Economia

Ausência do auxílio emergencial gera preocupação para 2022

Especialistas em economia estão divididos quanto à melhora econômica

Apesar do otimismo, o início de 2022 é marcado por algumas incertezas. Para aqueles que, em meio às dificuldades econômicas, foram contemplados com o auxílio emergencial -- programa social criado durante a pandemia como meio de auxiliar famílias e pessoas em situação de necessidade -- a preocupação que fica é: como será 2022 sem o benefício?

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Segundo o Ministério da Cidadania, a primeira parcela do programa beneficiou mais de 39 milhões de famílias brasileiras, número que representa cerca de 77,2 milhões de pessoas, ou seja, 36,5% da população. Do total apresentado, 10,01 milhões já integravam o antigo Bolsa Família, benefício substituído pelo auxílio emergencial durante a pandemia e estendido a uma população mais ampla diante da maior crise humanitária e hospitalar dos últimos tempos.

Após 17 meses do benefício em vigor, no mês de outubro os contemplados receberam sua última parcela para que o programa desse espaço ao retorno do Bolsa Família, agora substituído pelo Auxílio Brasil. O alívio para aqueles já cadastrados no antigo programa social se tornou a preocupação para quem estava na dependência do auxílio emergencial e não possuía cadastro no antigo programa, criado pelo PT.

Maria Aparecida, atualmente revendedora de produtos do lar, comenta que, pouco antes da pandemia foi desligada de seu antigo emprego, precisando recorrer a outros meios de renda. Ela e o esposo José Luiz, ambos desempregados, relatam a importância do auxílio emergencial no período pandêmico. "O auxílio foi muito importante para que não passássemos fome e também fosse possível comprar os produtos que vendemos. No início, ficamos com medo de não conseguir (o benefício) porque nunca fizemos parte do Bolsa Família, mas deu certo", lembra.

Assim como a revendedora e seu esposo, muitas famílias também consideram que o programa foi de grande importância para evitar maiores problemas relacionados à fome no Brasil. No entanto, a preocupação com o que está por vir no neste ano se tornou intensa após o encerramento do benefício e, agora, com a descoberta da nova cepa ômicron.

"É difícil não pensar nas dificuldades que estão por vir. Já se passaram dois anos da pandemia e ainda não conseguimos um serviço registrado, nem eu nem ela. Faço alguns extras, mas não é algo certo. Temo pelo pior sem o auxílio", desabafa José Luiz.

Perspectivas

Diante do relato do casal, o SBT News procurou os economistas Pablo Spyer e Renan Gomes de Pieri para entender as expectativas econômicas para esse ano com a aprovação da PEC dos Precatórios, que possibilitou o aumento no valor do Auxílio Brasil, retirando auxílio emergencial de cena. Na visão de Spyer, "o novo programa pode ser um importante impulsionador de compras de artigos essenciais e redução de inadimplência em 2022".

Apesar da expectativa do especialista econômico, a realidade é outra. Famílias, grandes e pequenas, tendem a iniciar o novo ano já com duas preocupações: a economia e, consequentemente, a fome. "Precisamos acreditar no melhor, mas não é fácil quando já se passou necessidade e sabe que é doído. É impossível não se preocupar sem emprego e sabendo que não teremos ajuda do governo", comenta Luiz.

Já o doutor e mestre em Economia Renan Gomes de Pieri aponta que o Auxílio Brasil surgiu em meio à PEC dos Precatórios, que "dá um calote nas dívidas judiciais do governo. "Ou seja, isso piora o cenário econômico gerando uma situação de risco por parte dos empresários, aumentando as taxas de juros e reduzindo investimentos", avalia. Na opinião de Pieri, "a gente não tem perspectivas de que os preços voltem a cair rapidamente, então, a redução do poder de compra da população também vai ser um desafio".

Questionado sobre o caso de famílias não inscritas no antigo Bolsa Família, o economista Spyer afirmou que "o objetivo do Ministério da Cidadania é zerar a fila de espera do programa a partir deste mês, aumentando o total de beneficiários em quase 3 milhões, passando a abranger 17 milhões de famílias brasileiras".

Mas, afinal, o auxílio emergencial pode gerar impactos futuros na economia brasileira? Esse é um questionamento frequente sobre o benefício desde sua criação. De acordo com Pablo Spyer, "os programas sociais serão condensados no Auxílio Brasil e, pela extinção do programa, não espera-se que o mesmo tenha impactos futuros". Renan Gomes de Pieri também duvida que os acontecimentos de 2020 e 2021 possam influenciar a economia nos próximos anos. Essa influência, na visão dele, estará por conta do Auxílio Brasil.

Desafios

Enquanto o auxílio emergencial existiu, 600 mil notificações foram emitidas pelo governo por recebimento indevido do benefício por determinados indivíduos. Mesmo diante de um processo rigoroso de avaliação, servidores públicos com salários acima de R$ 5 mil foram contemplados com o programa. Na opinião de Spyer, essas fraudes não são incomuns. "Não só aqui, mas no mundo, em todo sistema governamental. O importante é que o governo detectou e notificou os que receberam recursos indevidamente para devolvê-los", diz o economista.

Para o doutor Renan Gomes de Pieri, "geralmente os programas demoram mais tempo para serem concebidos; são analisados, discutidos. Dada a urgência da pandemia, ele foi desenhado muito rápido, então com isso vieram falhas. Esse tipo de coisa que talvez seja justificado numa pandemia, não pode acontecer no novo programa -- Auxilio Brasil -- do governo". De acordo com o Ministério, mais de R$ 6,9 bilhões já retornaram aos cofres públicos desde a primeira leva de notificações encaminhadas àqueles beneficiários indevidos. Desta forma, o ano de 2022 já se inicia com duas certezas, sendo elas a dívida de determinados contemplados ao Estado e a incerteza econômica para os mais necessitados.

Questionado sobre o que os brasileiros podem esperar para 2022 na questão econômica, Renan Pieri foi categórico ao destacar que "a gente -- brasileiros -- tem vários outros desafios".

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