Economia

Mercado financeiro vive altos e baixos com nomeações de Lula

Mercadante no BNDES e Gabriel Galípolo como número 2 da Fazenda dividiram opiniões dos investidores

Durante discurso na tarde desta terça-feira (13.dez) em que foram apresentados os resultados da transição, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou o nome do ex-ministro Aloízio Mercadante como presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O mercado financeiro já vinha considerando a possibilidade nos últimos dias e, com frequência, reagindo negativamente. Nesta terça, os críticos ganharam não apenas nomes para digerir. 

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Tornado oficial o nome de Mercadante para o banco de fomento, a consequência direta foi puxar para baixo o comportamento dos negócios. Um economista de peso que já integrou o governo federal anteriormente, fala em caráter de confidencialidade e é taxativo ao criticar a escolha: "Tudo o que não se quer é que seja um 'passo atrás ', um retrocesso na visão de política pública para a economia", sentencia ele. A lembrança da condução pelo BNDES da política orientada ao  intervencionismo, ao nacionalismo na alocação de recursos públicos é tudo de que o mercado financeiro quer distância. "Tudo o que não se quer é a política dos 'Campeões Nacionais'[ destinação de recursos do banco público prioritariamente a empresas capitalizadas e com acesso a crédito no mercado tradicional], dos subsídios nas taxas de juros de longo prazo como foi praticado anteriormente", alerta o executivo. 

E ele não está sozinho. Boa parte dos analistas e investidores do meio financeiro enxerga na "mexida" na Lei das Estatais um perigoso precedente, assumido para acomodar indicações políticas. Alterar a lei, via medida provisória, seria indispensável para permitir que Mercadante se tornasse presidente do BNDES. A legislação veta quem tenha participado de partido político ou da  coordenação de campanha política, por exemplo, dentro de um período de até 36 meses previamente à nomeação.

Diante de uma mera especulação quanto à mudança na Lei, o Ibovespa oscilou bruscamente durante todo o dia, até fechar em queda de 1,71% aos 103.540 pontos. No câmbio, o dólar que derreteu no cenário externo com indicadores de inflação mais suave nos Estados Unidos - o que sempre remete a menor pressão sobre os juros - acabou fechando em leve alta, de 0,07% , cotado a R$ 5,31 para a venda. " A queda do mercado de hoje é explicada pelo anúncio de Mercadante no BNDES, que implica em revisão da lei das estatais (artigo 17). Mercadante é um crítico da Taxa de Longo Prazo (TLP) e gostaria de expandir o papel do BNDES na economia", aponta Marcelo Freller, estrategista de tesouraria da XP. 

Vento a favor

Na prática, o dia nos mercados demonstrou atenção redobrada aos prós e contras das nomeações para a área econômica do governo. Não apenas pelos indicados em si, mas muito pela forma também como foram apresentados. Já no ínicio da terça-feira, o cenário nacional viu ganhar intensidade a chance de Fernando Haddad nomear o economista Gabriel Galípolo para ser o número 2 do Ministério da Fazenda: o secretário-executivo da pasta, um braço direito do ministro. Galípolo é considerado elo de aproximação entre Lula e a Faria Lima, o centro financeiro paulistano. Trabalhou na secretaria de Planejamento do governo José Serra, presidiu o Banco Fator e é visto como agente de bom tráfego nos ambientes público e privado. Vem se aproximando do núcleo decisório do Partido dos Trabalhadores há dez anos, e esteve presente como colaborador da campanha de Lula à presidência. O economista José Francisco de Lima Gonçalves, que trabalhou com Galípolo no Fator, não economiza nos bons adjetivos pra falar do novo secretário. " Sólida formação acadêmica, forte experiência no setor público em São Paulo. Notadamente em infraestrutura. Marcante passagem pelo setor financeiro, presidindo banco de investimento, sempre em projetos ligados à atividade produtiva. Gestor competente e inovador", diz Gonçalves. Ou seja, tudo a favor para cair no gosto do mercado financeiro. Só que.....

Fator Lula

Não apenas pelos nomes relacionados, mas também pela tom usado para definir os novos ocupantes dos cargos da economia, o impacto das nomeações chamou atenção. Foi o próprio presidente Lula quem fez questão de pesar a mão, ainda durante o pronunciamento sobre os resultados da transição. Citando especulações e descontentamentos em torno de Mercadante para o BNDES, foi enfático: " "Aloizio Mercadante, vi algumas críticas sobre você, sobre boatos que você vai ser presidente do BNDES. Eu quero dizer para vocês que não é mais boato: o Aloizio Mercadante será presidente", disse Lula. E não parou por aí. O presidente eleito desferiu ainda um petardo de grosso calibre em direção aos que se pautam pela orientação liberal para a economia: não deixou dúvidas, afirmou com todas as letras que " acabaram as privatizações nesse país. Já privatizaram quase tudo. Vai acabar e vamos provar que algumas empresas públicas vão poder mostrar a sua rentabilidade", emendou Lula. Aí sim, era tudo o que o mercado não queria ouvir. 

O que dizer e como dizer

Ao final da tarde foi a vez de Fernando Haddad anunciar os integrantes de sua equipe. Como esperado, anunciou Gabriel Galípolo como secretário-executivo da pasta. Indicação bem-recebida. " O anúncio de Galípolo como braço direito de Haddad não é visto como uma má notícia na Faria Lima.  O mercado tinha tudo para ter um dia positivo, com CPI [ inflação nos Estados Unidos ] abaixo das expectativas e dólar caindo forte contra o resto do mundo. mas....", condicionou Marcelo Freller, da XP. Haddad anunciou ainda Bernard Appy como secretário especial para a reforma tributária, outro nome que já era apontado como provável e que se viu confirmado. Ele é tido como quadro técnico dos mais especializados na área tributária. Appy foi anunciado com o Ibovespa já com operações encerradas. Veja abaixo, demais repercussões sobre os anúncios na política e as consequências no mercado financeiro. 

Rodrigo Moliterno, Head de renda variável da Veedha Investimentos - "A insistência com Mercadante dá sinais de ampliação de mais gastos 'parafiscais. É a política interferindo no Banco do Brasil, na Caixa Econômica. O mercado fica bastante desconfortável. Parece mais Dilma, com excesso de gastos do que com o primeiro Lula, que tinha austeridade fiscal, controle, com técnicos capacitados na equipe econômica. Há risco de os gastos saírem do controle no próximo governo".

Denis Medina, professor de economia da FAC-SP - "Não há nada claro do que se quer fazer. Só estão alocando pessoas que precisam acomodar políticamente. As leis que foram criadas para dar mais estabilidade a gente não vai ver serem respeitadas. A partir daí, não há limites do que possa ser feito a fim de atender a interesses de partido e não do Brasil". 

André Perfeito, economista - Gabriel Galípolo é experimentado no mercado financeiro, tem uma excelente interlocução com o seus participantes e deve ser um importante nome em passar ao governo as impressões do mercado sobre as políticas que serão implementadas. Sua capacidade de circular "entre mundos" é um ativo importante. Que o governo Lula não iria privatizar isso já era sabido. O governo do PT ficou marcado pela política dos campeões nacionais, política essa extremamente mal vista pela maioria dos participantes do mercado. Para além da leitura negativa desse período há um agravante: hoje o mercado de títulos privados é muitas vezes maior que foi no período do PT e se o BNDES entrar no mercado de maneira agressiva poderá desorganizar uma indústria inteira que foi construída nos últimos anos. 

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