Brasil

Artistas e amigos celebram legado de Elza Soares: "Mudou nossas vidas"

Cantora faleceu aos 91 anos, no Rio de Janeiro, de causas naturais

A cantora Elza Soares faleceu nesta 5ª feira (20.jan), no Rio de Janeiro, de causas naturais. Lenda da música brasileira e mundial, a artista deixa um legado não só no meio musical, mas na sociedade e no coração todos que tiveram o prazer de desfrutar da vida ao lado dela.

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Filho de Wilson Simonal, grande amigo da cantora, o músico Wilson Simoninha era afilhado de Elza, e revela uma história curiosa de como isso aconteceu. Ele fala sobre a importância dela em sua vida.

"Meu pai e Elza sempre foram realmente muito amigos. Na época eu estava nascendo, eles estavam muito próximos, e meu pai não chamou Elza pra ser minha madrinha, e ela não aceitou, brigou com meu pai e falou:' olha a madrinha desse menino sou eu, viu?' Então eu sempre falo, é a minha madrinha do coração", revela Simoninha ao SBT News.

"Ela sempre me me dava conselhos e alguns grandes conselhos que eu guardo, um especial que fez eu mudar a minha vida, tamanha a força e a experiência de toda a vida dela, todas as lutas e todas as dificuldades que ela passou e enfrentou, e mesmo assim era uma pessoa de uma generosidade e de uma luz sem igual", completa.

No carnaval de 2020, o artista homenageou Elza Soares junto com o bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, e fez o maior outdoor da América Latina para ela na Rua da Consolação, em São Paulo, considerada por ela a maior homenagem que ela recebeu na cidade em toda sua vida.

Simoninha fala também sobre o legado de lutas da artista, que sempre foi uma voz contra diversos tipos de injustiças sociais, como o racismo, o machismo e a violência contra a mulher.

Elza Soares era madrinha de Simoninha | Reprodução

"Eu acho que a história da vida da Elza é a história de lutas, de duras derrotas e de grandes e espetaculares vitórias e viradas na vida. Forjaram nela uma uma coisa que, obviamente, ela sempre teve, mas de uma força e uma verdade. Então quando ela fala sobre o racismo, quando ela fala sobre as mulheres, quando ela fala sobre a violência contra a mulher, as pessoas escutam, porque essa verdade, esse poder que ela que ela acumulou 91 anos de vida, eu acho que isso passava pras pessoas", diz o afilhado da cantora.

"Quando ela cantava, quando ela falava, todo mundo respeitava e entendia a força daquela mulher. A música brasileira perdeu uma artista única. Nunca mais vai existir agluém como Elza Soares, com uma carreira, com uma vida, com quantidade de músicase de experiências que ela pôde viver. Esses esses ídolos que estão partindo são únicos. A Elza é uma artista única e uma artista que vai estar pra sempre na história da música popular brasileira,que precisou a BBC de Londres reconhecê-la como a cantora do século pra aqui dentro do Brasil voltarem a prestar atenção nela. É triste como a gente trata às vezes a nossa cultura, mas ela está aí e ela é imortal. Viva a Elza!", exalta Simoninha.

Outro afilhado de Elza Soares é João, filho de Uli Costa, cantora da banda Sandália Preta, que trata Elza como uma entidade, embora ela não gostasse tanto de ser assim reverenciada.

"Sinto profundo respeito por Elza. Cantar ao lado dela sempre foi como estar perto de uma entidade, mesmo ela não curtindo quando eu falava isso pra ela. Sempre generosa e muito parceira, me falava sobre os desafios vividos por ser mãe e cantora, fase essa que em mim estava muito latente no momento em estivemos juntas em turnê. Tinha 28 dias que João, meu filho, havia nascido, depois de um tempo ela acabou se tornando madrinha dele.  Elza é a mestra maior, obra prima da natureza, atemporal e será recibida em festa ao Orum", diz Uli, também muito influenciada pelas atitudes de Elza.

"Toda coragem que ele teve na vida diante dos seus desejos de mulher, ao falar sobre as dores dos corpos pretos, ao falar sobre os acúmulos que a nossa sociedade prioriza diante de tanta miséria, isso tudo estava representado não só em seu repertório, mas no seu discurso diário. Isso é lindo e muito necessário, sinto que sempre me inspirei nesta coragem que ela transmitia. Sou uma mulher que veio da periferia, me identifico muito com ela por muitas coisas como o samba, o groove e principalmente estar aberta ao novo, transmutando", completa Uli.

