Economia

Bolsa cai depois de Lula dizer que déficit fiscal "dificilmente será zero"

Presidente declarou ainda que não irá cortar despesas para cumprir meta defendida por Fernando Haddad

O mercado financeiro fechou a 6ª(27.out) no negativo depois de oscilar intensamente ao longo do dia. Os analistas e investidores não viram com bons olhos o pronunciamento do presidente Lula a respeito da responsabilidade fiscal. Uma fonte confidenciou ao SBT News que, num café da manhã com jornalistas, já depois de encerradas as perguntas, diante da insistência de uma repórter "Lula falou com o coração e disse que a meta de déficit fiscal para o ano que vem 'não precisa ser zero: até porque 'Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias para esse país', disse ele. Foi a senha para uma puxada forte na curva de juros, com repercussão intensa no Ibovespa que fez um ladeira-abaixo durante toda a tarde. Confira no gráfico a evolução do índice. 

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No futuro e no agora

Foi Lula falar, por volta de 14 h, e a ponta longa da curva de juros apontar para o alto. A ideia de um compromisso fiscal mais flexível leva parte do mercado a dar como certa uma realidade de maiores gastos públicos, comprometendo o déficit. Maior risco, juros maiores. Ao final do dia, as taxas do DI [Depósito Interbancário, uma média entre as taxas praticadas pelos bancos ao emprestarem entre si] para janeiro de 2025 subiram 0,19% para chegar aos 10,99%. Para 01/012030, alta de 0,23% com cotação de 11,5%. E para 2038, também no primeiro mês do ano, alta de 0,158% e cotação de 11,7%. 

O pessimismo puxou o Ibovespa para uma queda de 1,29% e 113.301 pontos. No câmbio, alta de 0,42% para ser cotado para venda a R$ 5,01. 

Em caráter de confidencialidade, um observador experiente do mercado teceu um cenário para a forma como se deu o comentário de Lula e a repercussão. Segundo este especialista, "Lula não fez isso sem ter conversado com o Haddad. Não acho que isso foi uma coisa que saiu ali sem ele ter conversado".  A fonte do SBT News vê semelhanças entre a declaração e outra ação do governo: " É a mesma lógica lá de trás, quando foi feita a PEC da Transição. Ele faz a PEC da Transição, não envolveu o Haddad, pro Haddad já não começar [à época do início do governo] como o ministro que é o ministro gastador. Uma forma de preservar a reputação do Haddad, tipo assim, o Haddad não quer, mas fazer o quê, o presidente falou. É um jogo jogado". 

No fundo o Lula tá puxando pra si algo que o mercado já sabe que vai ter que revisar, não tem muito jeito. Imagino que o Haddad fosse querer fazer algo a conta-gotas, pra não melindrar o mercado, se é que é possível. Mas pelo jeito foram pra outra estratégia " - fonte SBT News 

Repercussões 

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos 
"O mercado local performou pior que os pares, sentindo a piora nos riscos fiscais após o presidente Lula desconversar sob o compromisso com a meta de déficit zero em 2024, levando à disparada nas taxas de juros locais, com os investidores precificando riscos de maiores déficits nos próximos anos. A esticada nos juros pesou nas ações cíclicas, que derrubaram o Ibovespa, mesmo diante dos ganhos de Vale, após balanço e o anúncio de dividendo extraordinário".

Alexandre Mathias, CEO da Kilima 

"Embora a avaliação não seja muito diferente do que a maior parte do mercado projeta, a declaração foi recebida, por uma parcela do mercado, como um sinal de leniência fiscal. Em consequência disso, a percepção de risco subiu, o que derrubou a bolsa, elevou o dólar e jogou os juros para cima. 
O mercado reconhece as dificuldades de melhorar o orçamento e julga que a postura do Ministro Haddad, de tentar o déficit zero, era e é a melhor maneira de manter a credibilidade. Risco fiscal menor, dólar mais barato, juros mais baixos e crescimento maior foram o resultado da melhora na percepção de risco decorrente da credibilidade do arcabouço. Se prevalecer a percepção de que as dificuldades políticas impedem a busca das metas do arcabouço, uma deterioração nas expectativas será inevitável, o que nos obrigaria a revisar para cima a taxa terminal do ciclo de cortes da Selic que, hoje, projetamos em 9% a.a. em julho 2024".

Celso Toledo, diretor da LCA Consultores

"Não podemos dizer que seja surpresa para ninguém. Mas é algo relevante. A confissão é sempre importante. O arcabouço é frágil e ninguém é fiscalista em Brasília. A questão mais interessante a meu ver é entender a complacência do mercado. Hoje o diferencial de juro para 10 anos do Brasil em relação aos EUA é o menor da história. Há detalhes na comparação, sempre há, mas é um indicador". 

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