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Estudantes da Unesp denunciam professor por assédio sexual; docente nega

Alunos de Comunicação se mobilizaram em frente à sala onde o professor leciona, na 6ª feira (1º.jul)

Estudantes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru, denunciaram um professor do Departamento de Ciências Humanas por assédio sexual. Na tarde da última 6ª feira (1.jul), foram expostos cartazes pela universidade mostrando imagens de supostas conversas de conotação sexual entre o professor Marcelo Magalhães Bulhões e uma aluna. O docente nega as acusações. 

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Alunos dos cursos de Comunicação e Pedagogia, também na 6ª feira, às 19h, se reuniram em frente à sala onde o docente ministra uma de suas aulas para protestar contra o professor. Junto das manifestações, foram colados diversos cartazes nas paredes da instituição com mensagens pedindo que a universidade tome providências sobre o caso. Os estudantes também criaram uma petição pública para que haja a exoneração de Marcelo Bulhões. 

Cartazes em protesto contra o professor Marcelo Bulhões | Foto: Gabriela Armelin

A estudante do curso de Jornalismo Milena Vogado, que participou da manifestação, conta que cerca de 200 pessoas estiveram no local protestando contra o professor. Ela relata que o grupo de estudantes percorreu diversos espaços da universidade, sempre com um microfone aberto, permitindo que alunas se manifestassem e comentassem sobre as denúncias. 

Alunos reunidos em frente à sala onde o professor leciona | Foto: Gabriela Armelin

Alunos relatam que, apesar dos acontecimentos recentes, as denúncias contra o professor Marcelo Bulhões já acontecem há anos. Segundo uma estudante já formada em Jornalismo pela Unesp, que teve dois semestres do curso com o professor, as aulas do docente "sempre tinham conotação sexual". Ela diz que, assim que ingressou no curso, em 2016, alunas mais velhas já a alertavam sobre as condutas inapropriadas do professor, sempre ouvindo que "ele seguia essas meninas, dava em cima das meninas, e era mais com Jornal [curso de Jornalismo] e aí ele começou a dar aula em Relações Públicas e começou a seguir as meninas de RP também". 

"Ele era o professor conhecido por ser assediador de mulheres e por ter um grande trabalho", afirma a ex-aluna, que pediu para ter a identidade preservada. 

Milena, que ingressou no curso de Jornalismo em 2018, também expõe os avisos de outras alunas: "Elas, quando entraram na universidade, também já tinham escutado de veteranos a mesma coisa, que quando tiveram aula com ele, ele sempre fazia uns comentários de conotação sexual, usava exemplos sexuais, sempre pegava uma aluna de exemplo. [...] Às vezes ele fazia algumas piadinhas com alunas, sempre se referindo a relações, sempre deixava o ambiente da sala desconfortável". 

Segundo a Unesp, em 2017 foi instaurada uma apuração preliminar na instituição para investigar as denúncias de assédio sexual contra Marcelo Bulhões. A sindicância administrativa sobre o caso foi finalizada em 2018, indicando o arquivamento dos autos com recomendações. "Sendo a primeira delas direcionada ao próprio docente, para que venha captar as mudanças sociais e comportamentais da sociedade, para a devida adequação no ambiente de trabalho, abandonando eventuais atitudes ambíguas de tratamento pessoal com os alunos", afirmou a Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) no documento. 

O SBT News entrou em contato com o professor Marcelo Bulhões, que disse estar vivendo "um pesadelo" e negou as acusações, além de afirmar que as mesmas são "uma violência". Confira a nota do professor: 

