De fato

ENGANOSO: Fala de Ibaneis confunde ao comparar feminicídios e suicídios

Governador do DF fez comparação em debate promovido na TV; afirmação foi feita após pergunta sobre crimes durante o seu governo

Paulo Leite01/10/2022 às 17:45

enganoso

ENGANOSO | É enganoso afirmar que a veiculação de casos de feminicídio induzem pessoas a cometer esse crime, como disse o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB) no debate promovido pela TV Globo, na última 3ª feira (29.out).

O QUE FOI INVESTIGADO? Fala do governador Ibaneis Rocha (MDB), candidato à reeleição no Distrito Federal, no debate promovido pela TV Globo na última 3ª feira (28.set), em que ele critica a divulgação de casos de feminicídios. Segundo ele, registros na imprensa de mulheres sendo mortas por conta do gênero não poderiam ser divulgados pois, assim como casos de suicídios veiculados na mídia, tais notícias podem incentivar a prática desse crime. Apensar da fala do emedebista ser verdadeira, e depois ele ter se retratado nas redes sociais, o feminicídio e suicídio são atos distintos.

Onde foi publicado: Twitter.

Alcance da publicação: No Twitter, até a tarde de sábado (01.out), uma postagem repercutindo a fala do governador tinha 260 retuites, 80 tuítes com comentários e 2.053 Curtidas.

O que diz o autor da publicação: Devido à repercussão de sua fala, o governador se explicou no Twitter. "Não comparo o crime do feminicídio ao ato de suicídio. Meu ponto pessoal é a divulgação dos casos. Acredito que a divulgação incentiva esse crime terrível. Mas, reafirmo, esta não é uma decisão para um governante e sim para ser discutida no Congresso Nacional."

Resposta do candidato a reeleição no DF, Ibaneis Rocha | @IbaneisOficial/Twitter

CONCLUSÃO DA INVESTIGAÇÃO

A fala de Ibaneis Rocha ocorreu após a candidata Keka Bagno (Psol) questioná-lo sobre casos de assassinatos de mulheres em seu governo.

"Só no seu governo mais de 90 mulheres foram vítimas de feminicídios. Em 2019, enquanto a Secretaria da Mulher só existia no papel, o senhor teve coragem de dizer que era lamentável (casos de feminicídio), mas que as mulheres não denunciavam seus agressores, que elas não deveriam usar o transporte pirata e que a imprensa não deveria noticiar os crimes", indagou a candidata.

Em resposta, o emedebista citou as realizações de seu governo no combate aos feminicídios e alegou que a veiculação pela imprensa desses crimes pode incentivar mais pessoas a praticá-los.

"Agora, eu tenho um questionamento pessoal, que eu espero que seja debatido em algum momento no Congresso Nacional. No que diz respeito à divulgação, nós já temos os casos de suicídios, que não são divulgados. Eu tenho para mim, é uma opinião pessoal, e que eu espero ver um dia debatida, no sentido de que possamos ter também o feminicídio, aí é debate para o Congresso Nacional, não sendo divulgado, pois para mim incentiva muito", respondeu.

Para o médico psiquiatra Leonardo Sodré, PhD em Psiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não é coerente comparar suicídio e feminícidio.

Segundo ele, atentar contra a própria vida é uma "emergência médica", e é um ato realizado sobretudo por pessoas com doenças mentais não tratadas e o feminicídio é um crime.

"Não vai ser deixando de falar que isso [feminicídio] ocorre que vai haver algum tipo de atitude de prevenção a esse tipo de crime", explica.

Além disso, ele diz que pessoas que cometem crimes de feminicídio, na maior parte das vezes, são indivíduos que já apresentam comportamento agressivo antes de cometer o assassinato.

O noticiamento de suicídios na mídia é um tema controverso. Não há proibições na lei que impeçam a sua veiculação, porém alguns veículos de imprensa e entidades médicas publicam regras. É o caso de um manual da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além disso, neste mês é celebrado o Setembro Amarelo, data de prevenção ao suicídio.

Ana Paula Antunes Martins, doutora em Sociologia e professora da Universidade de Brasília (UnB), explica que a relação entre a veiculação de um suicídio na mídia e o possível cometimento do ato por quem tem acesso à informação é estudo pela ciência. No entanto, não há informações suficientes para fazer essa correlação com crimes de gênero.

"Quando o candidato e governador fala que a divulgação dos feminicídios poderia aumentar o número de outros casos, refere-se a um fenômeno chamado "Efeito Werther", em que, por associação, as pessoas tenderiam a repetir o caso anunciado", afirma.

"Para o feminicídio, não temos dados suficientes para afirmar que o mesmo efeito ocorre. Então, cientificamente, eu diria que se trata de uma hipótese, que não foi devidamente testada pra que possamos afirmar que a divulgação de feminicídios aumenta os casos", prossegue.

Caso você esteja passando por um período difícil, procure atendimento psicológico. O Centro de Valorização da Vida (CVV) promove apoio emocional e prevenção do suicídio de forma gratuito, por meio do telefone 188 e também por chat.

Por que investigamos?

O SBT News De Fato é um serviço de checagem, verificação de fatos e educação midiática do SBT. O objetivo é investigar conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre as eleições estaduais de 2022. O vídeo verificado foi compartilhado e traz afirmações sem embasamento científico.

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>> Paulo Leite é jornalista no SBT DF e SBT News

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