Lula: "Eu queria saber por que o agronegócio gosta do Bolsonaro"
PT tenta conter mal-estar com ruralistas após proposta de regulação agrícola
Em meio a um mal-estar com o agronegócio, por causa de uma proposta de regulação do setor incluída no programa de governo do Partido dos Trabalhadores (PT) enviado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou preocupação, nesta 3ª feira (09.ago), com a proximidade dos ruralistas com o presidente Jair Bolsonaro (PL). O petista afirmou não entender o motivo de os agropecuaristas preferirem seu opositor.
"Eu queria saber por que o agronegócio gosta do Bolsonaro. Eu queria saber o que o Bolsonaro fez de bom para a agricultura. Nada! Eu duvido alguém dizer o que o Bolsonaro fez para o agronegócio", disse em evento na Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
O ex-presidente, ainda, afirmou que a última grande medida feita pelo governo federal para o setor foi em 2008, com a Medida Provisória que renegociou R$ 89 bilhões de dívidas ruralistas. "Se a gente não fizesse aquilo, quebrava o setor inteiro", avaliou.
Lula disse já ter ouvido como resposta a afirmação de que o problema teria sido com invasões de terra e respondeu que as terras ocupadas eram improdutivas. "Então eu pedi: me traga todos os endereços das terras produtivas que foram invadidas".
O ex-presidente também afirmou que quer avançar no diálogo com o setor, para desfazer algumas crenças. "Se criou um monstro, que nós queremos debater. Queremos apenas a chance de conversar com o agronegócio. Aqueles mais raivosos que tiver. Só precisa fiscalizar se não estão armados. O resto a gente vai conversar para discutir o Brasil", prometeu Lula.
A apreensão do ex-presidente pode ser compreendida em números. Dados de agregador de pesquisas apontam que nos estados que têm mais força do agronegócio, o presidente Bolsonaro tem a preferência do eleitorado. Por exemplo, os dados de junho e julho mostram Bolsonaro à frente em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná.
Bolsonaro critica regulação
Bolsonaro conhece a preferência neste eleitorado e tem expandido os contatos com o setor. Nesta 3ª feira (9.ago) esteve num evento na Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), na cidade de São Paulo, e aproveitou para criticar a ideia de regulação que apareceu no programa petista.
"Ninguém quer uma regulação da produção agrícola. Ele falou o milagre, mas não falou o santo. Além da regulação da mídia uma outra pessoa quer a regulação da produção agrícola. O que que é isso? Desestímulo. É o Estado interferindo, o Estado dificultando", afirmou o presidente.
Erro de revisão
Ciente do desconforto que o PT enfrentou com o setor com a informação sobre regulação, o coordenador do plano de governo petista, Aloízio Mercadante, alegou erro no texto e disse que a proposta de regulação não seria colocada em prática. "Não tem regulação da agricultura, isso não estava no programa e não vai ser introduzido sem um debate transparente e democrático com todos os partidos que compõem a nossa agenda. Foi um problema lá da comissão de revisão", apontou.