Métodos preventivos auxiliam na detecção precoce do câncer de mama
Segundo especialistas, diagnóstico tardio da doença impacta no tratamento, podendo ser mais árduo e invasivo
O câncer de mama é uma das doenças que mais atinge as mulheres no Brasil. Segundo um levantamento feito pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), a doença ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer no país, chegando a registrar 42 óbitos por dia. Este número, no entanto, pode diminuir através de métodos preventivos e acompanhamento especializado.
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"O acompanhamento clínico é importante para que o médico ou ginecologista possa solicitar a realização da mamografia anual, o que ajudará na detecção precoce da doença", diz a Coordenadora do Instituto Protea, Mônica Cavalcante, ao SBT News. Deste modo, "o início do tratamento se dará a partir de um nódulo menor, com menos impacto na saúde geral da paciente e com 95% de chances de cura", acrescenta.
A pedagoga Adriana Rachid, por exemplo, descobriu que estava com câncer de mama em junho de 2021, aos 34 anos, após fazer o autoexame. "Eu percebi um nódulo na mama direita e fui ao ginecologista no dia seguinte. Ele fez o toque e me pediu US de Mamas e Core Biopsy. Dias depois, o resultado: Carcinoma", revela Adriana. Para ela, assim como para muitas outras mulheres, o diagnóstico foi um choque. "Eu sabia muito pouco sobre a doença e carregava muitos estigmas. Meu mundo desabou."
Em agosto, Adriana foi submetida ao procedimento de quadrantectomia e retirou um nódulo de 2,6 centímetros. Agora, ela segue realizando o tratamento, que contará com quatro sessões de quimioterapia e 15 sessões de radioterapia. "O sucesso do meu tratamento se deve ao diagnóstico precoce", reforça Adriana. "Sigo firme, linda, careca, maquiada e com uma fé na vida inabalável."
Impactos da pandemia
Apesar dos exames preventivos serem essenciais, a pandemia do novo coronavírus dificultou o acesso ao acompanhamento clínico. Segundo o levantamento realizado pela farmacêutica Pfizer, divulgado na última 3ª feira (28.set), 47% das brasileiras não procuraram um médico para fazer o acompanhamento até setembro deste ano, enquanto 62% não realizaram os exames em 2020. Dados do DataSus, por exemplo, mostram que 1 milhão de mamografias deixaram de ser feitas durante o ano passado.
"Isso resultou em um aumento de 14% dos casos em 2021, havendo um especial incremento no número de tumores diagnosticados em estágios mais avançados, o que compromete drasticamente a mortalidade", enfatiza a doutora da Sociedade Brasileira de Mastologia, Larissa Cabral Marques. "Quando diagnosticamos o tumor em fases mais avançadas, temos um aumento no número de pacientes que precisam fazer quimioterapia e uma maior quantidade de cirurgias radicais", explica.
Mônica Cavalcante esclarece ainda que esses métodos mais drásticos impactam diretamente "em um tratamento mais invasivo e mais sofrido para a paciente", além de aumentar as chances de metástase -- disseminação do câncer para outros órgãos.
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Mesmo raro, o câncer de mama pode atingir também os homens. De acordo com o INCA, a população masculina representa 1% do total de casos da doença e o diagnóstico está, geralmente, ligado às síndromes genéticas hereditárias.
Há como evitar o câncer de mama?
Segundo Mônica Cavalcante, as estatísticas do câncer de mama mostram que 90% dos casos se devem ao comportamento humano. Por isso, como prevenção primária, é recomendado que as mulheres se alimentem de forma saudável, consumindo mais grãos, verduras, frutas, legumes e proteínas magras.
Além disso, a prática de exercícios físicos é fundamental para evitar o sedentarismo. Para a Dra. Larissa, o aconselhável é de 2h30 a 5 horas de atividade física moderada ou de 1h15 a 2h30 de atividade intensa por semana. Também é recomendado que as mulheres evitem o álcool e o fumo, e procurem aliviar o stress sempre que possível.
Já como prevenção secundária, é indicado o autoexame e o rastreamento mamográfico a partir dos 40 anos. Para pacientes que apresentem fatores de risco adicionais, como síndromes genéticas hereditárias, é recomendado que o acompanhamento médico seja iniciado mais cedo.
A doença, no entanto, pode ser imprevisível. Prestes a completar 29 anos, a administradora Martha Montero recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Ela detectou um nódulo na mama durante um autoexame e procurou a ajuda de especialistas, mas, pela idade, os dois primeiros médicos descartaram a hipótese de ser maligno. Somente após receber o resultado da biópsia ela obteve a confirmação.
"Tive medo de sofrer, porém nunca tive medo de morrer", revela Martha. "Posso dizer que o que mais influenciou no sucesso do tratamento foi o meu psicológico, a forma como eu decidi encarar aquela parte da minha história, e, claro, as pessoas ao meu redor."
Martha venceu o câncer de mama em 2018, mas continua em tratamento. "O meu tratamento é uma indução de menopausa, pois o tipo de câncer que tive era alimentado por hormônios, o que inclui ainda diversas reações", conta. "Essa é a parte mais longa do tratamento, que ainda vai durar 3 anos. Mas hoje, eu estou bem!"
A vida após o tratamento
O tratamento do câncer de mama é baseado em alguns critérios, como extensão do tumor e o subtipo da doença. Como estratégias de tratamento há cirurgias, quimioterapia, radioterapia, terapia endócrina e terapias-alvo.
Contudo, mesmo após o tratamento, é preciso continuar realizando o acompanhamento médico. Esse acompanhamento, segundo a Dra. Larissa, deve ser feito com uma equipe multidisciplinar (mastologista, oncologista, radio-oncologista, fisioterapeuta e nutricionista) através da avaliação periódica de queixas clínicas, exames físicos e exames de imagem.
"Geralmente, orientamos consulta com mastologista a cada 3 meses durante os 2 primeiros anos após o diagnóstico. Depois disso, a cada 6 meses até completar 5 anos e então anualmente", diz a mastologista.
A fotógrafa Cristiana Rodrigues, por exemplo, descobriu que estava com câncer de mama em agosto de 2019, aos 40 anos. "Eu nunca tive problemas de saúde, mas enquanto fazia o autoexame detectei um nódulo e procurei por atendimento médico."
Dois meses após receber o diagnóstico, Cristiana iniciou o tratamento. "Fiz quatro quimioterapias vermelhas e 12 brancas. Foi um processo bem doloroso, meu cabelo e todos os pelos do corpo caíram, tive aftas muito grandes, mas eu passei por tudo sempre acreditando que aquela era só uma fase na minha vida e que eu iria melhorar."
No início deste ano, Cristiana terminou o tratamento e agora segue com o acompanhamento médico regular, onde realiza exames e todos os procedimentos clínicos necessários. "Agora eu estou bem! O nódulo se desfez com o tratamento e eu precisei passar somente por uma cirurgia para tirar um quadrante da mama", conta. "Hoje, eu busco ajudar as pessoas que também estão passando pela mesma situação, sempre com incentivo e palavras de esperança."