Gilberto Gil participa da inauguração de estátua em homenagem a Itamar Assumpção

A cidade de São Paulo ganhou um novo monumento. Nesta 4ª feira (15.dez), a Prefeitura inaugurou a primeira estátua de um projeto, ainda sem nome definido, que visa homenagear personalidades negras consideradas referências na cultura brasileira. A de estreia foi dedicada ao cantor Itamar Assumpção, morto em 2003 em decorrência de um câncer. A obra de bronze, instalada no bairro da Penha, na zona leste, tem 1,80 m de altura e é a primeira de cinco que vão ser inauguradas no município. 

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Nascido em 1949, Itamar Assumpção migrou de Tietê, no interior do estado, para a capital na década de 70. Na cidade, se firmou como compositor e cantor na Penha, onde viveu por mais de 20 anos com a esposa e filhas, as também cantoras Serena e Anelis Assumpção. Ícone da música nacional, lançou, em 1980, o seu primeiro disco, Beleléu, Leléu, Eu, em parceria com a banda Isca de Polícia. O álbum, classificado como um marco da vanguarda paulistana, mistura gêneros estrangeiros, como Jazz e Soul, à MPB.

Antes da inauguração da estátua, uma missa ao artista foi realizada na Igreja do Rosário dos Homens Pretos, em frente ao Centro Cultural da Penha, onde a escultura foi fixada. A chuva não impediu que o local fosse tomado por populares. Ao final da cerimônia, o espaço, construído no século XVIII por descendentes de negros escravizados, foi tomada pela emoção da viúva de Assumpção, Elizena, que, segurando uma homenagem ao marido, fechou os olhos tentando conter as lágrimas.   

Do lado de fora, no Centro Cultural, uma exposição sobre a vida do cantor dava boas-vindas ao público. Entre fotos com a família e personalidades, documentos, como a certidão de casamento, e itens pessoais, incluindo o famoso óculos, circulava Leandro Junior, artista que assina a estátua.

Ao SBT News, Leandro, que também tem monumentos espalhados por Nova York, Belo Horizonte e Brasília, relatou ter ficado "muito feliz" ao ser convidado para dar forma à homenagem. "[O convite] veio para coroar todo um trabalho que tenho em prol da causa negra. Ter uma obra instalada na maior metrópole do país, de fato, me deixou muito feliz."

Ele relembrou o processo de produção da escultura: "Comecei lá no Vale do Jequitinhonha, minha terra natal. É uma obra modelada em uma argila natural da região. Após a modelagem, foi feita a fundição em Contagem (MG). A Secretaria de Cultura me colocou em contato com a família, que participou de todo o processo".

Emocionada, a filha de Assumpção, Anelis, discursou no palco do anfiteatro do Centro Cultural, relembrando o legado do pai e a importância dele diante da luta contra o racismo. "No ano de 2020, nós conseguimos inaugurar o Museu Itamar Assumpção, o primeiro em homenagem a um artista negro brasileiro. É ele quem rompe as matas sem ferir a floresta, trazendo o novo, o inédito, a esperança em acreditar neste país que invisibiliza e marginaliza homens e mulheres pretos", disse.

Um dos momentos mais aguardados pelo público foi a chegada do cantor Gilberto Gil. No auditório, o ex-ministro da Cultura foi o último a discursar, sob aplausos de quem assistia. "Uma artista para lá de artista. Um ativista. 'Artivista'. É o que é, é o que foi e continua sendo, por meio de sua obra e espírito, Itamar Assumpção. É o artista maior, o artista profundo com profundas responsabilidades com o seu povo, tradição, antepassados, futuro. Itamar Assumpção não está morto, nunca estará", pontuou o baiano.

A secretária de Cultura de São Paulo, Aline Torres, também estava no evento. "São Paulo é uma cidade de vanguarda, assim como o Itamar. Os nomes que representam esse projeto [das esculturas] foram escolhidos a partir de uma pesquisa sobre as personalidades negras que pudessem começar a contar a cultura afro-brasileira. Estamos começando com cinco, mas vamos espalhar a nossa história pela cidade inteira".

A inauguração da estátua foi a terceira etapa da celebração, que ainda teria uma tarde repleta de shows. A obra se juntou a outros 380 monumentos presentes na capital. "A figura do Itamar proporciona conhecimento, e merece ser conhecida e reconhecida, e, obviamente, ser homenageada como está sendo feito hoje aqui", exaltou Anelis.

O novo projeto relembra julho deste ano, quando a estátua de Manuel de Borba Gato foi incendiada por manifestantes. O bandeirante, por sua vez, esteve ligado à dizimação de povos indígenas e originários do continente africano durante o período colonial.

Aline Torres, no entanto, afirmou que o projeto encabeçado pela Prefeitura "não é uma resposta ao que aconteceu no Borba Gato", mas, sim, "uma resposta ao momento que a sociedade vive, ao momento que a sociedade tem, pela primeira vez na sua história, uma mulher preta secretária de Cultura, ao momento da sociedade em poder debater o racismo", enfatizou.

Ela agradeceu ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), destacando a atuação do poder municipal na valorização dos notáveis negros. "Eu não posso deixar de agradecer o prefeito Ricardo Nunes por ser um entusiasta em fazer de São Paulo uma cidade antirracista. Nós vamos, juntos, as pessoas pretas e não pretas, lutar contra o racismo."

Confira o calendário das próximas estátuas que serão inauguradas na capital paulista:

Geraldo Filme - inauguração até março/2022;

Carolina Maria de Jesus - inauguração até março/2022;

Adhemar Ferreira da Silva - inauguração até março/2022;

Deolinda Madre - inauguração até março/2022.