"Armas voltaram à pauta com Bolsonaro. Isso não é ruim", diz advogado
Em O gatilho da violência, Bruno Langeani lembra que 70% dos homicídios são causados por armas de fogo
Uma pessoa armada tem 56% mais chances de levar um tiro ao reagir a um assalto se o dado for comparado a alguém desarmado. Nos casos de reação armada, o número médio de vítimas é de 2,2 por ocorrência, enquanto que nos casos sem reação, o número cai para 1,5. Explica-se: todas as vezes que alguém saca um revólver ou pistola, seja para cometer um crime ou para se defender, a possibilidade de uma pessoa inocente ser baleada aumenta.
Tais números detalhados em pesquisas estão apresentados no livro Arma de fogo no Brasil - gatilho da violência (Editora Telha, 172 páginas, R$ 39), do advogado Bruno Langeani. Para ele, o tema das armas voltou com força no governo Jair Bolsonaro. "Isso não é ruim. A arma de fogo no Brasil responde por 70% dos homicídios. Então o país precisa estar discutindo armas de fogo de maneira mais central e de forma mais presente."
Não é difícil imaginar que o tema estará na mesa de jantar nas eleições do ano que vem, como ocorreu em 2018. "Mas por ora esse debate ainda é muito raso e muito deslocado das evidências que temos sobre isso. A discussão fica entre quem gosta e quem não gosta de armas, e isso não leva a lugar nenhum", diz Langeani. Assim, o livro do advogado, que é gerente do Instituto Sou da Paz, é tão necessário para quem não quer fugir ao debate.
Bolsonaristas argumentam que o referendo sobre as armas, em 2005, não foi posto em prática, afinal a população foi a favor do armamento.
O referendo discutia se a comercialização de armas no Brasil seria proibida ou não. E o que venceu foi a permissão de venda de armas, mas com controle, como a pessoa ser maior de 25 anos, passar por um teste psicológico, teste de tiro... Essa foi a vontade da população e as armas continuaram a ser vendidas, muito antes de Bolsonaro virar presidente do Brasil. Mas o que está acontecendo não é respeitar a votação, mas uma liberação muito acima do que está previsto em lei. Não estamos falando de uma liberação para um proprietário rural que muitas vezes está distante da polícia ou mesmo alguém que está ameaçado. Estão sendo liberadas armas que só as polícias ou os militares usavam. Então quando a gente fica nesse debate do "desarmar o cidadão de bem", sem olhar os dados, esse debate fica muito raso. O problema é que a gente está indo muito além na liberação.
E as pessoas não têm a menor ideia dos riscos que essas armas oferecem?
Exato, e são vários os riscos. E tem um segundo problema, mesmo as pessoas que não querem saber desse debate serão afetadas por essa política. Quando o Estado permite alguém sair armado e essa pessoas decide reagir a um assalto essa decisão não é apenas dela. Se houver troca de tiros na rua, que está passando será afetado. Os dados mostram que quem reage a um assalto tem muito mais chances de ser baleado, por isso o aumento o número de vítimas ao redor.