam, o presidente comete um crime e deve ser responsabilizado por isso."

Pelas redes sociais, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) -- líder da oposição e vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia -- disse que vai ajuizar no Ministério Público Federal "uma ação civil pública por dano moral coletivo por ameaça à liberdade de imprensa". "Protocolaremos também, através da Rede Sustentabilidade, uma ADPF no STF para obrigar o Palácio do Planalto a adotar todos os meios para assegurar a integridade dos jornalistas durante a cobertura de todos os atos do presidente", afirmou o parlamentar.

Agressões

Profissionais da imprensa que tentavam acompanhar uma caminhada do presidente Jair Bolsonaro pelas ruas de Roma, no domingo (31.out), foram agredidos por seguranças do chefe do Executivo brasileiro e por policiais italianos. Imagens gravadas com celular mostram parte da confusão.

Como havia feito nos últimos dois dias, após a conclusão no trabalho na cúpula do G20, Bolsonaro voltou para a embaixada brasileira na capital italiana e, depois, saiu pela porta dos fundos para fazer um passeio. Desta vez, porém, na rua, era aguardado não só por apoiadores -- que levaram balões nas cores verde e amarelo -- mas também por jornalistas que foram ao local para registrar a passagem do presidente.

Quando se depararam com os profissionais, seguranças e policiais, orientandos a não deixar que a imprensa ficasse no percurso, passaram a falar "você não pode ficar aqui". Jornalistas de diferentes veículos, entre os quais Folha de S.Paulo, BBC Brasil e UOL argumentaram que estavam na rua e, então, teve início as agressões.

Celulares de dois profissionais da imprensa foram tomados. O dispositivo do jornalista Jamil Chade, do portal UOL, chegou a ser jogado no chão, mas foi recuperado. Já um repórter da BBC Brasil não conseguiu pegar o aparelho de volta. Um vídeo gravado pela correspondente da Folha de S.Paulo Ana Estela mostra o momento em que ela se aproxima do presidente Bolsonaro e questiona o porquê das agressões, sem ter qualquer retorno. "Presidente, presidente, por que os seguranças estão batendo na gente?", repetiu inúmeras vezes.

Em determinado momento, nas imagens, é possível ver que um policial italiano se aproxima de outro agente próximo a ela e afirma: "Você não pode tocar nela, você não pode tocar nela. Ela está trabalhando. Sem violência, por favor". Em outro instante, uma apoiadora de Bolsonaro grita que a repórter estava "mentindo" sobre as agressões. Seguidores do presidente também falaram para a imprensa sair do local e gritaram "mito", em referência ao chefe do Executivo brasileiro.

Um jornalista da GloboNews teria sigo atingido ainda por um soco no estômago na ocasião. O SBT News pediu um posicionamento para o Itamaraty e mantém o espaço aberto para manifestações.

Veja imagens da confusão, gravadas por Jamil Chade, Ana Estela e outras testemunhas:

Assista ao vídeo

Leia a íntegra da nota da ABI:

"Carta aberta da ABI a Jair Bolsonaro

Mais uma vez o senhor envergonha o Brasil, presidente.

Repudiado por governantes do mundo inteiro, em cada evento de chefes de Estado o senhor mostra que o País foi relegado a uma situação de um pária na comunidade internacional.

Na reunião do G-20 neste fim de semana, mais uma vez, o senhor foi obrigado a ficar pelos cantos, como aqueles convidados indesejados a quem ninguém dá atenção.

Como reação, age como um troglodita, hostilizando e estimulando agressões a jornalistas que lhe fazem perguntas corriqueiras.
É de dar vergonha.

Na cerimônia de abertura do evento do G-20, no sábado, o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, cumprimentou os chefes de Estado e de governo com um aperto de mão, mas o evitou claramente, fato devidamente registrado pela imprensa italiana. Não quis ser fotografado ao seu lado.
Mas as coisas não ficaram por aí.

Percebendo que era quase um penetra na festa, o senhor preferiu não aparecer para a foto oficial com os estadistas do mundo inteiro. Sentiu a rejeição generalizada.

