Comissão de Educação e Cultura discute sobre possível Carnaval em 2022
Presidente do Galo da Madrugada estima que 40 mil pessoas sejam afetadas caso o evento seja cancelado
As incertezas relacionadas ao Carnaval de 2022 em Pernambuco levaram à realização de uma audiência pública na Comissão de Educação e Cultura da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), nesta 5ª feira (10.dez). Em evento virtual, representantes do poder público e da sociedade civil apontaram a necessidade de se pensar um modelo alternativo de folia, coerente com o momento epidemiológico e atento às necessidades das cadeias culturais e produtivas envolvidas. O debate foi solicitado pelo mandato coletivo Juntas (Psol).
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A codeputada Carol Vergolino defendeu a participação coletiva na formulação de uma proposta que não exclua a população mais vulnerável, como trabalhadores informais e produtores de cultura popular. Segundo a codeputada, "o decreto do governo do estado em vigor permite eventos com até 7,5 mil pessoas". "Que espaço vamos disponibilizar para as festas populares e o público que não pode pagar?", completou. Para a parlamentar, a desigualdade social não pode ser repetida no Carnaval.
Já o Secretário Estadual de Cultura, Gilberto Freyre Neto, disse que a expectativa da Secretária de Saúde é apresentar definições sobre o evento na primeira quinzena de janeiro, com os dados epidemiológicos atualizados. No entanto, ele reconheceu a importância dos ciclos festivos para manter a vivacidade da cultura e o sustento dos trabalhadores. "Os R$ 74 milhões da Lei Aldir Blanc que Pernambuco ficou responsável por gerir, apesar de financiar uma quantidade enorme de projetos, não atende a todos", pontuou o gestor.
A entidade já está promovendo atividades culturais com medidas de controle sanitário, como os ciclos natalinos de 12 municípios. "É preciso pensar em um caminho alternativo para atender à demanda desse segmento tão importante", avaliou.
Da União dos Afoxés de Pernambuco, Fabiano Santos sugeriu a criação de uma comissão que envolva produtores culturais, autoridades da área de saúde e representantes do poder público a fim de elaborar esse modelo alternativo de festa. "Não podemos promover um apartheid no Carnaval, com eventos privados liberados e pequenas manifestações populares impedidas de acontecer. Ao mesmo tempo, não é concebível promovermos um Carnaval genocida", opinou Lindivaldo Júnior, do Comitê de Salvaguarda do Frevo.
Presidente do Galo da Madrugada, Rômulo Meneses estima que 40 mil pessoas sejam diretamente afetadas caso o bloco seja cancelado, sem contar os impactos no setor de turismo, como hotéis e restaurantes. "O que o Governo do Estado vai oferecer para a nossa categoria se não houver Carnaval?", indagou Luciana Mendonça, diretora da União Nacional dos Camelôs, Feirantes e Ambulantes do Brasil (Unicab). "Precisamos pensar de maneira horizontal para não fazermos uma festa racista e excludente", advertiu ainda Tássia Seabra, do Coletivo de Culturas Periféricas.
Saúde
Para a epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fátima Militão, "não há cenário seguro para a realização do Carnaval". A especialista disse compreender a preocupação da cadeia produtiva, mas alertou que o momento ainda é de incertezas. "Nossa cultura não pode ser homicida", opinou.
Também da Fiocruz, Paulette Albuquerque atua com a promoção de educação popular e saúde nas comunidades. Ela relatou uma difícil conjuntura de miséria na periferia do Recife. "Sabemos que a Covid-19 veio para ficar, e é possível que tenhamos que conviver com diversas variantes do vírus. É necessário criar um novo modelo que não puna quem mais precisa do Poder Público", frisou.