Economia

Evergrande: entenda semelhanças e diferenças com a crise de 2008

Especialista explica o que é a crise da Evergrande e de que forma ela afeta a economia brasileira

As dívidas da empresa chinesa Evergrande, que tem mais de 1 mil projetos em andamento, deixaram o mercado financeiro mundial em alerta. Em entrevista ao SBT News, o economista Eduardo Hey Martins, da consultoria BMJ, afirma que a crise da companhia de construção se assemelha à crise financeira de 2008, considerada por muitos especialistas como a pior desde a Grande Depressão. 

Segundo Martins, no entanto, em relação aos impactos econômicos, o "Efeito Evergrande" será bem mais fraco. "Isso se dá pela forma como essa crise se originou. A crise de 2008, mesmo com sinais de que ia ocorrer, não levantou uma bandeira vermelha tão grande e passou despercebida. A crise da Evergrande já levantou uma grande bandeira em seu começo", explica. 

Outro ponto importante é que o maior problema Evergrande é o de renegociação de dívidas, enquanto que, em 2008, a crise foi causada pelo aumento nos valores imobiliários, que não foi acompanhado pelo aumento da renda da população.

A crise enfrentada pela empresa chinesa baseia-se em uma dívida de US$ 300 bilhões, com juros correndo acima da capacidade de pagamento. A instituição, no entanto, ainda pode ser socorrida pelo governo chinês. "A grande repercussão que está sendo dada pode ser considerada uma estratégia para que possa ser feita a renegociação dos pagamentos, com bancos públicos chineses em moeda local, o que difere bastante da crise de 2008 que já estava alastrada em diversos países e moedas conversíveis", pontua o economista. 

De acordo com Martins, para tentar contornar os efeitos da crise na economia, a China tentará regular os mercados de forma mais apertada. "Isso já era um interesse do governo chinês, que desde 2017 fala que casas são para morar, e não para especulação. A crise pode acelerar um processo de regulação desse mercado, que estava cada vez mais especulativo no país", afirma. 

Sinais de fragilidade 

Se a China demorar a decidir a forma com a qual lidará com a crise, alertas de fragilidade econômica podem surgir. Segundo o economista, há duas opções: 1) "Salvar" a Evergrande, o que pode sinalizar menos rigidez do governo quanto aos seus posicionamentos sobre especulação imobiliária. 2) "Deixar rolar", causando um possível descontentamento social no país. A reprovação interna, neste momento, é mais sensível para o governo chinês, que teme a ascenção de movimentos anti-governo mais amplos.

"Uma outra possível solução é a de que o governo passe parte das operações da Evergrande e de suas subsidiárias para outras empresas. Esse efeito acabaria gerando um menor ruído, mas tem uma operacionalização mais demorada", pontua Martins. 

Consequências para o Brasil 

O Ibovespa, principal indicador de desempenho das ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou o pregão da 2ª feira (20.set) com queda de 2,33% - aos 108.842,94 pontos. O resultado acompanha a preocupação internacional com a Evergrande. Os investidores temem um calote por parte da segunda maior incorporadora da China. 

Segundo Eduardo Hey Martins, a instabilidade continuará nos próximos dias, não só no Brasil, como no resto do mundo. A apreensão pela forma como o governo chinês irá responder tem pautado os investidores, que não veem saída até que a decisão seja tomada.

"O que já se tem como quase certo é a queda na demanda por commodities e consequentemente no seu preço. A China, como um dos maiores importadores de commodities do mundo e grande parceira comercial do Brasil nesse ramo, tem relevância o suficiente para que qualquer pequena variação acabe afetando o mercado mundial. O Brasil não será diferente e exportadores de commodities, em especial de minério de ferro, já devem se preparar para as consequências disso", alerta o economista. 

"O tamanho desse efeito não deve ser tão grande quanto a crise de 2008, mas no contexto de um país já fragilizado pela pandemia, isso pode afetar o número de postos de trabalho e o reaquecimento da economia", afirma Martins. "Por outro lado, a inflação pode se modificar. A redução no preço das commodities pode reduzir a escalada inflacionária que estava ocorrendo nos últimos meses, mas a crise também pode fazer com que o real desvalorize", completa.

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