Coronavírus

Remédios contra covid-19: o que se sabe e o que dizem os especialistas

Cinco medicamentos contra covid já foram aprovados no Brasil; vacina ainda é melhor arma

Um novo remédio contra a Covid-19 foi anunciado na 6ª feira (1º.out). Graças aos bons resultados dos estudos clínicos, o molnupiravir, antiviral de administração oral, será submetido à avaliação de órgãos reguladores em todo o mundo. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela aprovação e pelo controle dos remédios para comercialização e uso no Brasil, vai avaliar a segurança e a eficácia do novo fármaco. Até agora, já são 5 tratamentos contra a doença aprovados no Brasil. Desses, 4 são anticorpos monoclonais e 1 é antiviral. O monulpiravir se enquadra no segundo grupo. 

Os anticorpos monoclonais são aqueles produzidos em laboratório para combater antígenos específicos, ou seja, os corpos estranhos que entram no organismo e causam alguma enfermidade. Medicamentos com essa tecnologia atuam impedindo que o vírus penetre nas células humanas.

Já os antivirais interrompem o processo infeccioso, de replicação do vírus. No caso do monulpiravir, por exemplo, o medicamento se insere em algumas partes do material genético do Sars-CoV-2, causando uma uma mutação. Essa mutação faz com que o vírus não se multiplique e impede que a pessoa evolua para fases mais avançadas da doença.

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"Ele é recomendado na fase mais inicial possível da doença, logo depois que o indivíduo é infectado", explica Márcia Abadi, diretora médica executiva da MSD, farmacêutica norte-americana responsável pelo desenvolvimento do antiviral. "É uma enorme satisfação poder contribuir em um cenário que, até então, a gente não tinha nada. Várias vacinas colaboram na prevenção, mas ainda não tínhamos um antiviral que fosse capaz de bloquear o agravamento da doença logo no estágio inicial dos sintomas. Esse será o primeiro antiviral oral contra a covid."

Segundo a médica, a nova pílula em desenvolvimento, que poderá ser ministrada em casa, respondeu bem em relação à eficácia contra as variantes Gama, Delta e Mu. Nos estudos feitos até agora, o remédio reduziu pela metade o risco de hospitalização ou morte em pacientes adultos com Covid-19 leve a moderada.

Testes no Brasil

No Brasil, os investigadores principais da pesquisa do molnupiravir são a pneumologista Margareth Dalcomo e o infectologista Julio Croda, ambos da Fiocruz. Os resultados dessa pesquisa serão submetidos, nas próximas semanas, à Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos Estados Unidos para alimentos e remédios. Logo depois, será a vez da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) receber o material da pesquisa. O objetivo é conseguir a liberação emergencial de uso do antiviral.

"Estou muito otimista, esse é um fármaco que atua no virus de forma muito inteligente, causa erro na estrutura do virus. Estamos em um caminho muito promissor nas pesquisas. E a vantagem é que são fármacos orais. Nós vamos poder tratar os 80% de pessoas que não dão entrada nos hospitais", disse Dalcomo. A pesquisadora informou que o Brasil é um dos países que participará dos testes de Fase 3 do estudo, com voluntários do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Amazonas.

Antivirais

Outro antiviral conhecido é o remdesivir, aprovado pela Anvisa como o primeiro medicamento para tratar pacientes hospitalizados com Covid-19. Diferentemente do molnupiravir, é aplicado na veia do paciente, e o uso emergencial foi aprovado em março deste ano pela agência reguladora.

No estudo apresentado à Anvisa, o antiviral apresentou, em alguns casos, toxicidade dos rins, mas a segurança e a eficácia foram aprovadas para tratamento em pacientes com pneumonia, que requerem oxigênio suplementar. No entanto, o remédio não é bem recomendado pelas autoridades de saúde.

"[Remdesivir] tem indicações muito específicas e é muito caro, tanto que a OMS [Organização Mundial de Saúde], no seu guia de tratamento, não recomenda usar esse antiviral em relação ao custo-benefício", diz o médico infectologista Julival Ribeiro.

Monoclonais

O primeiro tratamento com anticorpos monoclonais aprovado pela Anvisa para tratar a Covid-19 foi com os medicamentos casirivimabe e imdevimabe, da farmacêutica Roche. O casirivimabe e o imdevimabe foram concebidos para se ligarem à proteína spike do Sars-CoV-2 em dois locais diferentes. Quando as substâncias ativas se ligam à proteína spike, o vírus fica incapaz de entrar nas células do corpo.

Outros coquetéis monoclonais também foram liberados emergencialmente pela Anvisa, como o da farmacêutica Eli Lilly, o Regkirona, da empresa sul-coreana Celltrion Healthcare, e o Regn-Cov2, desenvolvido pela farmacêutica americana Regeneron. O último a ser aprovado foi o Sotrovimabe, da empresa multinacional britânica GlaxoSmithkline, mais conhecida como GSK.

Vacina: a melhor arma

Embora os medicamentos para tratar a Covid-19 representem avanços importantes no combate à pandemia, especialistas alertam que, de forma alguma, esses remédios eliminam a necessidade da vacinação em massa.

"As vacinas conferem uma defesa imunológica que é a mais eficaz em conter a progressão da doença, desde o primeiro contato com o vírus. Os medicamentos são um recurso para os casos em que a resposta imunológica do organismo já não foi capaz de conter a infecção em sua forma leve", explica a médica infectologista Valéria Paes. 

Além disso, os medicamentos disponíveis no Brasil não foram incorporados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, o uso torna-se limitado a hospitais particulares, por causa do alto custo.

"A melhor arma que nós temos chama-se vacina. As vacinas têm um impacto muito grande em reduzir o número de mortes e hospitalizações em casos graves, portanto, melhor ainda é prevenir do que curar depois que você pega a doença. Vale ressaltar que o redemsivir e os anticorpos monoclonais são muito caros, o que dificulta muito para quem acessa o serviço público", acrescenta o médico Julival Ribeiro.

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