Economia

Explode interesse por vinhos: "Todo mundo tem uma uva pra chamar de sua"

Média de consumo do brasileiro por ano é de 2 litros, mas potencial de crescimento é enorme, dizem especialistas

Muito fácil imaginar a cena de uma festa "viking" do cinema, com muitos e muitos canecões de cerveja espumando e derramando alegria em torno de alguma celebração. Mesma coisa para uma "horda" de torcedores de futebol antes, durante e depois do jogo do seu time - se vencer, comemora-se. Se perder, afogam-se as mágoas. O Brasil é mesmo um país bebedor de cerveja, pelo calor, pela vida a céu aberto e pela refrescância de sabor e de temperamento. Só que, de um tempo pra cá, entra em cena também a praia do Arpoador, no Rio de Janeiro - entre outras - ao fim da tarde, com cintilantes taças de cristal plenas de borbulhas de espumante pra acompanhar as palmas devotadas ao espetáculo do por do Sol: Viva!!!

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A mudança é no gosto, literalmente, mas também no comportamento de um número cada vez maior de pessoas. O espumante e o champagne de todo Ano Novo - sim, todo champagne é espumante, mas nem todo espumante é champagne - puxaram pelo gargalo o primo-irmão mais encorpado, e como nunca antes na história desse país enchem-se copos e mais copos para receber o puro suco das castas agora reconhecidas: carmenére, pinot noir, cabernet franc, cabernet sauvignon, malbec, tannat, merlot, syrah. "Antes o vinho tinha uma coisa meio esnobe, que afastava as pessoas", analisa a empresária, pesquisadora e estudiosa de gastronomia e de vinhos, Cristiana Beltrão. Que bom que isso passou:

" O vinho perdeu a bestice que fazia as pessoas terem vergonha de perguntar sobre a bebida. Hoje todo mundo se informa melhor e tem uma uva pra chamar de sua" - Cristiana Beltrão, pesquisadora em gastronomia.

Drink, Sir?
Mesa de restaurante na zona sul do Rio de Janeiro | Foto: Guto Abranches 

Beber para crer

Uma vez descendo redondo pela garganta dos brasileiros, o caminho aberto pelo vinho leva direto a um outro jeito de explorar o universo das garrafas recheadas de sumo de uvas sãs, frescas e maduras, como define a legislação brasileira. A correria da empresária Kellen Masuchette, dona da agência de viagens L'Unik Travel, taí para comprovar. Há quatro anos, quando ela começou a negociar pacotes para brasileiros que queriam conhecer as vinícolas chilenas, argentinas e uruguaias, levava pouco mais de 100 pessoas por ano para estes destinos. Hoje, o número mais do que dobrou: cerca de 250 viajantes partem do Brasil para bebemorar em terras hermanas. 

Tonéis
Barris de carvalho de vinícola em Mendoza, Argentina | Foto :L 'Unik Travel

Além da festa do sabor, os passeios tem como porta de entrada hospedagens em espaços completos em conforto e sofisticação. E, por mais que sejam inovadores, não perdem o charme do DNA de origem: o mundo do vinho. "Tudo gira em torno do vinho, que é um ótimo pretexto pra reunir amigos, familiares em torno de uma boa prosa num lugar aconchegante", classifica Kellen. Sem esquecer o investimento que as empresas do setor tem feito, pra gerar ainda mais negócios. 

"Antes o brasileiro ficava em média uma ou duas noites em Buenos Aires, e depois mais duas noites em Mendoza. Atualmente isso mudou muito, os receptivos dizem que estão recebendo cada vez mais clientes que já foram para o destino e voltaram de tanto que gostaram da experiência. Principalmente pela facilidade com os voos diretos de São Paulo a Mendoza, e agora as estadias giram em todos de, no mínimo, quatro noites, só lá " - Kellen Masuchette, empresária 

Hospedagem em vinícola na Argentina | Divulgação 

Ação entre amigos 

Mesa posta para almoços, jantares e degustações, os viajantes ainda têm à disposição uma série de passeios e atividades que literalmente fazem este mundo do vinho girar: circuitos para bikes, teste-drive de carros antigos, vôos de helicópteros sobre os parreirais. Tem até a chance de experimentar a combinação de uvas preferida, para elaborar o vinho com a cara e o paladar de cada um. Durante a viagem mais recente, o grupo levado pela empresária Kellen venceu um concurso de elaboração de vinhos. O resultado é o "Outono", que ilustra a foto de capa desta reportagem. A inspiração na paisagem e no clima à volta dos turistas é de beber com os olhos.  

Parreira em Mendoza, Argentina | Divulgação

Menos custo e muito benefício 

E ainda por cima, a economia ajuda. A realidade para a população de um país como a Argentina, no presente momento, torna o país "barato" para os turistas brasileiros. O melhor exemplo é o preço cobrado pelas garrafas da "bebida dos deuses": por um vinho de marca celebrada, que no Brasil custaria entre R$ 1.200,00 a R$ 1.800,00 a garrafa, na Argentina nossos forasteiros não pagam mais do que R$ 250,00. A cotação anda macia e harmonizada a nosso favor: US$ 1 é igual a 460 pesos; cem vezes menos que o real. Desculpa das boas pra muita gente querer trazer mais do que as 12 botellas permitidas para entrar no país. Tem jeito não: beba com moderação. 

Falando nisso, os números do consumo no Brasil revelam o quanto ainda há que crescer. Cristiana Beltrão calcula o consumo anual per capita em 2 litros. Algo como três garrafas padrão, de 750 ml cada. "Nossos vizinhos se servem de muito mais doses: 24 litros na Argentina e no Uruguai, por exemplo", aponta ela. Tem muito a ver também com a herança cultural, de países como Portugal, Itália e Espanha, onde o vinho é tratado como bebida 'alimentar': " No almoço, bebe-se vinho. Ninguém cogita beber outra coisa nessas nações", comenta Cristiana. O conceito ainda é pouco conhecido no Brasil, mas...vai que.

Até porque, se depender do ritmo de crescimento deste segmento da economia, o vinho tem mesmo muita chance de fazer parte do cotidiano de todo mundo. Há cerca de 25 anos, havia basicamente duas importadoras no Brasil. Hoje, são 750, calcula Cris Beltrão. Para não falar na expansão e qualificação das vinícolas que hoje existem na Bahia, no interior de São Paulo e em outras regiões do país. Taí mais um motivo pra gente torcer pelo crescimento da economia. "O nosso consumo per capita não vai ser igual ao de países que tem população pequena. Mas o potencial do Brasil é imenso", finaliza Cristiana. 

Veja aqui a íntegra da entrevista da especialista em gastronomia e "gostadora de vinho", Cristiana Beltrão:

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