Elza Soares fez turnê com o grupo Sandália de Prata | Reprodução

O produtor musical Daniel Ganjaman, que trabalhou com Elza Soares, relembra a originalidade da artista, que tinha uma habilidade única para interpetar suas músicas, e a importância do discurso dela suas obras.

"A Elza Soares é uma das artistas mais autênticas que o Brasil já teve. A forma com que ela buscava elementos de jazz, colocava isso no samba, a síncope que ela colocava na voz, a forma que ela batucava cantando junto com quem estava tocando com ela. Eu pude trabalhar com ela algumas vezes e sempre foi muito incrível ver essa forma muito unica de apresentar a intepretação. É completamente impossível a gente mensurar essa perda. Fica mais do que qualquer coisa a história e toda a obra da Elza Soares, que é uma obra extensa, maravilhosa e tão necessaria para o nosso pais e para nossa cultura", relembra o produtor.

"A forma que ela lidou com a história de vida dela, como ela trouxe pra arte dela e pro discurso que ela sempre teve na vida, é uma coisa muito única e importante. Uma mulher, aos 91 anos, cantar 'Maria da Vila Matilde', uma música que é praticamente um hino contra a violência domestica, acho que é um discurso tao contundente e tão necessário, partindo de uma mulher como ela, é fundamental pra gente entender as necessidades que a gente tem num país como o Brasil atualmente. Acho que o legado q a Elza deixa é uma existência muito necessária, muito fundamental e está sendo uma perda irreparável pra nossa história de país", completa Ganjaman.

Assista ao vídeo

O produtor cultural Eduardo Araúju, que trabalhou com Elza Soares por mais de 30 anos como maquiador, visagista, secretário, camareiro e tudo que se possa imaginar, era considerado o braço direito da cantora, e passou por muitos momentos bons e ruins ao lado da cantora. Entre as muitas qualidades dela, ele destaca a humildade.

"A Elza era uma pessoa muito simple. Ela ia do luxo ao simples. Ela gostava muito de comer quiabo, jiló, arroz queimado, mas também era uma pessoa que gostava de um bom filé mignon, de um bom salmão. Então, ela sabia degustar todos os pratos, sempre gostou de comer muito bem. Sempre prezou isso, sempre foi muito farta, cozinhava muito bem, adorava receber os amigos da casa dela", conta Eduardo.

"Ela era muito engraçada. A Elza ela tinha umas situações, ela tinha umas tiradas que a gente ria muito e ela não, e uma vez eu falei pra ela assim, 'Elza, você quase não ri, você quase não dá gargalhada'. Ela: 'é mesmo, nunca tinha notado isso'", relembra o amigo com carinho.

Eduardo se travestiu de Elza Soares em calendário | Divulgação

O empresário Pedro Loureiro, que trabalhava com a cantora desde 2015, quando ela lançou "Mulher do Fim do Mundo", relembrou emocionado o privilégio de conviver com Elza nos anos finais de sua vida e o aprendizado que teve com ela.

"A vida com a Elza foi um presente, foi uma coisa maravilhosa. Foram anos de muita alegria, muita felicidade. Nós éramos amigos, amantes, irmãos, pai e filha, mãe e filho. Ela era minha artista, ela era minha vida, ela era e continua aí conosco, foram anos lindos, eu sou muito feliz por ter desenhado essa retomada de carreira dela, a partir ali de 'Mulher do Fim do Mundo', e por ela ter conquistado tudo e tanto, se tornando a maior de todos os tempos".

"Essa essa Elza Soares. Eu aprendi vida com a Elza, ela ensinou vida pra todo mundo. Quem sou eu, né? Eu sou um um privilegiado de ter aprendido a viver com a Elza há seis anos atrás mais ou menos. Elza falou comigo assim, 'você vai mudar a minha vida e eu a sua'. E assim ela fez. Ela mudou nossas vidas, e não só a minha, ela mudou a vida do país inteiro, fez tudo. É um amor. Só quem conheceu a Elza no íntimo conheceu esse amor de pessoa, essa mulher que não tinha 'não' pra te dar. Sempre era assim. Como a gente sempre brincava, Elza não sabia brigar com ninguém. Ela sabia dar amor e compreender. Ela era essa mãezona, né? Esse Deus mulher, essa mulher do fim do mundo, do cóccix até o pescoço, que veio do planeta fome. Elza Soares".

Pedro Loureiro ao lado de Elza Soares | Reprodução/Instagram
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