Economia

Indústria teme desabastecimento em função de paralisações de caminhoneiros

Produção de veículos, fornecimento de combustíveis e oxigênio para UTIs correm riscos com bloqueios longos

Importantes entidades setoriais começam a coletar informações sobre as consequências das paralisações pelo Brasil. Fabricantes de veículos, empresas aéreas e químicas apontam problemas para a execução da rotina diária causados pelos bloqueios nas estradas. 

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Analistas de cenários econômicos associam o aumento do número de manifestações ao longo período de silêncio do presidente Jair Bolsonaro (PL) depois da eleição. A própria Polícia Rodoviária Federal, em entrevista coletiva nesta 3ª feira (1º.nov), apontou para um aumento significativo de ocorrências na virada de 2ª para 3ª feira. De fato, Bolsonaro só se manifestou pouco antes das 17h desta 3ª e por escassos dois minutos e meio. Se a um tempo não propôs qualquer contestação ao processo e ao resultado das urnas, de outro foi pouco enfático ao tratar a questão dos bloqueios. Situou o assunto na esfera do "nossas táticas não podem ser iguais às da esquerda", sem pedir que os manifestantes interrompessem os movimentos. Em alguns pontos do país onde ocorrem os protestos, a sutileza no trato do assunto por parte de Bolsonaro funcionou como uma espécie de "senha" para que os organizadores até comemorassem aos gritos de "não vamos mais embora". 

País afora

O resultado que já se nota, no segundo dia das paralisações, vai do receio com o suprimento de matérias-primas, insumos e equipamentos completos em importantes setores da economia, até projeções que soam como maus presságios: muito comumente os cálculos dos empresários -- pra não falar do consumidor pessoa física -- fazem lembrar a dura realidade vivida pelo país na greve dos caminhoneiros em 2018. Foram dez dias de paralisações que provocaram desabastecimento em inúmeros setores e que só cessaram após intervenções do Exército e da PRF para desbloquear as estradas.

Engrenagem

Não há, até o presente momento, sinais sequer semelhantes de tamanha crise no abastecimento. Mas que o cenário preocupa, preocupa. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), setor dos mais poderosos da indústria nacional, atesta que algumas ocorrências já estão comprometendo a atividade. Há falhas na entrega de itens de difícil estocagem que, em curto espaço de tempo, podem não permitir a conclusão de nenhum automóvel. Um exemplo é o recebimento de pneus, indispensável para qualquer veículo. Sim, porque os problemas não param nos carros. A crise pode, rapidamente, comprometer as produções de carros, ônibus, caminhões e máquinas agricolas. Segundo a Anfavea, "os problemas começaram na 2ª feira. Na 3ª, só pioraram", revela uma fonte das montadoras. E há ainda um fator que aumenta os riscos. Os profissionais das fábricas espalhadas pelo país começam a faltar ao trabalho por pura e simplesmente não encontrarem condições de deslocamento pelas estradas pra chegar às montadoras. 

Com o que rodar 

As reservas de combustíveis também são motivo de apreensão. Para os especialistas em observar o setor, existe um estoque normal que, entre a distribuidoras e os postos, permite uma folga de cinco a sete dias sem receber novos abastecimentos. Isso dependendo do tamanho da base de distribuição, de qual é a localidade e etc. Até lá, espera-se uma solução. Os riscos, no entanto, não podem ser desprezados também por conta da demanda do consumidor. 

" Existe, claro, a situação de que as pessoas vão para o posto, encher o tanque, por medo de ficar sem combustível. Daí esse tempo de segurança poder ficar um pouco reduzido. Isso pode acontecer. Mas como não é uma paralisação geral, estruturada, é difícil que a gente tenha um desabastecimento geral"
Smiley Curcio, Head da StoneX consultoria

E também não se trata de uma paralisação focada no combustível, como as manifestações de quatro anos atrás. Não há, na visão dos analistas, motivos para preocupação imediata.

Com o que voar

As empresas aéreas também temem a falta do querosene de aviação, em caso de protestos mais duradouros. E há o risco de um ou outro destino ser afetado já no feriado de Finados (2.nov). Além do transporte de passageiros propriamente dito, operações para conduzir orgãos para transplantes e envios de cargas estão ameaçados de não decolarem. A chegada dos trabalhadores das companhias aéreas aos postos de trabalho também estão sob observação, aponta a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).   

Ar pra respirar

As indústrias químicas admitem que o transporte de oxigênio pelas rodovias já está comprometido. Vários ramais da produção do setor manifestam preocupação. Notadamente as áreas que respondem por atendimento à saúde. Gases medicinais, insumos industriais, fertilizantes são diretamente afetados. O transporte de oxigênio líquido, destinado a clínicas e hospitais em atendimento a CTIs e UTIs, corre riscos. É o que aponta  a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

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