Tampouco sentiu-se à vontade para participar do passeio organizado pelo governo italiano para os líderes do G20, que tiraram fotos jogando moedas na Fontana di Trevi, tradicional ponto turístico de Roma.

Mas o vexame e a vergonha foram maiores. Não pararam por aí.

Seus seguranças agrediram jornalistas brasileiros e roubaram seus equipamentos em represália a perguntas simples sobre as razões pelas quais o senhor não cumpriria a agenda comum aos demais chefes de Estado.

Repórteres da TV Globo e do jornal 'Folha de S. Paulo' e um colunista do Uol foram à delegacia de polícia formalizar queixa das agressões praticadas por seus seguranças. Foi, talvez, um acontecimento inédito.

Mesmo assim, o senhor e os demais membros de sua comitiva, aí incluídos representantes do Itamaraty, foram incapazes de uma palavra de desculpa aos profissionais que estavam apenas trabalhando. Ao contrário, continuaram hostilizando os jornalistas brasileiros.

A ABI mais uma vez faz o registro: com o seu comportamento avesso à democracia e com ataques constantes à imprensa e ao trabalho dos jornalistas, o senhor estimula essas agressões. Assim, torna-se também responsável por elas.

E, como numa bola de neve, elas só aumentam seu isolamento e o repúdio que o senhor recebe da comunidade internacional.

Pior, o isolamento não é só seu. Atinge e envergonha o país que o senhor representa.

O senhor está tornando o Brasil um pária na comunidade internacional, presidente.

Tenha compostura.

Paulo Jeronimo

Presidente da Associação Brasileira de Imprensa"

Leia a íntegra da nota da Fenaj:

"FENAJ condena violência contra jornalistas brasileiros ocorrida em Roma

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), representante máxima da categoria no Brasil, vem a público repudiar e condenar a violência contra profissionais brasileiros, ocorrida ontem, 31 de outubro, em Roma. Pelo menos três jornalistas foram agredidos fisicamente enquanto faziam a cobertura de uma atividade do presidente Jair Bolsonaro na capital italiana. As agressões, ao que tudo indica, foram cometidas por agentes de segurança do presidente, mas também pode ter ocorrido uma agressão por parte de policiais italianos. O presidente também hostilizou um jornalista.

Os jornalistas acompanhavam a participação do presidente brasileiro na cúpula do G20. Ao final dos trabalhos, Jair Bolsonaro resolveu fazer uma passeio na região da embaixada brasileira. Ao ser abordado pelo repórter Leonardo Monteiro, do G1, o presidente deu início aos ataques, dizendo: "É a Globo? Você não tem vergonha na cara?", pergunta que foi repetida, diante da tentativa do repórter de seguir com a entrevista. Os seguranças começaram a empurrar os repórter e Leonardo Monteiro chegou a dizer ao presidente, que ignorou a reclamação.

O repórter Jamil Chade, do UOL, registrou parte dos ataques, até ele mesmo ser agredido.  Ao perceber que ele estava filmando a violência contra os profissionais da imprensa, um segurança o empurrou, o agarrou pelo braço e tomou o celular de sua mão. Depois, o segurança jogou o celular num canto da rua.

Mais cedo, a repórter Ana Estela de Souza Pinto, da Folha de S. Paulo, havia sido empurrada e intimidada. Um agente que não quis se identificar (podendo ser um segurança ou um policial italiano) a empurrou e mandou que ela se afastassem do local.

A FENAJ reitera que a postura do presidente brasileira caracteriza uma institucionalização da violência contra jornalistas, que significa um atentado à liberdade de imprensa e, portanto, à democracia. Ao agredir jornalistas e ao permitir que seus auxiliares também o façam, o presidente comete um crime e deve ser responsabilizado por isso.

Amanhã, 2 de novembro, celebra-se mundialmente o Dia de Combate à Impunidade dos Crimes contra Jornalistas. A FENAJ espera que à luz da importante efeméride, todos os responsáveis por essas agressões sejam identificados e punidos. A impunidade é combustível para a violência.

Brasília, 1º de novembro de 2021.

Federação Nacional dos Jornalistas."

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