De fato

Pesquisadores criam manual com dicas para escapar de teorias da conspiração

Público pode acessar "O Manual das Teorias da Conspiração" que está disponível de graça e em português

Você já deve ter ouvido falar em Teoria da Conspiração ou pelo menos conhece algum caso em que fatos históricos são desacreditados a partir de teses mirabolantes.

Saiba mais:

Difusores de ideias sem respaldo histórico ou científico se agrupam e, em alguns casos, exercem influência sob a opinião pública, como é o caso dos terraplanistas.

Em 2019, segundo o Datafolha, 7% da população brasileira acreditava que a terra era plana. A crença contrasta com uma constatação científica de mais de 500 anos.

O ex-presidente Donald Trump defendeu a ideia de que beber ou injetar desinfetante curaria a covid-19, o que prejudicou a saúde de várias pessoas que cairam nesta desinformação | Unsplash

Especialistas afirmam que teorias da conspiração aumentam em períodos de incertezas e dificuldades, como em desastres naturais e pandemia.

Um estudo feito em Portugal no ano passado constatou uma maior aceitação de teorias da conspiração relacionadas à crise sanitária entre as pessoas que têm as redes sociais como o principal meio de informação.

"Apesar de frequentemente ser formatada em uma narrativa aparentemente racional e até científica, esse tipo de "teoria" não está sustentada em pesquisa baseada na coleta e análise crítica de todas as informações e explicações disponíveis, na formulação de hipóteses e, finalmente, na proposição de uma teoria. Ao contrário, ela usa e abusa de diferentes 'falácias lógicas', isto é, argumentos falsos, mas com a aparência de verdadeiros", afirma Ricardo Figueiredo de Castro, professor associado de História Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Para 53% dos indivíduos desse grupo, o alarme social sobre covid-19 tem objetivos econômicos e políticos, contra 42,2% de aceitação entre pessoas que têm meios tradicionais como principal fonte de informação. 

Outro exemplo de teorias da conspiração envolvendo tragédia é o atentado às torres gêmeas do World Trade Center, em 2001.

Após o ataque terrorista, teoristas da conspiração, entre outras alegações, difundiram que o então vice-presidente americano, Dick Cheney, teria ordenado ao Exército que não recuperasse os aviões sequestrados.

Outra história mentirosa que provocou danos a saúde das pessoas, foi em meados de 2020, no auge da pandemia do coronavírus, quando o ex-presidentre dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu aos norte-americanos que se injetasse desinfetante com álcool poderia ajudar no combate contr ao coronavírus

"Vamos supor que conseguimos trazer a luz para dentro do corpo, através da pele ou de algum jeito. E julgo ter ouvido que iríamos testar isso também porque parece interessante. E veja o desinfetante, que consegue acabar com o vírus em um minuto. Deve ter alguma forma de injetar isso, quase uma limpeza para chegar aos pulmões", sinalizou líder americano.

A ideia não caiu bem na comunidade médica dos Estados Unidos, que considerou a fala "irresponsável". A falta de embasamento repercutiu em diversos setores. Stephen Hahh, que responde pela Administração de Remédios e Alimentos, um dos órgãos federais mais importantes do país, pediu que a população não siga a orientação de Trump enquanto uma das empresas que lideram a produção de desinfetantes no mundo, a inglesa RB, emitiu comunicado falando sobre os perigos da ingestão desse tipo de produto.
"É nossa obrigação esclarecer que, sob nenhuma circunstância, os nossos produtos devem ser administrados para dentro do corpo humano: seja através de injeção, ingestão ou qualquer outra via", disse. 

Após a fala, a cidade de Nova Iorque registrou um aumento no número de casos de intoxicação por desinfetante. Segundo a rede de televisão norte-americana NBC, o centro de controle de envenenamento da cidade recebeu 30 chamadas relacionadas aos produtos nas 18 horas seguintes após à sugestão do presidente -- o dobro dos registros que o mesmo periodo de 2019, quando 13 casos foram registrados. Entre os casos, nove envolviam o desinfetante Lysol, outros 10 eram alvejantes e 11 incluiam produtos de limpeza.

André Rabelo, mestre e doutor em Psicologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), explica que entender os fenômenos que não conclusões sobre o impacto das teorias da conspiração na sociedade.

"Hoje, sabemos bastante sobre as relações que as teorias conspiratórias têm com vários fenômenos, mas poucas explicações do porquê essas relações existem foram demonstradas de forma mais conclusiva", explica. 

Os pesquisadores Stephan Lewandowsky, da Escola de Psicologia Experimental da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e John Cook, do Centro para Comunicação das Mudanças Climáticas da Universidade George Mason, nos EUA, produziram "O Manual das Teorias da Conspiração", em que trazem dicas para desmistificar esse tipo de informação.

Livro está disponível de forma gratuita e em português. Clique na capa para acessar o arquivo pdf | Reprodução

No manual, os autores elencam e explicam as sete principais características do fenômeno: contradição, suspeita absoluta, intenção nefasta, algo deve estar errado, imune a evidências e reinterpretação da aleatoriedade.

Em relação à primeira característica  "contradição", os estudiosos afirmam que propagadores de teorias da conspiração podem acreditar em ideias contraditórias, como na teoria de que a Princesa Diana foi assassinada e, ao mesmo tempo, aceitar que ela forjou a própria morte.

"Isso ocorre porque o comprometimento dos teóricos com a descrença na narrativa "oficial" é tão absoluto, que não importa se o sistema de crenças é incoerente", explicam.


>> Paulo Leite é jornalista no SBT DF e SBT News


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