Foi com estarrecimento que fiquei sabendo que cartazes falsos, forjados que foram afixados no campus com teor acusatório a mim. Estou ainda chocado.
De modo semelhante, foi com enorme e desagradável surpresa que em 2019, em postagem no Facebook, recebi uma acusação de assédio. Naquela altura, ao tomar conhecimento que um coletivo da Unesp havia feito acusações com esse teor, solicitei uma reunião com o grupo de alunas. Elas recusaram o diálogo. Solicitei essa reunião por, naquela altura, estar totalmente perplexo diante das acusações. Uma comissão de sindicância foi, então, constituída pela FAAC - Unesp. Após um processo de investigação, o arquivamento do processo se fez precisamente por afiançar que nenhuma ação do teor de assédio foi por mim cometida. No curso do processo, aliás, recebi depoimentos de incondicional apoio e elogio ao meu profissionalismo, escrito por dezenas de alunas que foram minhas orientandas (mestrado, doutorado e iniciação científica). Portanto, só posso afirmar que estou absolutamente estarrecido diante de uma situação que julgo absurda. Os cartazes, aliás, foram anonimamente forjados e afixados no campus.

Sou docente da Unesp desde 1994, ou seja, trata-se de 28 anos de trabalho em sala de aula, tendo atuado ao lado de milhares de alunos, sem que qualquer mínimo indício concreto do que se pode ser classificado como assédio possa ser apontado.

Atingem-me do modo mais vil.

Entendo que legítimas e importantes demandas da atualidade - luta contra o racismo, movimento feminista - têm produzido uma mobilização de empatia diante de causas de enorme relevo. Nesse caso, todavia, estou sendo vítima de calúnia, cuja propagação em tempos digitais é implacável.

Marcelo Bulhões.

Em nota, a Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação de Design (FAAC do câmpus Bauru da Unesp) afirmou estar acompanhando com atenção as manifestações que ocorrem nas redes sociais e nos cartazes dentro do câmpus. A instituição também disse repudiar toda e qualquer prática de assédio. Confira a íntegra da nota da FAAC:

A Unesp, câmpus de Bauru, vem a público informar que está atenta e acompanhando, desde a manhã desta sexta-feira, as manifestações que circulam nas redes sociais e em cartazes dentro do câmpus referentes à conduta inadequada por parte de um dos seus docentes.

Cabe esclarecer que em 2017 foi instaurada uma apuração preliminar de natureza investigativa a partir de denúncias de assédio do docente mencionado nos cartazes. Tal processo culminou em uma sindicância administrativa contra este servidor, finalizada em 2018. A comissão sindicante, à época, indicou o arquivamento dos autos com recomendações, tais como instauração de mecanismos para fomentar medidas educativas e elucidativas sobre assédio.

A Unesp vem desenvolvendo, desde então, ações efetivas de combate à violência, sobretudo ao assédio: Guia contra o Assédio (https://www2.unesp.br/Home/ouvidoria_ses/guia-unesp-prev-assedio-compactado-18fev2020-m501_u7_18022020160311.pdf); Aplicativo UNESP Mulheres (https://www2.unesp.br/noticia/36788/aplicativo-amplia-a-rede-de-protecao-as-mulheres-da-unesp) e Protocolo Institucional de Acolhimento às Vítimas de Violência Sexual (https://www2.unesp.br/Home/ouvidoria_ses/protocolo.pdf), entre outras.

A Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (FAAC) repudia toda e qualquer prática de assédio. A FAAC defende a dignidade humana e é pautada por princípios que visam garantir o respeito e convívio harmônico em quaisquer circunstâncias e locais, especialmente em sua ambiência acadêmico-laboral. Nesse sentido, afirma que não medirá esforços para colaborar com as soluções de qualquer fato oficialmente demandado, tomando as medidas cabíveis, seguindo os protocolos administrativos com ética, responsabilidade e transparência.

A FAAC reitera que toda e qualquer prática de assédio não é tolerada e ressalta a importância da formalização de denúncias, nos vários canais, como a Ouvidoria da Unesp, que inclusive pode garantir o anonimato, evitando a exposição de vítimas e cobrando da comunidade unespiana atitudes que correspondam aos valores sociais e humanos condizentes com a excelência dos serviços públicos prestados pela instituição.

www2.unesp.br/Home/ouvidoria_ses/guia-unesp-prev-assedio-compactado-18fev2020-m501_u7_18022020160311.pdf
 

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