Gerações Z e Y querem mais benefícios para escolher onde trabalhar
Pesquisa mostra que os mais jovens priorizam bem estar e qualidade de vida; o salário até pode ser menor
Nataly tem hoje 33 anos e um filho de cinco pra criar. Além de mãe solo, dá suporte importante para a vida dos pais: ele com 83 anos, ela com 69. Natural que, na hora de escolher o emprego, considere esse conjunto de circunstâncias e opte pelo pacote de recursos de apoio ao trabalhador mais generoso oferecido pelos contratantes. Uma pesquisa realizada pela startup Swile, de origem francesa, apurou que as Gerações Z e Y são as que mais buscam benefícios flexíveis no trabalho: 38% dos jovens trabalhadores da Geração Z e outros 34,8% dos Millenials - a Geração Y. Mas não aqueles pacotes de benefícios tradicionais. É o que vamos ver ao longo desta reportagem.
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Nossa personagem é Millenial, integrante da chamada Geração Y, dos nascidos entre 1982 e 1994. Apelido eles têm, são os nativos digitais, aqueles pra quem a tecnologia é parte do dia-a-dia desde sempre. Ainda mais quando se trata das telas do computador, do celular. Por definição, os Ys não cresceram em meio à tecnologia e ao boom de comunicação promovido por apetrechos cada vez mais conectados, mas eles, sim, migraram para o mundo digital. Às voltas com um cenário de economia global mais restritivo do que o da geração de seus pais -- os baby boomers (nascido entre 1945 e 1964) e a Geração X (1965 e 1981) --, os Mills viram o mundo exigir deles diferente preparação para conseguir emprego: a concorrência cresceu e eles tiveram que assumir seus "corres" turbinados pra conseguir lugar no mercado. Foi pensando em novas possibilidades de benefícios que Nataly deixou recentemente o trabalho onde estava havia 4 anos para dar um "upgrade" na carreira -- e na vida. Tornou-se auxiliar de produção em uma empresa que faz e organiza material pedagógico. E respira aliviada.
"A cabeça foi mudando. Quando a gente é mais jovem não pensa tanto nisso, meio que vai na onda. Mais madura a gente tem que estar atento ao que nos deixa mais seguros " , Nataly Cristina Marsulo, auxiliar de produção
Aparente contradição
Mas, ao mesmo tempo, a geração dos Ys tem uma certa fama de querer resolver tudo no "toque na tela": a Revista Time, já em 2014, tinha chamado essa turma de "geração eu-eu-eu", pra conferir a eles um certo ar de narcisismo e de acomodação, funcionando mais na base do "controle remoto" do que da mão na massa. É como entender que é mais fácil para um Millenial se virar em segundos pra resolver uma demanda digital do outro lado do planeta, do que pra fazer o próprio café. Se é que eles tomam café...
Seja como for, a convivência com o ambiente veloz da tecnologia, principalmente na troca de informações sem limites ou fronteiras, faz com que as gerações mais jovens respirem certas temáticas globais com mais emergência e melhor absorção: a atualização dos aparelhos, a progressão dos sistemas informatizados e a multiplicidade dos aplicativos são apenas alguns exemplos. E que não se descarte o olhar em comum para a sustentabilidade e o bem estar. Mudanças climáticas e produção de alimentos estão no radar. Visto por essa ótica, fica mais perceptível o aumento do interesse dos jovens por condições de trabalho que levem em conta tais conceituações.
Dados e mais dados
No final do ano passado, a iStock, uma plataforma líder de comércio eletrônico que fornece conteúdo para pequenas e médias empresas, revelou novos efeitos da vida no local de trabalho e como eles impactam o engajamento dos funcionários mais jovens. O resultado mostra que cerca de 44% dos brasileiros da Geração Z e Millennials miram full-time um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal, enquanto a segurança no emprego é o foco de 22% deles. "É uma tendência internacional", sinaliza o professor titular da Faculdade de Economia da Usp, José Pastore, especializado em mercado de trabalho.
Segundo Pastore, os vínculos que os trabalhadores mantiveram ao longo de décadas com seus locais de trabalho não são os mesmos para as novas turmas de colaboradores.
Valor Presente
As questões relacionadas ao bem-estar no trabalho estão sendo observadas cada vez com maior frequência. Há pesquisas que permitem quantificar e qualificar a participação do conceito da "flexibilidade", aplicado à relação entre empresa e funcionário. "A nova geração, que está entrando no mercado de trabalho, já vem com demandas que priorizam o bem-estar. A flexibilidade já se tornou um desejo do trabalhador e um diferencial para as empresas que a oferecem. Com o novo cenário de mercado, assim que mais pessoas da geração Y e Z alcançarem as posições de maior influência nas organizações, este movimento deverá se intensificar", avalia Bruno Montejorge, VP de marketing da Swile Brasil.
A companhia é uma startup francesa que atua no país de origem e no Brasil, e que tem serviços adotados por 85 mil empresas, assistindo a 5,5 milhões de trabalhadores.Um dos carros-chefe é o cartão Swile Card, que pode ter até oito tipos de funcionalidade: em lugar de ser apenas um "vale-refeição", ele pode ser usado pra comprar combustível, pagar despesas de mobilidade, educação, home-office, saúde, alimentação, refeição e até receber créditos por premiação e incentivos corporativos. O fato de ter uma bandeira de administradora tradicional de cartão de crédito, transforma o plástico numa ferramenta múltipla para pagamentos e recebimentos. E isso acaba por fazer diferença para o usuário.
"Os jovens valorizam muito a qualidade de vida. Eles chegam a deixar uma oferta de salário em segundo plano e priorizam os benefícios. O que permitir a eles melhorar neste aspecto passa a ser priorizado. No mundo inteiro tem sido assim", José Pastore, economia da USP
A afirmação está em linha com o que mostra o Anuário de Benefícios Corporativos 2023, compêndio onde se incluem as pesquisas da Swile. O levantamento ouviu mais de mil empresas que assistem a mais de 1 milhão de colaboradores. Um dado impressionante mostra que até 63% dos funcionários trocariam de emprego por uma vaga com mais benefícios, mesmo pra ganhar menos.
Outro dado: 42% dos pedidos de demissão têm como motivo principal a busca por um pacote melhor de benefícios.
O objeto do desejo tem tudo pra ser um pacote que assegure mais autonomia na hora de aplicar os recursos em benefício do trabalhador ou de sua família. "Eles vão escolher se querem alimentação num percentual, refeição noutro percentual, auxílio homeoffice, educação, saúde ou até mesmo mobilidade. Ele pode fazer a distribuição disso num único cartão e em várias subcontas, que são segregadas", exemplifica Julio Brito, gerente geral da Swile Brasil. Confira no vídeo abaixo a íntegra da conversa do executivo com o SBT News.
No caso de Nataly, nossa personagem nesta matéria, a escolha por trocar de emprego levou em conta melhores alternativas de cartão alimentação e refeição, plano médico e odontológico. Mas não apenas isso. Com filho pequeno e pais idosos, a disponibilidade de tempo para cultivar a vida pessoal conta muito. E a nova empresa ofereceu facilidade de locomoção e até redução da carga horária, sem prejuízo do salário mensal.
"A jornada de trabalho sempre é longa, mas quanto mais benefícios que facilitem a vida da gente para passar mais tempo com a família, melhor. Eu nunca fui a uma festinha do meu filho. Agora posso ir" , Nataly Cristina Marsulo
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