Saúde demite diretor acusado de cobrar propina na compra de vacina
CPI quer convocar Luiz Dominguetti na próxima 6ª para depor sobre compra de imunizante da AstraZeneca
O Ministério da Saúde anunciou, na noite desta 3ª feira (29.jun), a exoneração do diretor de Logística da pasta, Roberto Dias. A decisão foi publicada na edição desta 4ª feira (30.jun) do Diário Oficial da União.
De acordo com o ministério, a exoneração foi decidida na manhã desta 3ª. O fato, porém, foi comunicado pouco depois de reportagem do jornal Folha de S.Paulo relatar que Dias teria cobrado propina de US$ 1 por dose para fechar um contrato de compra de vacina. A afirmação foi feita por um representante de uma empresa que vende imunizantes.
Segundo a publicação, o representante é Luiz Paulo Dominguetti Pereira, da empresa Davati Medical Supply. A cobrança de propina teria ocorrido durante jantar em um restaurante de um shopping na área central de Brasília, em 25 de fevereiro.
A conversa foi para negociar 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca, ao custo de US$ 3,50/cada (segundo a Folha, o valor subiria depois para US$ 15,50). Dominguetti definiu "o que aconteceu nesses bastidores com o Roberto Dias" como "uma coisa muito tenebrosa, muito asquerosa".
"Eu falei que nós tínhamos a vacina, que a empresa era uma empresa forte, a Davati. E aí ele falou: 'Olha, para trabalhar dentro do ministério, tem que compor com o grupo'. E eu falei: 'Mas como compor com o grupo? Que composição que seria essa?' (...) Aí ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não composse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo (...) Aí eu falei que não tinha como, não fazia, mesmo porque a vacina vinha lá de fora e que eles não faziam, não operavam daquela forma. Ele me disse: 'Pensa direitinho, se você quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma'", disse o representante. Questionado pela reportagem sobre qual seria a forma, ele respondeu: "Acrescentar 1 dólar".
Dominguetti ainda afirmou que é possível confirmar o encontro. "Se pegar a telemetria do meu celular, as câmeras do shopping, do restaurante, qualquer coisa, vai ver que eu estava lá com ele e era ele mesmo."
CPI da Covid
Após a publicação, o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM), classificou as acusações de "denúncia forte" e disse que a CPI vai convocar Dominguetti para depor ao colegiado na próxima 6ª feira (2.jul). O vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), usou os termos "corrupção" e "ladroagem" e afirmou que apresentará requerimento para a convocação do representante da Davati.
Denúncia forte. Vamos convocar o senhor Luiz Paulo Dominguetti Pereira para depor na #CPIdaPandemia na próxima sexta-feira, dia 02/07. https://t.co/iGPGDV2aD6
? Omar Aziz (@OmarAzizSenador) June 30, 2021
CORRUPÇÃO! LADROAGEM!
? Randolfe Rodrigues ?? (@randolfeap) June 29, 2021
Estou, junto c/ o Senador @Sen_Alessandro, apresentando requerimento de convocação do Sr. Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da Davati Medical Supply. O mesmo detalha o pedido de propina por parte do Governo Bolsonaro. https://t.co/SfKIFYXnml
Covaxin
A denúncia surge em meio às suspeitas sobre um outro contrato de compra de vacina. Na semana passada, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) contou ter procurado o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) depois de ter sido avisado pelo irmão, Luis Ricardo Miranda, que é servidor do Ministério da Saúde, de um suposto esquema de superfaturamento envolvendo o imunizante indiano.
Em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, na última 6ª feira (25.jun), o parlamentar contou que, na ocasião, o presidente teria dito que havia um interesse do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) no contrato.
Ainda de acordo com a reportagem, Roberto Dias foi indicado ao cargo por Barros. A nomeação do diretor ocorreu em 8 de janeiro de 2019, durante a gestão de Luiz Henrique Mandetta (DEM). Após a publicação do material, o deputado usou as redes sociais para dizer que, à época da nomeação do funcionário, "não estava alinhado ao governo", não tendo sido responsável, portanto, pela indicação, e que desconhece "totalmente a denúncia".
Em relação à matéria da Folha, reitero que Roberto Ferreira Dias teve sua nomeação no Ministério da Saúde no início da atual gestão presidencial, em 2019, quando não estava alinhado ao governo. Assim, repito, não é minha indicação. Desconheço totalmente a denúncia da Davati.
? Ricardo Barros (@RicardoBarrosPP) June 30, 2021