Economia

Os desafios para a criação de postos de trabalho em 2022

Especialistas avaliam desempenho do mercado de trabalho no próximo ano; indústrias devem fechar postos

O fim do auxílio emergencial, a aceleração da inflação e a falta de insumos enfrentada pela indústria contribuíram para a taxa de desemprego encerrar 2021 em uma patamar elevado (12,6%), no Brasil, e deverão ocasionar um cenário ainda pior, no território nacional, em 2022. Especialistas preveem que um aquecimento expressivo da economia demorará para acontecer e, portanto, milhões de brasileiros terão mais um ano difícil no que diz respeito ao trabalho.

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Segundo o PhD em economia e professor do Departamento de Economia da Universidade de São Paulo (FEA USP) Simão Silber, "a economia brasileira está caminhando para recessão, o que significa queda da produção e, portanto, um desemprego maior". Para ele, a indústria é o setor que fechará mais vagas no ano que vem enquanto não terminar a escassez de suprimentos, que é provocada, por exemplo, por uma paralisação na produção de componentes em decorrência de medidas restritivas adotadas para conter o avanço da covid-19.

Sem os componentes, empresas não conseguem completar produtos para vender, como carros, e ficam sem capital de giro. "Tem um atraso muito grande na entrega porque a liberação para embarque nos portos está muito mais difícil e, a cada surto da doença [covid], a Delta, a Ômicron, você recua e não consegue levar a mercadoria para outro país. Isso encareceu muito o custo de transporte, porque você fica lá, o aluguel do contêiner fica parado lá até poder carregar e, hoje, o contâiner da China com componentes eletrônicos, comparado com a média dos últimos anos, ele aumentou em dólar 225%, custa US$ 7,5 mil dólares pra você trazer um contêiner da Ásia", completou.

Mas a indústria não será o único setor a fechar postos de trabalho no ano que vem. De acordo com Silber, o de serviços será outro destaque nesse quesito, não só por causa da queda na produção nacional, mas também em razão do avanço da variante Ômicron do coronavírus, que, acredita o professor, levará a medidas de isolamento social que podem colaborar a um cenário em que menos pessoas trabalham e com menos consumo.

O PhD em economia e diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social), Marcelo Neri, faz uma análise similar. Para 2022, em suas palavras, "a tendência é que o desemprego piore, porque a gente está numa situação de inflação alta, a inflação [acumulada de 12 meses] está em 10,5%". "Isso aconteceu em 2015, o Banco Central teve que subir juros pra conter a inflação, isso aumentou o desemprego, então esse cenário que houve de 2015 até 2019, quando a inflação caiu de 10,5% para 4,5% é útil agora", pontuou.

Ainda segundo ele, o país vive uma situação de estagflação, ou seja, há tanto um aumento contínuo e generalizado dos preços como estagnação econômica. "Isso tem sido particularmente ruim para os pobres, tanto que o desemprego aumentou e vai aumentar mais na base da distribuição como a própria inflação tem sido mais alta nas camadas mais populares". Neri avalia, porém, que, com as flexibilizações de medidas restritivas em consequência do avanço da vacinação contra a covid, o setor de serviços se destacará na abertura de vagas.

"A agricultura, talvez, tenha um desempenho melhor, porque este ano foi muito afetada pela questão climática, e a indústria, que tem sido sempre um setor problemático, está tento problemas de peças, na linha de produção, tem esse desafio a ser vencido", acrescentou. Incerteza por parte dos investidores, causada pelo cenário de estagflação, pandemia e eleições, também contribuirão para o desemprego no ano que vem, de acordo com o diretor do FGV Social.

Fim do auxílio emergencial

A retirada do auxílio emergencial provoca fechamento de postos de trabalho porque o benefício funcionava como um estímulo para a demanda, segundo Silber e Neri. De acordo com o professor da FEA USP, "ao todo, no ano passado, mais de 60 milhões de pessoas receberam os R$ 600,00 [do auxílio], que é um tremendo aumento de renda temporária para as pessoas gastarem e teve mais demanda no ano passado". "Este ano, como foi menor, a demanda é menor, a produção vai ser menor e o desemprego maior". O Auxílio Brasil, que veio para substituir o benefício e o Bolsa Família, atende um número menor de pessoas do que aquele criado em razão da pandemia.

Melhora distante

Para Simão Silber, o desemprego só vai começar a cair de forma consistente, no Brasil, em 2023, e apenas "se o próximo governo se envolver com o programa de reformas que levem o país ao crescimento". "Caso contrário, nós vamos ficar nesses 'voos de galinha' aqui, dá uma recuperação e depois cai. A galinha tem uma aerodinâmica muito ruim, se você jogar ela para o ar, ela fica batendo asa, voa pena para tudo quanto é lado e ela e esborracha no chão".

Marcelo Neri, por sua vez, diz que 2022 será um período de "grande volatilidade, como tem sido nos últimos dois anos". "Talvez até menor, mas ainda assim problemática, e volatilidade é ruim para todo mundo também", concluiu. No início de dezembro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o Brasil entrou em novo cenário de recessão técnica.

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