Os desafios jornalísticos na mediação de um debate
Entenda os bastidores de um debate e o jogo de cintura obrigatório para todo jornalista
Escrevo este texto do avião. Estou voltando para casa após viver a experiência de mediar um debate político pela primeira vez. Essa semana, quase todos os estados do país, promoveram debates entre candidatos ao governo. Estive no Amazonas, terra quente, de povo com sangue fervente, que também corre nas minhas veias.
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A cidade me recebeu como se já me conhecesse há anos. A gente é assim. Me vi neles e eles em mim. Conexão real e que colaborou para que minha passagem fosse repleta de deliciosas surpresas.
Mas vamos falar sobre tudo que senti nas duas horas mais tensas dessa viagem.
O clima dentro do estúdio é um pouco pior do que os quarenta graus de temperatura lá fora. Não no sentido literal, porque o ar-condicionado estava funcionando bem. Mas nessa hora, nem todos os rostos eram amigáveis. Nem o meu.
Assessores caminhando apressados, ajuste de microfones e cenário, reuniões com a equipe. Horas antes não tínhamos a confirmação da presença de todos os candidatos. E de fato, duas cadeiras ficaram vazias. Bom, "eles que perderam a oportunidade de expor ideias e conquistar o eleitor", pensei.
Seguimos o baile, entre entrevistas no camarim, passagem de roteiro, água para hidratar e áudio do filho no WhatsApp. Me preparo para enfrentar os leões dessa floresta até então desconhecida.
Quando a luz vermelha da câmera acende, a mágica acontece. Uma segurança urge no peito. "Também sou leoa", lembrei.
Olho nos olhos de cada candidato. Sigo meu roteiro. Começa o jogo de perguntas e respostas. No final do primeiro bloco, um candidato ficou sem responder, o que gerou uma confusão.
"Você está equivocada". Eu não estava. Mas fui induzida a duvidar da minha própria capacidade. Cedi, a contragosto.
Respirei fundo. Lembrei do motivo pelo o qual estava ali. Não poderia entrar no jogo que prejudicaria o andamento do debate. É muito fácil uma mulher ser taxada de desequilibrada e incompetentemente se ela não souber lidar com as emoções num ambiente dominado por homens.
A direção se reuniu com todos os assessores e resolvemos a questão.
Voltamos do intervalo. O debate seguiu. Precisei ser mais dura quando alguns tentaram desviar o foco dos temas que tinham sido acordados anteriormente. Endurecer para ser respeitada. Infelizmente aprendemos a ser assim.
Só consegui relaxar lá pelo quinto bloco.
No intervalo, comentei com todos que também era nortista e senti que a energia fluiu melhor.
Último bloco. Agradecimentos, alívio. A selva já não me parecia tão perigosa assim. Sobrevivi. A leoa aprendeu mais uma vez, que só se perde o medo estando na arena, enfrentando a si mesmo, controlando a mente e o coração. Volto orgulhosa de nunca ter abandonado as minhas origens. Meu sangue não é de barata, ainda bem.
Assista abaixo a íntegra do debate na TV Norte Amazonas: