Carolina Herrera e a simbologia opressora da vaidade feminina
Mulher PODE E DEVE envelhecer, como quiser. Mas sofre para encarar isso
"Apenas mulheres sem classe mantêm os cabelos longos após os 40 anos." A frase foi dita pela estilista Carolina Herrera, no começo de agosto, em entrevista a um jornal britânico. Na mesma edição, ela também condenou o uso de minissaias, biquínis e jeans por mulheres mais velhas.
A fala, carregada de preconceito, viralizou esta semana em algumas redes sociais, e várias famosas se manifestaram contra o pensamento da estilista, que é vista até hoje como uma referência de moda e elegância.
Herrera é apenas fruto do meio que frequenta há tantos anos. Uma ditadura da moda e da beleza que fomenta uma indústria milionária e aprisiona milhares de mulheres, de todas as idades.
Depois que ouvi falar do assunto, me dei conta da simbologia e da força que os cabelos femininos carregam. Vocês já observaram que grande parte das princesas e guerreiras dos filmes tem cabelos longos? Ex: Ariel, Rapunzel...
Já as megeras, bruxas e feiticeiras, têm os cabelos curtos ou cobertos e também são sempre mais velhas e menos "bonitas".
A influência desses estereótipos está enraizada na nossa cultura e na nossa forma de encarar a velhice. A mulher PODE E DEVE envelhecer, como quiser. Mas sofre para encarar isso.
Outro exemplo: até pouco tempo atrás, as âncoras de telejornal brasileiros usavam os cabelos bem curtos. Seria uma exigência das empresas para passar uma imagem de "credibilidade".
Os homens podem assumir o cabelo grisalho, a barba por fazer (que agora é moda), mas as mulheres, quando envelhecem na televisão, são facilmente substituídas por jornalistas mais novas. É duro, mas ainda é REAL.
Mesmo assim, observo uma maré contrária surgindo. Nas redes sociais, vários perfis de idosas fazem muito sucesso. Elas mostram o lado leve e feliz de aceitar a idade. Recentemente, algumas famosas também resolveram assumir os cabelos brancos.
Da bancada de um jornal visto por todo país, tenho cabelo longo, sorriso largo e irreverência. Até danço e canto. Tento quebrar estereótipos que nunca serviram para mim. E com a idade a gente escolhe as batalhas. Jamais seria amiga da Carolina Herrera. Quero fazer parte do bonde das "velhas" doidas e livres.
Torço para que a minha geração chegue aos 40, 50, 60, 80 anos, de cabelos longos, brancos, azuis, de jeans e mini-saia, brindando o protagonismo e a força da nossa existência com muita classe e sem opressão.